Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
Me acompanhem no meu:
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Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com
Há 125 anos, no dia 28 de dezembro de 1895, acontecia a primeira sessão pública de cinema, no salão do Grand Café de Paris, por iniciativa dos irmãos franceses Lumière. Na programação daquela noite histórica foram exibidos 10 curtas-metragens produzidos pelos próprios Lumière e projetados através do pioneiro e inovador Cinematógrafo.
Convencionou-se então que aquela data marcou oficialmente o "nascimento do Cinema" nos moldes que conhecemos até hoje.
Vida longa ao Cinema!
Fonte: Cine Um
QUE 2021 VOLTEMOS A NOS REUNIR
Não foi um ano fácil para mim e para muitos cinéfilos de plantão, já que devido a pandemia muitos cinemas ficaram fechados ao longo do ano e restringindo, enfim, o nosso prazer de curtir uma boa sessão de cinema. O novo ano que está chegando não nos traz ainda boas expectativas, mas ainda há esperança de colocarmos os pés em uma sala de cinema. O “novo normal” talvez não nos dê o mesmo frescor de tempos mais dourados em que nos reuníamos em uma sala escura, mas tenhamos fé que a sétima arte há de sobreviver aja o que houver.
Para isso é preciso defendermos a nossa cultura, enfrentamos a mordaça, enfrentamos o descaso deste desgoverno e exigir que voltemos a sonhar como um todo. Que a turma cinéfila das Cinematecas, por exemplo, volte a lotar as salas e provando que o verdadeiro lar de um filme se encontra na tela grande de um cinema. Que os festivais voltem a revelar novos talentos e nos brindando com filmes autorais e de grande prestígio. Acima de tudo, que voltemos a nos reunir para colocarmos vida nesta arte que tanto merece o nosso respeito e que a gente aprecia com muito gosto.
Feliz 2021 e que possamos sentir novamente a emoção e a surpresa de como os primeiros frequentadores de cinema se sentiram nas primeiras sessões há 125 anos.
Alguns acreditam que ele está morto, mas o nosso cinema é resistente, mesmo quando alguns dizem ao contrário. Logicamente vivemos tempos terríveis, desde ao fato de haver uma pandemia nos assombrando, como também um desgoverno liderado por um fascista, do qual atinge em cheio a nossa cultura e que tem o desejo de nos censurar a todo momento. Com esse cenário, temos ainda uma Ancine amordaçada, quase extinta e revelando um cenário ruim que não se via desde a época quando o governo Collor extinguiu a Embrafilme.
Mas a história provou que resistimos e ainda resistiremos. Enquanto houver essa resistência o cinema nacional continuará vivo, mesmo quando não houver o mesmo brilho do passado. O ano de 2020 deu para contar nos dedos os filmes nacionais que eu assisti, mas eles existem e eu compartilho com vocês. Nem todos possuem ainda as minhas críticas, mas muito em breve estarão por aqui.
O cinema nacional não morrerá, mas sim você Bolsonaro, nas mãos do seu próprio retrocesso, da sua ignorância e se afogando em suas próprias mentiras.
Confira a minha lista dos 10 melhores filmes nacionais deste ano.
1º "Babenco - Alguém tem que ouvir o Coração e Dizer: Parou"
"Babenco - Alguém tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou" não é somente uma declaração de amor a um cineasta, como também um exemplo na forma de melhor lidar com as adversidades que não nos mata e nos torna mais fortes na reta final da vida. Confira a minha crítica clicando aqui.
2º "Emicida AmarElo - É Tudo Pra Ontem"
É Tudo Pra Ontem" é uma bela aula de como se faz um documentário e que fortalece ainda mais a nossa cultura brasileira em meio a esses tempos nebulosos. Confira a minha crítica clicandoaqui.
3º "Fim de Festa"
"Fim de Festa" fala sobre um povo brasileiro cansado, mas que se vê disposto em seguir em frente mesmo em meio aos destroços. Confira a minha crítica clicandoaqui.
4º "Sete Anos em Maio"
"Sete Anos em Maio" é a síntese de um Brasil de 2020 dividido, preconceituoso e que passa pano para autoridade branca sem escrúpulos. Confira a minha crítica em breve.
