Nos dias 08 e 09 de Julho eu irei participar do curso Cinema Independente Brasileiro Hoje, criado pelo Cine Um e ministrado pelo crítico de cinema do jornal Zero Hora Daniel Feix. Enquanto o final de semana da atividade não chega por aqui eu irei relembrar de alguns filmes do cinema brasileiro independente que eu assisti nesses últimos dez anos.
Viajo porque preciso,
volto porque te amo (2009)
Sinopse: José Renato (Irandhir Santos) tem 35
anos, é geólogo e foi enviado para realizar uma pesquisa, onde terá que
atravessar todo o sertão nordestino. Sua missão é avaliar o possível percurso
de um canal que será feito, desviando as águas do único rio caudaloso da
região. À medida que a viagem ocorre ele percebe que possui muitas coisas em
comum com os lugares por onde passa. Desde o vazio à sensação de abandono, até
o isolamento, o que torna a viagem cada vez mais difícil.
Nas mãos de Karim
Ainouz e Marcelo Gomes, o conhecido gênero road movie, que dele nasceram obras
como Sem Destino, é reinventado por um
protagonista nunca visto, mas que fica narrando sempre a sua cruzada de auto
descobrimento. O filme levou uma década para ser finalizado, sendo que as
imagens começaram a ser criadas antes mesmo da criação dos filmes de cada um
dos cineastas (de Karim e Marcelo). Reunidas numa caixa cheia de imagens
captadas, elas foram montadas e remontadas inúmeras vezes, mas que aos poucos
foi nascendo algo completamente diferente do que se previa anteriormente.
Numa verdadeira
experiência de montagem e roteiro, Karen Harley fez um trabalho de gênio na
montagem, reunindo na época registros em super-8, 16 mm e digital numa concisão
narrativa que emociona embalada pela trilha sonora de Chambaril e a voz do
personagem principal que, apesar de nunca ser visto, está presente o tempo
todo. Ao final da trama, o objetivo da viagem é sobrepujado pela força da
travessia. Travessia apresentada em exuberantes e delicadas imagens captadas em
diferentes suportes, sendo que um deles imprimindo defeitos nas paisagens, que
foram propositadamente mantidas assim na montagem e que fazem um percurso que
vai dos feixes de rocha do semiárido nordestino até o ser humano que habita
essa geografia.
Se fôssemos resumir a
obra, seria uma espécie de retrato da reação do homem perante a rejeição de um
amor. A vontade de botar o pé na estrada, viajar sem rumo certo, a mentira pra
si mesmo de que tudo está bem, a aceitação do "pé na bunda", o sexo
que não pode parar na figura de diferentes parceiras, a bebida, a música de
amor. Tudo isso sem excluir a lágrima, ou, como diria o poeta, "os sócios
vis do amor: rancor, dor, ódio, solidão" (Antonio Cícero).
O homem sai pelas
estradas do Ceará. Sua voz narra à situação em que vive, sem que sua imagem
apareça. Antes, ela se reflete no cenário vazio, árido e sofrido do sertão
brasileiro: seca, fome e abandono. O filme se inicia com supostas cartas
escritas à amante, como se dele ela ainda fosse. Mente então em uma delas, com
a frase que dá título ao filme. Termina concluindo:
"Viajo porque preciso, não volto porque
ainda te amo."
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