Nota: Filme exibido para os associados no último sábado (21/05/22).
Sinopse: Raf e Julie, um casal prestes a se separar, estão em um pronto-socorro na noite de um grande protesto dos 'coletes amarelos' em Paris. O encontro com Yann, um manifestante ferido e furioso, vai chacoalhar suas certezas e preconceitos.
Em tempos atuais, em que a política mundial está cada vez mais turbulenta devido aos retrocessos pregados por alguns governos, isso acaba gerando um grande atrito dentro da própria sociedade e fazendo com que a mesma se dívida ao longo que o tempo passa. Porém, quando tudo sai controle, é notório que o lado humanista do ser humano acabe aflorando, pois se torna o único meio para não serem sucumbidos por tanto ódio. "A Fratura" (2021) fala sobre situações que, quanto mais se aperta, mais o ser humano terá a capacidade de se superar perante as adversidades insanas.
Dirigido por Catherine Corsini, o filme conta a história de Raf e Julie, um casal prestes a se separar, mas que se encontram em um pronto-socorro na noite de uma manifestação parisiense dos Coletes Amarelos. O encontro deles com Yann, um manifestante ferido e furioso, destruirá as certezas e os preconceitos de todos. Lá fora, a tensão aumenta. O hospital, sob pressão, deve fechar as portas. A equipe está sobrecarregada.
O primeiro ato começa de forma interessante, onde nos é apresentado o casal central, o manifestante dos coletes amarelos e a enfermeira do hospital que terá papel primordial dentro da trama. Cada um é apresentado de uma forma até mesmo bem humorada, principalmente o casal central, interpretadas pelas veteranas atrizes francesas Valeria Bruni Tedeschi e Marina Foïs e cujo os seus desempenhos cheios de energia acabam enchendo a tela. Porém, na medida em que a trama avança, principalmente dentro do hospital, o tom do filme muda e gerando até mesmo grande tensão ao longo que o tempo passa.
Embora os conflitos políticos sejam os catalizadores que levaram esses personagens a ficarem dentro desse cenário, o mesmo acaba se tornando secundário, pois quando as situações fogem do controle as opiniões e os atritos acabam sendo esquecidos, pois cabem essas pessoas se unirem antes que tudo mais piore. O personagem Yann, por exemplo, é o típico manifestante truculento contra o governo, mas que não esconde o seu lado doce no momento em que as diferenças não irão ajuda-lo enquanto não se prestar em ajudar aqueles que se encontram em uma situação até mesmo pior do que a dele. Interpretado pelo ator Pio Marmaï, esse personagem acaba adquirindo contornos dramáticos, até mesmo trágicos e fazendo com que nós, aos poucos, simpatizemos com ele como um todo.
Tecnicamente o filme é perfeito na questão de gerar em nós uma grande tensão na medida em que as manifestações nas ruas fogem do controle e ameaçando o ambiente daquele hospital onde se encontra diversas pessoas que precisam de ajuda. Do segundo ao terceiro ato final o filme acaba se tornando uma verdadeira montanha russa, claustrofóbica e fazendo a gente temer pelo destino daqueles personagens que nos simpatizamos ao longo da história. Destaque para enfermeira central da trama, da qual a mesma protagoniza um dos momentos mais tensos da trama ao lado de um enfermo completamente fora de si.
Ao final, nós constatamos que todos ali são iguais perante uma situação fora de controle e cujo os posicionamentos, sejam eles políticos ou religiosos, se tornam inúteis e cabe a razão despertar perante o lado truculento do ser humano. Infelizmente levará um bom tempo para a sociedade parar de se digladiar uns com os outros, mas até lá nunca é demais cada um dar o seu bom exemplo. "A Fratura" é sobre o humanismo se sobressaindo perante os conflitos gerados pela política e fazendo com que elas esqueçam as diferenças antes que sejam consumidas pela dor e a raiva.
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