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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Cine Dica: Em Cartaz: A LOUCURA ENTRE NÓS



Sinopse: Através dos corredores e grades de um hospital psiquiátrico, busca-se personagens e histórias que revelem as fronteiras do que é considerado loucura. Por meio de, principalmente, personagens femininos, o documentário exala as contradições da razão nos fazendo refletir nossos próprios conflitos, desejos e erros.

Após a década de 80, a saúde mental no Brasil  teve grandes avanços com o surgimento da RAPS (Rede de Atenção Psicossocial) para tentar extinguir os maus tratos e a política de prisão silenciadora dos manicômios. Mas infelizmente os mesmos ainda não foram totalmente limados, devido a uma série de interesses de empresários, políticos corruptos e, principalmente, da indústria farmacêutica que vive das custas de pacientes. Em sua estréia como cineasta, a diretora Fernanda Fontes Vareille cria nesse documentário de pouco mais de uma hora, uma câmera da qual representa a sua visão pessoal com relação ao que ela enxerga e revela o Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira (fundado em 1892) de dentro para fora, dando voz e um olhar especial a essa parcela da população que é muito pouco ouvida pela sociedade.
Por vários anos o louco foi retratado no cinema, fotografia e outras artes como alguém que tem que viver em lugar fechado, estereotipado, desacreditado, com sintomas muito mais latentes devido aos efeitos adversos das medicações fortíssimas e terapias desumanas como eletrochoque e lobotomia do que pela própria loucura. Porém, no filme, Vareille consegue mostrar a realidade da clausura de forma crítica, apontando os vícios do sistema e, principalmente, sua ineficiência.
Em A loucura entre nós são discutidos temas pertinentes a realidade das pessoas institucionalizadas como a autonomia que lhes é tirada no momento em que passam a viver num hospital, as dificuldades da família para o cuidado, agravada principalmente pela falta de conhecimento do assunto e pela própria situação financeira vulnerável; o impacto das medicações diárias e vitalícias na vida dos paciente; a subjetividade de cada um; o aspecto questionador da loucura – a medida que se passa a não mais fazer questão de seguir as convenções sociais – e, principalmente, humaniza a figura do louco através de suas vozes, canções, expressões e histórias de vida.
Os personagens reais do documentário revelam seus anseios, desejos e delírios de forma muito honesta, levando o espectador a questionar o que é a loucura e quais os impactos negativos do modelo asilar para o interno. As personagens mais fortes são as femininas que norteiam o filme de formas marcantes; alegres ou muito dolorosas, as vezes até fatais. Essa delicadeza do universo feminino, concomitante, com a força e fibra delas é o marco da narrativa. A fotografia é crua, onde a câmera é um personagem revelador, ele inspira confiança aos depoentes que a usam como um espaço para verbalizar suas angustias, desejos e alegrias. As grades do Juliano Moreira são palco de vários depoimentos espontâneos e momentos de cada um. Sua presença é muito forte no filme.
Infelizmente, os manicômios ainda são uma realidade e enquanto eles existirem, o tratamento psicossocial não alcançará sua máxima potência, por isso, esse filme é de extrema importância, principalmente nesse momento de tantos retrocessos políticos e econômicos para a saúde mental no Brasil. 



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Cine Dica: Sala P. F. Gastal recebe mostra Slovak Visual

PANORAMA DO CINEMA ESLOVACO NA SALA P. F. GASTAL
 
A partir de 28 de outubro, a Sala P. F. Gastal da Usina do Gasômetro (3º andar) recebe a mostra Slovak Visual, com um panorama de filmes da Nouvelle Vague dos anos 1960 e 1970 e de produções contemporâneas da Eslováquia. Com projeção em alta definição, a mostra tem entrada franca.
Com apoio da Sala P. F. Gastal e Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia da Secretaria da Cultura da Prefeitura de Porto Alegre, a produção é da Besouro Filmes em parceria com Avante Filmes. A produção da mostra é de Jessica Luz em colaboração com Germano de Oliveira, Leonardo Bomfim e Eva Pavlovičová. 
O texto de apresentação da mostra pode ser lido no catálogo disponível online: https://issuu.com/evapa7/docs/sv2016-catalogue

