Sinopse: Cagalera e Moloteco são dois amigos adolescentes que vivem na Cidade do México. Insatisfeitos com a difícil situação financeira que enfrentam, decidem tomar medidas drásticas e acabam se envolvendo com o mundo do crime.
O cinema autoral cada vez mais nos diz que vivemos tempos indefinidos, onde o capitalismo atual vive nos devorando, enquanto os ricos e políticos corruptos nos colocam cada vez mais na marginalidade e com poucos recursos. No recente "Coringa", por exemplo, vemos o homem comum sendo moldado por uma sociedade caindo em desgraça e se transformando no que os poderosos mais odeiam e tentam riscar da fase da terra. "Chicuarotes" segue uma premissa semelhante, onde dois jovens não enxergam nenhuma solução, a não ser cair na marginalização.
Em seu segundo trabalho como diretor, Gael García Bernal constrói uma história sobre dois jovens, Cagalera (Benny Emmanuel) e Moloteco (Gabriel Carbajal), que vivem em San Gregorio, bairro periférico da Cidade do México. Insatisfeitos com sua difícil situação financeira e status social, eles acabam se envolvendo com o mundo do crime ao executar pequenos delitos, na esperança de uma nova vida em outro lugar. Além das consequências de seus atos, os jovens precisam lidar com a falta de perspectiva na região e parentes abusivos que tornam a convivência no lar ainda mais problemática.
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Embora ainda com pouca experiência na direção, Gael García Bernal consegue obter a nossa atenção do princípio ao fim. Os primeiros minutos, por exemplo, sintetizam o que veremos mais adiante, onde vemos os dois protagonistas tentando trabalhar honestamente, mas saindo dos trilhos a partir do momento em que a sociedade os ignora. Uma ficção, mas não muito diferente do nosso mundo real.
Aliás, a Periferia que serve de cenário para a história, não é muito diferente de muitas de nossa realidade, onde a população é ignorada pelo governo e sendo obrigadas a criarem a lei do mais forte dentro daquele mundo isolado. O resultado é quase uma terra sem lei em pleno século vinte um, onde alguém que tem uma arma pode muito bem ditar as suas próprias regras. Obviamente, é nesse tipo de cenário que se torna fácil os protagonistas caírem no obvio, mas não deixando de sofrer determinadas consequências de acordo com os seus atos.
Tecnicamente o filme caminha de acordo com a direção em que os dois personagens irão trilhar. Se por um lado a direção de arte retrata a falta de recursos daquele lugar, a sua fotografia, por sua vez, nos passa certa esperança com as cores quentes e que saltam da tela. Porém, na medida em que os personagens centrais se encaminham para um determinado destino, as cores quentes dão lugar a um tom sombrio e nenhum pouco acolhedor.
Acima de tudo, são personagens que arriscam tudo para conseguir algum lucro e ter a chance de sair daquele cenário. Porém, o ato final serve mais para nos dizer que, quanto mais eles tentam, mais aquela realidade nua e crua os puxa de volta, pois já pertencem aquele lugar há muito tempo. Não há uma escapatória, a não ser aceitar com o que tem e lutar em continuar vivendo mais um dia.
Com alguns plano-sequência que se alinham com a tensão que a trama vai nos proporcionando, "Chicuarotes" é um filme nem um pouco acolhedor, pois ele simplesmente nos entrega o nosso mundo de hoje e sem nenhum glamour.
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NOTA: Filme exibido para associados e não associados do Clube de Cinema de Porto Alegre no último sábado (05/10/19) na sala Paulo Amorim, Casa de Cultura Mario Quintana.
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