Sinopse: Chocolate,
de Roschdy Zem, apresenta a história do primeiro artista negro de circo na
França, o ex-escravo Rafael Padilla (Omar Sy, de Intocáveis). Estamos na virada
do século 19 para o 20, a chamada Belle Époque.
A trama se inicia em
um pequeno circo da França, onde vemos o protagonista Rafael (Omar Sy) inicialmente
assustando os espectadores ao interpretar um canibal em um número, para logo depois os conquistar com humor e charme.
Com ajuda de Footit (uma impressionante interpretação de James Thierrée, neto
de Charlie Chaplin), um palhaço branco em quase decadência, mas que com talento
em abundancia, ambos iniciam uma dupla de palhaços de circo. O sucesso é instantâneo
e fazendo com que eles chegassem a fazer inúmeros shows em Paris.
O filme de Roschdy
Zem trabalha bem a cinebiografia de Rafael Padilla, tocando em temas como
ascensão social, inovação, artistas de circo, artistas franceses e
principalmente a questão racial. O fato de Rafael ser o primeiro artista negro
da França traz questões delicadas sobre racismo que o diretor não se esquiva,
mas também não procura vitimizar o protagonista, expondo suas ações e
promovendo análises profundas.
Há observações nada sutis sobre o racismo,
onde vemos o quão o ser humano pouco evoluiu ao longo desses cem anos desde que
surgiu essa dupla de palhaços. Chocolate é sim um filme sobre o horror que é o
preconceito, onde vemos até mesmo brancos tratando negros como se fossem
animais de zoológico e gerando um verdadeiro contraste se comparado ao
protagonista que conseguiu uma luz ao sol. Respeitado por toda Paris, Rafael começa
a usufruir do sucesso que adquiriu, desde a comprar carros de luxo, como namorar
uma moça branca (Clotilde Hesme).
Não demora muito para
os racistas de Paris surgirem em peso e transformarem a vida de Rafael num
inferno. É interessante observar que, estávamos falando de Paris, uma cidade
multicultural e moderna, mesmo para época, mas que pelo visto vivia com a
imagem de tolerantes somente nas aparências. O ápice do preconceito é visto
numa exposição com nativos africanos, onde vemos então Rafael ser questionado
por um nativo que está do outro lado da cerca, mas com palavras das quais ele
não compreendia, mesmo sendo pertencente da mesma raça.
Isso coloca o
protagonista em um dilema: qual seria o seu lugar numa sociedade que o usa para
entretimento, mas que ao mesmo tempo lhe trata como um animal? Uma cidade com
oportunidades, mas que não aceita pessoas unicamente por ter uma cor de pele
diferente.
Apesar de um ato
final questionável em seu discurso, o roteiro de Chocolate é magnífico. Uma
bela homenagem a um grande artista, expondo-o de maneira honesta e celebrando,
acima de tudo, a arte de fazer humor, mesmo com todas as adversidades criadas
por uma sociedade inconsequente.
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