FILMES

ATÉ QUE ESTA NOITE SE ACABE
(Kým sa skončí táto noc), dir. Peter Solan - 1966 (91’)
Duas jovens, que depois de economizar o ano inteiro, aproveitam alguns dias de vida sem preocupações, dois encanadores sedentos de aventuras eróticas, um chefe de obra decidido a beber o salário de sua equipe, e um ex-prefeito, virado em alcoólatra devido aos jogos políticos. Todos eles se encontram em um bar nas Montanhas Tatras. Durante um noite, pouco a pouco, são revelados sonhos não concretizados, ilusões e decepções de pessoas "comuns" da sociedade daquela época.

PÁSSAROS, ORFÃOS E LOUCOS
(Vtáčkovia, siroty a blázni), dir. Juraj Jakubisko - 1969 (82’)
Embora situado em lugar e tempos indeterminados, 
seu mundo sem ideais, cheio de violência, cinismo e falta de esperança, relembra fortemente a atmosfera da Tchecoslováquia após agosto de 1968.

CELEBRAÇÃO NO JARDIM BOTÂNICO
(Slavnost’v botanickej zahrade), dir. Elo Havetta - 1969 (95')
Estreia do talentoso e prematuramente falecido diretor Elo Havetta, é uma colorida obra sobre a necessidade de milagres em nossas vidas.
Residentes na aldeia vinícola Babindol procuram na loucura um certo sentimento de felicidade e assim entram num dilema entre o sonho e a impotência contra o destino, que é uma contradição entre o desejo ingênuo de voar e a necessidade diária de cavar o chão para que o vinho nasça - bebida dos sonhadores.

RETRATOS DO MUNDO ANTIGO
(Obrazy starÈho sveta), dir. Dusan Hanak - 1972 (70’)
Uma das maiores obras da cinematografia eslovaca, ficou 16 anos condenada devido aos duvidosos critérios ideológicos e estéticos "normalizadores". Este documentário de notável sensibilidade e entendimento retrata como os antigos moradores da vila, aparentemente, vivem à margem da sociedade, em condições que fazem fronteira com a pobreza, mas em seu próprio mundo, muito peculiar.
Na obra inspirada por cinco ciclos fotográficos de Martin Martincek, cuja galeria de retratos expande com personagens adicionais, sobrepõe fotografias com imagens em movimento artisticamente criativas. Demonstrando uma visão não distorcida pela civilização dos indivíduos, Hanak tenta procurar respostas para questões primárias da existência humana.

O PEQUENO POLEGAR E OS BACILOS
(Janko Hraško a bacily) dir.  Viktor Kubal – 1974 (7’)
Estória na qual o Pequeno Polegar salvou pessoas do vírus da gripe.
CONTATOS
(Kontakty) dir. Jaroslava Havettová – 1980 (12’)
Sobre as fraquezas das pessoas, interesses e paixões, através do relacionamento entre as coisas.
O GUARDA-CHUVA
(Dáždnik) dir. Ondrej Slivka – 1984 (5’)
Um inventor pretende patentear sua invenção.

66 TEMPORADAS
(66 sézon), dir. Peter Kerekes - 2003 (86')
Um registro da piscina pública da cidade de Kosice, um local onde, de acordo com o diretor "a história costumava banhar-se". Através de fatos que aconteceram na piscina entre os anos 1936 e 2003, o filme captura 66 anos da história da Europa Central e Oeste.
  
ARSY-VERSY
dir. Miro Remo - 2009 (23’)
Vencedor de mais 36 prêmios, este curta documentário é um filme sobre uma mãe e seu filho Lubos.
Lubos fugiu do mundo cheio de pessoas para viver em simbiose com a natureza. A energia de vida do Lubos combinada com sua incrível empatia são retratadas pela fotografia amadora. Fascinado por morcegos, o único apoio que ele tem do mundo "real" é a sua mãe.

