Sinopse: O ricaço Miles Bron convida seus amigos excêntricos para sua ilha para jogar um jogo de detetive. Mas um assassinato real é cometido e as coisas saem do controle. Todos são suspeitos e a morte pode vir de onde se menos imagina.
"Entre Facas e Segredos" (2019) foi sem sombra de dúvida uma das maiores surpresas do cinema recente, ao possuir um grande elenco, humor ácido e cujo o tema investigativo bebia muito do universo literário de Agatha Christie. Não é de se admirar, portanto, que haveria em breve uma eventual sequência e que nos colocaria em um novo cenário de crime um mirabolante. Pois bem, embora não possua o mesmo frescor do filme original, "Glass Onion: A Knives Out Mystery" (2022) mantém o pique graças ao seu carismático elenco e por possuir uma alta carga de humor sombrio com relação aos tempos em que vivemos.
Blanc (Daniel Craig) retorna à ativa, agora para desvendar outro caso, tão peculiar quanto. Nesta nova aventura, Benoit se encontra em uma luxuosa propriedade privada em uma ilha grega, mas como e por que ele chega lá é apenas o primeiro de muitos quebra-cabeças, e o fato peculiar de que ele foi convidado também. Blanc logo conhece um grupo de amigos reunidos a convite do bilionário Miles Bron para sua reunião anual. Como em todos os melhores mistérios de assassinato, cada personagem guarda seus próprios segredos, mentiras e motivações. Quando alguém aparece morto, todos são suspeitos.
Quando o primeiro filme havia sido lançado o mundo ainda não estava diante da sombra da pandemia que assolaria o planeta. Portanto, é curioso ver os personagens usando máscaras nos primeiros minutos, sendo que cada se comporta de uma forma diferente com relação a isso e revelando a sua pessoa como um todo. Diante disso, vemos alguns fatos curiosos, como a própria burguesia não dando a mínima com relação ao que está acontecendo no mundo, desde que não perca nenhum centavo com relação a esse cenário. O filme, aliás, é uma crítica ácida com relação a essa elite que move as engrenagens do sistema mundial, pois eles têm tudo em suas mãos, mas acabam se tornando tão medíocres em suas vidas alienadas que chegam até mesmo dar pena.
Portanto, é de surpreender como um bando de pessoas sem nenhum escrúpulo chegam ao poder de forma tão fácil, mas que logicamente passaram por cima de muitos e é exatamente que o longa nos revela aos poucos. Claro que, logicamente, aguardamos para o eventual crime que irá desencadear uma cadeia investigativa e revelando aos poucos as motivações de cada um dos personagens centrais. Até lá, o filme chega um ponto de ser uma grande comédia, principalmente pela interpretação propositalmente caricata de alguns atores, como no caso, por exemplo, de Edward Norton que nós sentimos a todo momento que está se divertindo muito em cena e sendo algo que não se via desde a sua divertida atuação em "Birdman" (2015).
Daniel Craig novamente nos brinda com uma atuação digna de nota, principalmente pelo fato de estar mais a vontade do que nunca ao interpretar o detetive Blanc e provando que pode sim ter uma carreira versátil e sem viver da sombra de James Bond. É bom também rever atriz Kate Hudson em uma ótima atuação e sendo algo que não se via desde a sua consagração no ótimo "Quase Famosos" (2000). É um filme em que os atores se sentem livres em colocar na mesa o seu potencial com relação a sua veia cômica e cujo o humor se difere do que se encontra hoje em dia nos filmes da Marvel e, por conta disso, não é à toa que ao vermos Dave Bautista em cena constatamos que ele se sente livre e longe das amarras impostas por Kevin Feige daquele estúdio.
Polêmicas à parte, o filme possui uma dinâmica contagiante, principalmente por possuir uma edição que flui de forma suave e ao mesmo tempo que faz com que a gente não sinta o tempo passar. Sendo um filme investigativo pode-se esperar por várias camadas dessa cebola ao serem descartadas, muito embora uma ou outra revelação não surpreenda e nos passando a sensação que a fórmula de contar esse tipo de história inspirado no universo literário de Agatha Christie já esteja um tanto que batida. Porém, o ato final nos surpreende com relação ao fato que a própria elite esteja se condenando ao se afogar em seu próprio poder e não se dando conta o quanto foram tão estúpidos ao chegarem esse ponto de se encontrarem tão ordinários em seus próprios vícios.
Com uma curiosa participação da pintura Mona Lisa em cena, "Glass Onion: A Knives Out Mystery" se sustenta graças ao seu grande elenco afiado e com o seu humor corrosivo e que não perdoa ninguém independente de seu status.
Onde Assistir: Netflix.
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