5º "Açúcar"
"Açúcar" é um filme que fala sobre o passado que transita pelo presente e que a elite brasileira atual anseia pelo seu retorno infelizmente. Confira a minha crítica clicando aqui.
6º "Vento Seco"
"Vento Seco" talvez seja o último sopro de resistência e coragem vindo do nosso cinema brasileiro recente e cabe essa coragem ser repassada para aqueles que desejam passar a sua mensagem. Confira a minha crítica em breve.
7º "Volume Morto"
"Volume Morto" é uma pequena pérola do nosso cinema brasileiro atual e cuja a sua genialidade sobrevive mesmo em meio as limitações que nos encontramos atualmente. Confira a minha crítica em breve.
8º "Meio Irmão"
"Meio Irmão" fala de uma geração sem muitas expectativas, mas enfrentando os obstáculos para se encontrarem na vida. Confira a minha crítica clicandoaqui.
9º "Nóis Por Nóis"
"Nóis Por Nóis" é um retrato cru de uma geração abandonada pelo estado e tudo que resta é se protegerem uns com os outros. Leia a minha crítica clicando aqui.
10º "O Cemitério das Almas Perdidas"
"O Cemitério das Almas Perdidas" é prato cheio para aqueles que procuram um entretenimento puramente trash brasileiro e que não deve em nada para os gringos. Confira a minha crítica em breve.
Foi um ano terrível, tanto para aqueles que lutam para sobreviver, desde a enfrentar a pandemia devido ao coronavírus, como também para aqueles que apreciam um bom filme, mas viram os cinemas serem fechados. Devido a esse cenário o futuro do cinema é incerto, já que muitos dos grandes estúdios decidiram lançar os seus principais títulos via Streaming e colocando o nosso maior prazer em risco.
O cinema começou como uma arte em movimento, mas se tornando também um entretenimento para a massa como um todo e levando para as salas milhares de pessoas a cada ano. Com esse cenário, o cinema pode voltar ao status de arte em definitivo, já que pode correr o risco de não ser mais algo a ser apreciado por todos ao longo dos próximos anos. De qualquer forma, rezo para que eu possa voltar a uma grande sala de cinema, com a sessão lotada e sentindo vida dentro dela quando as pessoas aplaudem ao testemunharem um grande espetáculo.
Confira os melhores títulos internacionais de 2020 na minha opinião.
1º "Você Não Estava Aqui"
"Você Não Estava Aqui" é um retrato sobre nós mesmos sendo triturados pelo trabalho informal e que não nos dá nenhum direito de sonhar por um futuro melhor. Leia a minha crítica clicando aqui.
2º "Mank"
"Mank" transita entre o glamour e a podridão da era de ouro de Hollywood e fazendo a gente desejar que venham mais esqueletos saindo do armário ao longo dos próximos anos. Leia a minha crítica clicando aqui.
3º "Destacamento Blood"
"Destacamento Blood" fala sobre como as guerras de ontem e hoje são inúteis e tudo que resta é somente salvar o irmão que está em perigo logo a frente. Leia a minha crítica clicando aqui.
4º "A Voz Suprema do Blues"
"A Voz Suprema do Blues" é uma pequena jóia cinematográfica, da qual retrata uma época em que era preciso saber jogar para sobreviver, mas cujo esse jogo até hoje não encontrou o seu derradeiro fim. Leia a minha crítica em breve no meu blog.
5º "Retrato de Uma Jovem em Chamas"
"Retrato de Uma Jovem em Chamas" é sobre o começo e o fim de uma surpreendente história de amor e da união de mulheres que fazem a diferença quando estão unidas perante uma realidade não muito acolhedora. Leia a minha crítica clicando aqui.
6º "Borat Fita de Cinema Seguinte"
"Borat: Fita de Cinema Seguinte" é o filme certo na hora certa, em um ano em que temos um inimigo invisível e sendo esnobado por políticos que brincam com as vidas de todos os povos do mundo. Leia a minha crítica clicandoaqui.
7º "A Assistente"
"A Assistente" é um filme sobre o antes e depois dos escândalos recentes de Hollywood, mas que serve também como reflexão para que as mulheres não se calem perante os horrores vindo dos próprios homens. Leia a minha crítica clicando aqui.