PANDAS
(Pandy) dir. Matúš Vizár – (2013) (11’)
Do jogo da evolução sobre descendentes passiveis de sobrevivência, surgem espécies cujo destino, herdado de seus antepassados, é questionável.

O LIMPADOR
(Čistič), dir. Peter Bebjak - 2015 (90’)
Funcionário de uma funerária, Tomas vive de limpar as casas onde pessoas ou animais faleceram.
  
GRADE DE HORÁRIOS
28 a 30 de outubro de 2016

Sexta-feira (28/10)
- 20h ABERTURA
Curta: Arsy-versy, dir. Miro Remo - 2009(23’)
Longa: RETRATOS DO MUNDO ANTIGO (Obrazy starÈho sveta), dir. Dusan Hanak - 1972 (70’)
*Após a sessão, debate com convidados da Eslováquia
- 22h30 FESTA em parceria com o Dia Internacional da Animação 
Local: OCIDENTE
Exibição de vídeoclipes animados eslovacos

Sábado (29/10)
- 15h
Curta: O pequeno polegar e os bacilos (Janko Hraško a bacily), dir. Viktor Kubal - 1974 (7')
Longa: CELEBRAÇÃO NO JARDIM BOTÂNICO (Slavnosti'v botanickej zahrade), dir. Elo Havetta - 1969 (95')
- 17h
Longa: 66 TEMPORADAS (66 sézon), dir. Peter Kerekes - 2003 (86')
- 19h
Curta: O Guarda-chuva (Dáždnik), dir. Ondrej Slivka - 1984 (5’)
Longa: ATÉ QUE ESTA NOITE SE ACABE (Kým sa skončí táto noc), dir. Peter Solan - 1966 (91’)

Domingo (30/10)
- 15h 
Curta: Arsy-versy, dir. Miro Remo - 2009 (23’)
Longa: RETRATOS DO MUNDO ANTIGO (Obrazy starÈho sveta), dir. Dusan Hanak - 1972 (70’)
- 17h 
Curta: Pandas (Pandy), dir. Matus Vizar (12’)
Longa: O LIMPADOR (Čistič), dir. Peter Bebjak - 2015 (90’)
- 19h
Curta: Contatos (Kontakty), dir. Jaroslava Havettová - 1980 (12’)
Longa: PÁSSAROS, ORFÃOS E LOUCOS (Vtáčkovia, siroty a blázni), dir. Juraj Jakubisko - 1969 (82’)
*Após a sessão, debate com convidados da Eslováquia
  
Sala P. F. Gastal
Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia
Av. Pres. João Goulart, 551 - 3º andar - Usina do Gasômetro
Fone 3289 8133

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Cine Especial: Cinema Explícito: Êxtase, censura e transgressão: FINAL

É amanhã que começa o curso Cinema Explícito: Êxtase, censura e transgressão, criado pelo Cine Um e ministrado pelo escritor e crítico de cinema Rodrigo Gerace. Portanto, eu encerro por aqui as minhas postagens especiais que antecede essa atividade. Contudo, gostaria de encerrar de uma forma especial e cutucando um assunto que aconteceu ainda neste ano sala do Cinebancários de Porto Alegre.

Foi no dia 27/06/16, e o filme em questão que estava sendo exibido era Queer Fiction, uma obra experimental, onde eram exibidas inúmeras situações onde o sexo explícito era o principal chamariz. O problema é que nem todo mundo estava gostando do que estava assistindo, ao ponto de alguns frequentadores se levantarem, pegarem o extintor de incêndio do local, jogando água nas pessoas que estavam assistindo e jogando até mesmo na tela do cinema e quase a danificando. Isso acabou gerando muita polêmica na época, por vezes, desnecessária.
Todo cinema que se preze é uma área cultural, da qual merece ser preservada e dando direito para as pessoas irem assistir os mais diversos assuntos. Infelizmente esse é somente um pequeno exemplo de como ainda existem pessoas que não conseguem debater determinados assuntos com a mente aberta e acabam respondendo com agressão e até mesmo destruição de patrimônio cultural. Querendo ou não, o sexo é algo que faz parte do nosso dia a dia e ele é praticado das mais diversas formas atualmente, assim como também é usado e inserido dentro da literatura, música e cinema.
Se você não gosta do que vê simplesmente saia, mas não destrua o que não é seu. Abaixo, segue a minha crítica sobre o filme que foi exibido naquela época e que dá uma dimensão dos motivos que levaram a esse protesto desnecessário.


