Sinopse: Uma jovem vai com o namorado conhecer os pais dele em uma fazenda remota e embarca em uma viagem para dentro de seu próprio psiquismo.
Se você gosta de um cinema autoral, no mínimo, deve conhecer o diretor e roteirista Charlie Kaufman. Se consagrando como roteirista em obras incomuns como "Quero Ser John Malkovich" (1999), Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (2004) e "Adaptação" (2002), Kaufman se lançou na direção com o maravilho "Sinédoque, Nova York" (2008) e nos surpreendendo ainda mais com animação "Anomalisa" (2015). Portanto, se você já assistiu aos filmes citados, irá esperar tudo e muito mais em "Estou Pensando em Acabar com Tudo" (2020).
O filme conta a história de Jake, interpretado pelo ator Jesse Plemons do filme "O Irlandês" (2019), que decide levar a sua namorada, interpretada pela atriz Jessie Buckley da série "Chernobyl" (2019), para conhecer os seus pais. Os pais de Jake, interpretados pelos atores Toni Collette e David Thewlis, se apresentam de uma forma estranha para o casal. Ao mesmo tempo, um desvio inesperado transforma a viagem do casal numa jornada terrível rumo a fragilidade psicológica e pura tensão.
Charlie Kaufman gosta de brincar com a nossa perspectiva com relação a história e principalmente jogando na tela elementos para que formem um verdadeiro quebra cabeça. Se você assistiu, por exemplo, "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças", a sua jornada para compreender aqui essa nova obra poderá até ser facilitada, mas não se engane pelas aparências. Se por um lado não sabemos ao certo sobre o que realmente está acontecendo no princípio, ao mesmo tempo, Kaufman cria diversos diálogos entre o casal central, principalmente quando ambos se encontram dentro do seu carro. Devido a isso, além do filme pegar carona com o subgênero roadie movie, o cineasta ainda tem a capacidade de prestar uma hilária homenagem ao filme "Uma Mente Brilhante", mas isso falarei mais para adiante.
Para melhor entendermos os fatos há dois cenários que são as verdadeiras peças chaves da trama e dos quais são a casa e a escola. Na casa, aliás, conhecemos os excêntricos pais de Jake e que, novamente, Toni Collette nos surpreende pela sua grande atuação mesmo em poucos momentos de cena. Vale destacar que a relação entre os pais de Jake e ele são o estopim para, enfim, comprendemos o que acontece, mas cabe atenção redobrada para os cinéfilos de plantão de primeira viagem dentro do universo de Charlie Kaufman.
Com relação ao casal central, tanto Jesse Plemons como Jessie Buckley estão ótimos em seus respectivos papéis. Porém, Jesse Plemons se consagrada de vez com a melhor atuação de sua carreira, desde que o mesmo chamou atenção na reta final da série "Breaking Bad" (2008), mas obtendo o seu melhor desempenho aqui. Curiosamente, a sua atuação me lembrou muito do já falecido Philip Seymour Hoffman e fazendo eu desejar acompanhar a sua carreira ainda mais de perto.
Com relação a reta final, a escola tem um papel primordial dentro da trama. Pode-se dizer que ali há elementos que simbolizam as expectativas que pessoas tem sobre nós, mas que nem sempre conseguimos corresponde-las em vida. Ao fim da obra, ficamos pensando o que acabamos de assistir, mas logo então compreendemos que o filme não falava somente sobre os protagonistas ali, como também sobre todos nós.
"Estou Pensando em Acabar com Tudo" é uma verdadeira viagem sobre sonhos e desilusões, mas tudo emoldurado de uma maneira que nos faça pensar sobre o que acabamos de testemunhar.
Onde Assistir: Netflix.