8º "Estou Pensando em Acabar Com Tudo"
"Estou Pensando em Acabar com Tudo" é uma verdadeira viagem sobre sonhos e desilusões, mas tudo emoldurado de uma maneira que nos faça pensar sobre o que acabamos de testemunhar. Leia a minha crítica clicando aqui.
9º "O Homem Invisível"
"O Homem Invisível" fala sobre um assunto universal, onde as mulheres não devem recuar, mas sim enfrentar o monstro abusivo que deseja sempre as tratar como propriedades e não com humanidade. Leia a minha crítica clicandoaqui.
10º "Tenet"
"Tenet" é puramente Christopher Nolan e que fará com que os seus fãs se apaixonem mais, assim como os seus detratores que irão cada vez mais odiar. Leia a minha crítica clicando aqui.
Menções honrosas de última hora:
"Mulher Maravilha - 1984"
"Mulher Maravilha" - 1984" é ótimo por saber sintetizar o nosso desejo atual de voltarmos aos tempos mais coloridos, mas que para isso é preciso aceitarmos o que nós perdemos e assim amadurecermos para obtermos um voo mais alto. Confira a minha crítica clicandoaqui.
"Soul"
"Soul" é um filme que faz pensar sobre a sua própria vida, da qual não pode passar despercebida, mas sim sentida ao máximo e que faça valer a pena essa jornada como um todo. Leia a minha crítica clicandoaqui.
Merecem serem conferidos: "O Caminho de Volta", "Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre", "O Som do Silêncio", "Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica", "Você Nem Imagina", "O Diabo de Cada Dia", "Os 7 de Chicago", "O Que Ficou para Trás", "Aves de Rapina", "A Vastidão da Noite", "#Alive", "Magnatas do Crime", "Emma", "Viver Duas Vezes" "O Poço", Shirley, "Rede do Ódio", O "Dilema das Redes".
Sinopse: Avançando para a década de 1980, a próxima aventura da Mulher-Maravilha nos cinemas a coloca frente a dois novos inimigos: Max Lord e Mulher-Leopardo.
O ano de 2020 foi tão trágico que muitas pessoas desejam que ele jamais tivesse acontecido. Porém, desejar isso é o mesmo que mentir para nós mesmos, pois seria negar a própria realidade em que nós todos vivemos. Perdemos entes queridos, mas nós não podemos trazê-los de volta, mesmo quando o nosso coração deseja esse tal feito.
Realidade essa que ecoa até mesmo no cinema, mesmo que de forma indireta. Ainda levará um tempo para chegar filmes que retratem esse ano, mas já há alguns exemplos que são uma verdadeira metáfora sobre os nossos próprios erros que provocamos nestes tempos nebulosos. "Mulher Maravilha - 1984" vem justamente no encerramento deste ano complicado, mas nos passando uma mensagem positiva para nunca sermos mentirosos com nós mesmos e nunca desejar o que não pode mais ser alcançado.
Dirigido novamente por Patty Jenkins, "Mulher-Maravilha - 1984" acompanha Diana Prince/Mulher-Maravilha (Gal Gadot) em 1984, durante a Guerra Fria, entrando em conflito com dois grandes inimigos - o empresário de mídia Maxwell Lord (Pedro Pascal) e a amiga que virou inimiga Barbara Minerva/Cheetah (Kristen Wiig) - enquanto se reúne novamente com seu interesse amoroso Steve Trevor (Chris Pine).
O resumo acima é muito limitado se comparado ao filme como um todo, já que desde o início ele nos entrega um grande espetáculo, mas sem os vícios atuais do cinemão hollywoodiano. Embalado com uma majestosa trilha sonora de Hans Zimmer, o prólogo já nos pega desprevenidos, onde testemunhamos uma pequena Diana participando de um jogo Olímpico das Amazonas. Além de apreciarmos novamente a força dessas mulheres, Patty Jenkins novamente cria todo esse momento com um tom mais verossímil, nada muito exagerado, remetendo aos tempos de como se fazia grandes épicos e nascendo assim um grande espetáculo.