 QUEER FICTION

Sinopse: Inúmeras tramas onde se explora inúmeras interpretações vindas do desejo do sexo.
Em 1996, David Cronenberg lançou Crash - Estranhos Prazeres, onde mostrava uma sociedade futurista, da qual provocava acidentes de carro propositalmente e para logo em seguida fazerem sexo em meio aos ferros contorcidos. Embora polêmico, o filme recebeu o Prêmio Especial do Júri em Cannes. No principio pode-se achar um tanto exagerado o fetiche retratado nesse filme, mas há pessoas que eu conheço, por exemplo, que fazem tatuagens no corpo unicamente para sentir prazer através da dor.
Essa relação de sexo ao estremo, dor e fetiche são vistos em alguns filmes até recentemente como Ninfomaníaca ou Anticristo, onde se explora o prazer, mas ao mesmo tempo a mutilação do corpo. Esses filmes e outros me vieram à cabeça ao assistir ontem no Cinebancários (27/06/16) o filme experimental, anarquista e pornográfico QUEER FICTION onde através de inúmeros contos se retrata todas as expressões do desejo ao extremo. Criado por cineastas e fotógrafos como Alexandre Medeiros e Daniel Selao, o filme é uma verdadeira mistura, desde contos vagamente lineares, para o surrealista e se aproximando até mesmo ao movimento cyberpunk. 
Com uma fotografia na maioria das vezes granulada, ou em preto e branco, as tramas não se passam numa cidade identificável e sintetizando um clima de cidade abandonada, ou livre para fazer quaisquer tipos de libertinagem. Não há exatamente histórias com começo, meio e fim, muito menos nomes ou conversas entre os personagens, mas sim o sexo puro explicitamente, moldurado de uma forma que possa ser apreciada, criticada e analisada por aqueles que procuram algo de diferente para ser visto. Uma espécie de Marquês de Sade contemporâneo, mas feito de uma forma amadora, porém com uma idéia na cabeça de provocar aqueles que assistem.
Na realidade não é muito diferente do que se vê num filme pornô caseiro, mas pincelado de uma forma que gere interpretações, como do real motivo dessa ligação entre pele e máquina, objeto e carne e por fim prazer e dor. Aliás, o filme é acompanhado a todo o momento por uma trilha sonora eletrônica pesada, inquietante e nem mesmo quando se toca Beethoven num determinado momento isso diminui essa sensação, pois o disco que toca o clássico cria um barulho que incomoda propositalmente. É um filme que incomoda, mas ao mesmo tempo se podem encontrar metáforas nas entrelinhas.
A cena (a mais polêmica da sessão de ontem) entre duas garotas vestidas de meninas e fazendo sexo com um urso de pelúcia, para logo em seguida esse último ser esfaqueado por elas, talvez  seja uma representação da transição, ou morte da inocência, para a vida adulta e estar a par dos desejos que sente em seu interior. Não é fácil é claro tirar uma base de tudo que se vê na tela, principalmente para aqueles que não se identifiquem com todos os atos sexuais imprevisíveis vistos. Portanto é um projeto para ser visto com a mente aberta, ou se chocar perante até onde os desejos da carne podem chegar.
Com inúmeras cenas que mais parecem quadros provocantes, mas em movimento constante, QUEER FICTION nasceu para chocar, mas com o fetiche de querer que a gente seja obrigado a pensar no que vê além da luxuria constante e que incomoda muita gente.  

Leia também: Parte 1, 2, 3, 4, 5 e 6
 
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