O filme avança no tempo e paramos justamente no ano de 1984, onde a reconstituição sintetiza uma época cheia de promessas, mas das quais ficaram muito mais em sua superfície colorida. Curiosamente, o filme vem justamente em um momento em que a nostalgia pelos anos oitenta se encontra um tanto que cansada, mesmo quando a própria nos é sedutora e nos fazendo desejar em querer retornar para aquela época. Isso tudo é proposital, já que o filme toca justamente em desejos inalcançáveis, mas que no fundo desejamos mesmo quando é impossível.
Os desejos é o que move os personagens principais da trama, desde a própria protagonista, como também os seus antagonistas interpretados por Kristen Wiig e Pedro Pascal. Esse último, aliás, poderia facilmente cair na fórmula fácil ao apresentar um vilão megalomaníaco dentro da trama, mas o roteiro colabora para nos mostrar um personagem cheio de camadas, movido pela frustração que carregou em vida e desejando sempre algo que não pode ser realizado. Pedro Pascal surpreende em um papel que poderia ter dado tudo errado, mas ao invés disso nos brinda com personagem trágico e bem construído.
O mesmo pode ser dito sobre Barbara, já que o desempenho de Kristen Wiig pode ser facilmente comparado com atuação de Michelle Pfeiffer em "Batman - O Retorno" (1992). De uma mulher frágil que era vítima do machismo, Barbara mostra a sua real face no momento em que realiza o seu maior desejo, mas pagando um alto preço para obter isso. O duelo verbal e físico entre ambas as personagens está também entre os pontos altos do filme.
Mas o filme pertence mesmo a Gal Gadot do começo ao fim dele. Embora ainda não seja uma grande atriz, é preciso reconhecer também que a moça nasceu para a personagem, pois ela nos transmite uma inocência há muito tempo perdida destas adaptações de HQ de super heróis para o cinema. Além disso, a sua interação com Chris Pine, que retorna como Steve Trevor, é algo que funciona de forma redondinha e que com certeza fará muitas jovens suspirarem devido essa relação tão complicada.
Complicada eu digo pelo fato de como Steve Trevor voltou a vida, pois a resposta está justamente no principal problema que move a trama. O principal vilão é justamente os desejos que se realizam, dos quais surgem para alimentar o anseio dos seus personagens, mas correndo o sério risco de tudo sair do controle. O filme não é somente uma metáfora sobre a busca da terra das oportunidades tão vendida por Ronald Reagan na época, como também ela se alinha em tempos de hoje em que a população cada vez mais se alimenta através da mentira e da qual precisa ser combatida.
Maxwell Lord, por exemplo, não é somente uma versão caricata de Donald Trump, como também de todos os líderes de hoje que vendem propaganda falsa através de fake news, mas alimentando os anseios de uma parcela do povo que não consegue conviver mais com a verdade, mas sim com o que eles gostariam de ouvir realmente. Um blockbuster que nos faz pensar, mesmo quando a sua proposta principal é somente entreter.
Tecnicamente o filme surpreende pelas cenas ação fluidas, das quais podemos ver sempre o que acontece e nunca sendo poluídas por efeitos digitais desnecessários. Se a cena de abertura das Olimpíadas das Amazonas nos tira o fôlego aguarde para cenas que remetem as raízes da personagem, desde a um velho transporte aéreo conhecido pelos fãs, como também testemunharmos finalmente a heroína voando. Aliás, atenção para essa cena, já que Patty Jenkins a faz com amor, com velhos recursos do cinema e que com certeza ela buscou inspiração no clássico e único "Superman" (1978).
"Mulher Maravilha" - 1984" é ótimo por saber sintetizar o nosso desejo atual de voltarmos aos tempos mais coloridos, mas que para isso é preciso aceitarmos o que nós perdemos e assim amadurecermos para obtermos um voo mais alto.
Sinopse: Joe Gardner é um professor de música e que ama o jazz. Quando um acidente o transporta para fora do seu corpo, fazendo com que ele exista em outra realidade na forma de sua alma, ele se vê forçado a embarcar em uma aventura ao lado da alma de uma criança da qual nem nasceu ainda.
A Pixar gosta de testar os nossos sentimentos, ao ponto de quase sempre fazer filmes dos quais nos identificamos. Não importa se o protagonista seja um brinquedo, ou peixinho, pois a jornada do personagem remete sobre a nossa própria do qual percorremos. Com "Soul" Pixar acerta de novo, só que em cheio e me fez pensar sobre a minha própria jornada que eu estou percorrendo.
Dirigido por Pete Docter e Kemp Powers, a trama de "Soul" fala sobre Joe Gardner (voz de Jamie Foxx) é um músico que, após um acidente, se vê de volta ao estado de alma, justamente no You Seminar, lugar em que as almas são formadas e recebem personalidades antes de serem enviadas aos corpos humanos. Ele precisa encontrar o caminho de volta com a ajuda de uma alma jovem, 22 (Tina Fey), que não tem interesse nenhum em vir para a Terra.
Embora com uma trama delicada sobre a vida pós morte, os realizadores foram engenhosos novamente ao criar uma trama que diverte a criança pelo seu visual colorido, mas faz com que o adulto pense sobre o tema principal da trama como um todo. Se em "Divertida Mente" (2015) o filme possui um criativo visual sobre a nossa mente, por outro lado, "Soul" possui cenários grandiosos, onde o You Seminar é diferente de tudo o que já foi mencionado sobre as etapas de pré e pós vida. Neste primeiro caso, o roteiro usa elementos que remetem as antigas histórias que os nossos pais e avós nos contavam sobre o que nós éramos antes de nascermos e se tornando o ponto de ignição da trama a partir desse momento.
Mas diferente do que se imagina, o filme não se prende nas questões sobre o que há além dessa vida, mas sim dela própria. Joe Gardner lutou a vida inteira para ser um pianista de jazz, mas não se dando conta que o seu sonho já havia sido alcançado há muito tempo. Por conta disso, a sua vida havia passado e quase se esquecendo do que havia de mais precioso. Tudo isso é despertado graças a personagem 22, sendo que a própria precisa de motivações para nascer em nosso plano e fazendo com que ambos os personagens aprendam um com o outro.
Como todo bom filme da Pixar, o filme nos encanta com passagens que não precisam de nenhum diálogo, mas sim de cenas que nos passa a proposta principal da trama como um todo. A cena em que Joe Gardner olha para trás sobre a sua vida através da música com certeza entra facilmente para um dos melhores momentos do cinema de 2020. Além disso, atenção para uma frase filosófica sobre a jornada de um peixe e que me fez pensar a noite inteira sobre a minha própria vida sobre como ela foi e como ela vai ser.
"Soul" é um filme que te faz pensar sobre a sua própria vida, da qual não pode passar despercebida, mas sim sentida ao máximo e que faça valer a pena essa jornada como um todo.
Em tempos nebulosos é preciso revigorar as nossas esperanças para um futuro luminoso. Para isso deve-se manter o que havia de bom em nosso passado e trazê-lo para o nosso presente como um todo. Nesta noite de natal trago algo nostálgico, nos tempos em que o natal era mais colorido e mágico.
Confira abaixo o clássico "A Rena do Nariz Vermelho" (1964).
Sinopse: O documentário mescla animações, entrevistas e cenas dos bastidores do álbum Amarelo, do rapper Emicida lançado em 2019. Ao mesmo tempo, conta história da cultura negra brasileira nos últimos 100 anos.
Por mais que a gente aprecie monumentos históricos de nossa arquitetura é preciso lembrar também que muitas delas foram levantadas por sangue de escravos, que foram retirados há muito tempo de suas casas para servirem ao poderio do homem branco. O tempo passa, mas a história é implacável contra aqueles que se achavam os donos do mundo e valorizando o povo negro que colaborou na construção da cultura brasileira como um todo. "Emicida AmarElo - É Tudo Para Ontem" (2020) não é somente um mero documentário, como também recapitulação de nossa história e da qual merece ser apreciada.
Dirigido por Fred Ouro Preto, o documentário explora todo o processo de criação do projeto AmarElo, do músico e militante negro, Emicida. Criado em estúdio, AmarElo foi apresentado no Theatro Municial, em São Paulo, 2019, em um show que abordou a história da cultura negra no Brasil.
Quando nós achamos que iremos ver um documentário sobre a vida do cantor, eis que ele nos brinda com uma verdadeira aula de história, nos mostrando as raízes do rapper assim como do próprio samba. Com isso, temos o direito de degustar de várias cenas, onde nos é apresentado grandes artistas das mais diversas áreas, sendo que todos são homens e mulheres negras que a classe conservadora branca tentou silenciar, mas não tendo força o suficiente para manter. Se formos resumir, o documentário é uma verdadeira árvore genealógica com diversos talentos e que cada um deles serviu de inspiração para os talentos que viriam a nascer no futuro próximo.
Tudo isso apresentado em meio ao cenário da cidade de São Paulo, da qual a sua história foi erguida com diversos talentos, sendo o mais representativo pelo arquiteto Joaquim Pinto de Oliveira, mais conhecido como Tebas. Portanto, é mais do que justo ter acontecido o show que ocorreu no Theatro Municial, em São Paulo em 2019 e onde foi abordado a história da cultura negra no Brasil. Um feito histórico do qual foi registrado com êxito e cujo o documentário nos brinda com os melhores momentos.
Tecnicamente a obra é um colírio para os olhos, cujo os desenhos cartunescos representam diversos pontos da história do Brasil e fazendo do documentário ainda mais dinâmico e bem compreendido. Ao mesmo tempo há um cuidado especial com a edição de cenas, das quais as mesmas formam um verdadeiro balé de luzes, cores e sintetizando o calor da cultura negra que moldou e lutou para fazer parte de nossa história. Uma aula de história digna de nota e que merecia ser vista e revista em todas as escolas.
Curiosamente, o documentário foi elaborado justamente no momento em que surgiu a pandemia do coronavírus e fazendo um paralelo surpreendente com a gripe espanhola no último minuto. Embora todos nós estejamos sofrendo nestes tempos de isolamento, o documentário nós dá ânimo quando nos diz que tudo é um círculo e do qual sobreviveremos assim como a nossa cultura como um todo. Em tempos em que há somente notícias ruins nada melhor do que assistir algo que revigore a nossa esperança de um futuro melhor e que ele venha logo.
Com uma justa homenagem a Marielle Franco no último minuto de projeção, “Emicida AmarElo - É Tudo Pra Ontem" é uma bela aula de como se faz um documentário e que fortalece ainda mais a nossa cultura brasileira em meio a esses tempos nebulosos.
O próximo encontro do Cine Debate – Filmes para pensar a vida será no dia 29.12.2020 com o filme: Primavera, verão, outono, inverno e primavera (2004).
Assim como as estações, cada aspecto de suas vidas é introduzido com uma intensidade que conduz ambos a uma grande espiritualidade e a tragédia. Eles também estão impossibilitados de escapar da roda da vida, dos desejos, sofrimentos e paixões que cercam cada um de nós. Sobre os olhos atentos do velho monge vemos a experiência da perda da inocência do jovem monge, o despertar para o amor, o poder letal do ciúme e da obsessão, o preço do perdão, o esclarecimento das experiências. Assim como as estações vão continuar mudando até o final dos tempos, na indecisão entre o agora e o eterno, a solidão será sempre uma casa para o espírito.
Vítima de Coronavírus, Kim Ki-Duk foi um cineasta sul-coreano. Foi um dos melhores e mais conhecidos representantes da vanguarda cinematográfica desse país. Provém de uma família de classe operária e não recebeu formação técnica como cineasta, começando sua carreira a uma idade relativamente tardia de 33 anos como roteirista e diretor.
Autor de uma dezena de obras às vezes altamente experimentais, é sensível o ritmo pausado de seu cinema, o forte conteúdo visual muitas vezes sangrento, o parcimonioso uso do diálogo e a ênfase em elementos criminais ou marginais da sociedade. Este último reflete a posição de Kim dentro da sociedade sul-coreana em general, e o âmbito fílmico em particular. Foi agraciado com um Urso de Prata de Melhor Diretor no Festival Internacional de Cinema de Berlim em 2004 por Samaria e um Leão de Prata em Veneza por Bin-jip no
Morreu em 11 de dezembro de 2020 de COVID-19 na Letônia.
Abaixo, segue os filmes essenciais de sua carreira.
Sinopse: Em um pequeno monastério flutuante sobre um lago vivem um velho monge e seu jovem aprendiz. Enquanto o menino explora os arredores, ele se deixa levar por seus instintos e crueldades infantis. Porém, o mestre sempre está pronto para ensinar suas lições, e mostra para o garoto que as consequências de pequenos atos podem durar a vida toda.
Do cineasta Kim Ki-duk, “Primavera, Verão, Outono, Inverno e... Primavera”, as estações do ano são uma metáfora para os estágios, não só da vida, como também de desenvolvimento humano: nascimento, crescimento e declínio. Dois monges budistas, um mais velho que exerce a função de mestre; e outro mais novo, jovem aprendiz, convivem em uma casa no meio de um lago entre as montanhas. O filme é dividido em cinco partes de acordo com as estações do ano, como destacado pelo título: há a primavera, o nascimento; o verão, o despertar; o outono, o declínio; o inverno, a queda; e o renascimento com a primavera, novamente. Na obra fica evidente o eterno retorno da situação humana, mas em um plano metafísico, de constituição da essência humana nos seus estágios de desenvolvimento.
'Casa Vazia' (2004)
Sinopse: Um jovem vagabundo invade a casa de estranhos e mora nelas enquanto os donos estão fora. Para pagar a estadia ele realiza pequenos consertos ou faz limpeza na casa. Ele costuma ficar um ou dois dias em cada lugar, trocando de casa constantemente. Até que um dia encontra uma bela mulher em uma mansão, que assim como ele também está tentando escapar da vida que leva.
O Cineasta Kim-Ki Duk chamou a atenção mundial com seu filme anterior que eu citei acima. O mundo ficou deslumbrado com a carga cheia de filosofia apresentada na relação entre mestre e discípulo. Quando "Casa Vazia" foi lançado à expectativa era enorme e muitos esperavam algo na mesma linha. De forma certeira e imprevisível, Kim-Ki Duk tomou um rumo completamente diferente. Desta vez ele conta a história de Hee-Jae (Hyun-kyoon Lee), um jovem que invade casas cujos donos estão viajando e lá fica por algum tempo. Ele não rouba nada e, para compensar a "hospedagem", procura algo dentro da casa que precise ser arrumado. Certo dia, em uma das casas que ele invadiu, Hee-Jae presencia a bela modelo Sun-hwa (Seung-yeon Lee) levar uma surra do marido. A partir daí se estabelece uma forte relação entre os dois sem que eles troquem uma única palavra sequer. A narrativa que o diretor imprime aqui não segue um padrão convencional. A trama é, antes de tudo, romântica, porém, vem impregnada de poesia, de realismo fantástico, de questões sobrenaturais. Parece uma salada que não combina bem seus ingredientes, no entanto, tudo o sentido nesta belíssima história de amor.
'Pieta' (2012)
Sinopse: Kang-do (Lee Jung-Jin) é um homem implacável e bastante cruel, que trabalha como cobrador para agiotas. Caso o devedor não tenha como pagar a quantia devida, ele quebra ou esmaga algum osso de seu corpo, já que desta forma o acidentado receberá um seguro de saúde que servirá para cobrir a dívida. A vida de Kang-do é bastante solitária, até que um dia surge em sua vida uma mulher que afirma ser sua verdadeira mãe.
É de uma beleza paradoxal a forma com que Kim Ki-Duk consegue tratar a natureza humana de forma íntima e poética. Cruel, como em boa parte de seus longas, ele não coloca limites na complexa construção de seus personagens ao passo que filma de modo simples, deixando a câmera muitas vezes vacilar, tremendo ou até mostrando um zoom automático que vem e volta. Apesar de ser uma ficção, faz lembrança ao espectador que está mergulhado no realismo íntimo daquelas pessoas em um cenário que se aproxima muito do real, sendo quase possível sentir a dor delas.
Não há como sair impune de um longa de Kim ki-duk e Pietá não foge da regra de uma obra aparentemente cruel e fria, construída sobre a base das relações humanas nada simplórias, mas que vistas pelo olhar do espectador, ganham contornos de fábula.
'Moebius' (2013)
Sinopse: Uma família inicia um ciclo destrutivo quando começa a questionar seus desejos sexuais, nutrindo relações nocivas para todos, levando-os a um destino trágico. Um dos trabalhos mais controversos do diretor Kim Ki-Duk.
Provocador Kim Ki-duk volta com uma conturbada crônica familiar, uma mistura de thriller psicológico, comédia grotesca e uma perversa ode ao sadomasoquismo. Nesta metáfora sobre a obsessão contemporânea com a própria sexualidade, conduzida por personagens sem nomes e narrada sem auxílio de diálogos, o diretor coreano acompanha a briga entre um casal que, observado pelo filho adolescente, discute sobre a infidelidade do marido. O conflito se desdobra em uma cadeia de eventos violentos, culminando em um epilogo dramático de destruição.
Atenção para o surpreendente desempenho de Lee Eun-Woo que é a alma do filme. Ela interpreta a mãe e a amante com uma transformação impressionante. Sinceramente não havia notado que era a mesma pessoa.
Filmografia Completa:
2018 Humano, Espaço, Tempo e Humano
2016 A Rede
2015 Stop
2014 Dente por Dente
2013 Moebius
2013 Venice 70: Future Reloaded
2012 Pieta
2007 Sem Fôlego
2006 Time - O Amor Contra a Passagem do Tempo
2004 A Casa Vazia
2003 Primavera, Verão, Outono, Inverno e Primavera
NOTA: O filme "Primavera, Verão, Outono, Inverno e... Primavera" será debatido na próxima live do Cine Debate. Informações e como participar entre em contato com Maria Emília Bottini clicando aqui.
Sinopse: casal enfrenta o vazio emocional e o luto devido a perda de um ente muito querido.
Não é preciso necessariamente de diálogos para se criar uma narrativa, pois as imagens, se elas forem bem dirigidas, nos dizem muito mais do que meras palavras ditas. Se no primeiro ato de "Up: Altas Aventuras" (2009) as imagens falam por si, por outro lado, o curta "O Avião de Papel" (2012) era uma prova que uma boa história pode sim ser moldada para um curto espaço de tempo. Em apenas 12 minutos, "Se Algo Acontecer...Te Amo" (2020) nos arranca lágrimas com facilidade e nos deixa sem chão por alguns minutos após a sua exibição.
Produzido pela atriz Laura Dern, e escrito e dirigido por Michael Govier e Will McCormack – este último co-roteirista de Toy Story 4 -, "Se Algo Acontecer… Te Amo" abre com um casal fazendo uma refeição em lados opostos da mesa, distantes. Através de suas sombras, que simbolizam as emoções, o filme passa a impressão de que será sobre as cicatrizes e o afastamento de um relacionamento matrimonial. Aos poucos, o espectador vai percebendo o que os levou a chegar em tal situação.
Feito com desenho tradicional, onde os traços limpos e simples nos chamam atenção, a história transita de forma simbólica, onde as sombras do casal principal seriam na realidade os seus sentimentos dos quais os mesmos não conseguem colocar para fora. Na medida em que a trama avança, as sombras conseguem, gradualmente, fazer com que o casal libere os seus sentimentos, mas tendo um alto preço a ser enfrentado. É nesse momento que sabemos a verdade do porquê de ambos estarem distantes um do outro e cuja a revelação nos pega desprevenidos em cheio.
O filme sintetiza, portanto, o quanto é difícil lidar com a dor da perda, principalmente quando ela é provocada de uma forma tão tola, mas da qual estraçalha inúmeras famílias. Sendo uma pessoa muito por dentro em questões políticas, Laura Dern não se inspirou em uma, mas sim em várias histórias de famílias que foram afetadas diretamente devido a violência vindo de um ato irracional e do qual poderia ser impedido se houvéssemos líderes capazes de serem, ao menos, mais humanos.
Moldado em preto e branco, as cores vão surgindo ao longo da trama conforme ela vai avançando, seja ela aparecendo na vida atual do casal, ou em lembranças de um passado mais feliz e dourado. Ao final da trama, constatamos que o amor venceu a dor, mas não eliminando a dor por completo, mas sim somente amenizando ela como um todo. Um soco no estômago para os que assistem do lado de cá da tela e fazendo a gente valorizar ainda mais os momentos de felicidade que nos fortalecem no dia a dia.
Com uma certeira inserção da música "1950" de King Princess, "Se Algo Acontecer... Te Amo" é uma pequena obra prima em todos os sentidos e que merece ser vista e revista por todos.