Sinopse: Marcielle, de 13 anos, vive em uma comunidade ribeirinha na Ilha do Marajó com o pai, a mãe e três irmãos. Chegando na adolescência, ela começa a conhecer o lado adulto da pior maneira possível.
O abuso contra a mulher pode não acontecer necessariamente na fase adulta, mas justamente em tempos mais inocentes e dentro de casa. Por mais mórbido que isso seja, isso não pode se colocar por baixo de panos quentes, mas sim ser debatido e ser enfrentado para que esse horror não seja repetido. "Manas" (2025) é uma síntese do lado sombrio que acontece em um ponto específico no Brasil, mas que também ocorre muito mais próximo de nós do que se imagina.
Dirigido por Marianna Brennand, o filme conta a história de Marcielle (Jamilli Correa), uma jovem de apenas 13 anos inserida em um meio repleto de violências dentro da periferia onde mora. Moradora da Ilha de Marajó, no Pará, ao lado do seu pai, Marcílio (Rômulo Braga), sua mãe, Danielle (Fátima Macedo), e três irmãos. A menina não se conforma com a partida da sua irmã mais velha, que partiu para bem longe de onde moravam após arrumar um homem que circulava pela bacia hidrográfica que banha a região. Não demora muito para Marcielle entender o porquê de sua irmã partiu, sendo que o problema estava justamente dentro de casa.
Desenvolvido há mais de dez anos, "Manas" é um dos primeiros filmes a serem rodados na ilha de Marajó e do qual desvenda o lado obscuro do local, onde diversas meninas foram abusadas sexualmente por turistas, marinheiros e, infelizmente, pelos próprios familiares. Marianna Brennand cria aqui uma ficção, mas que representa todas as vozes dessas meninas que estavam silenciadas ao longo dos anos, mas ganhando acolhimento daqueles que decidiram acusar esses crimes hediondos. Embora sendo realizado em um cenário raramente visto pelo grande público, o assunto é universal e deve ser testemunhado por todos.
Com uma linguagem quase documental, a cineasta adentra as florestas daquele lugar, do qual deveria representar a beleza da região, mas que infelizmente se torna um refúgio para que o ser humano desperte o seu lado mais sombrio. Quem acaba sofrendo é justamente as crianças que a recém estão conhecendo o mundo, mas tendo já desde cedo testemunhando o lado duro e inconsequente do ser humano. Tudo isso e muito mais é representado pela incrível atuação da jovem Jamilli Correa.
A jovem atriz consegue transmitir os sentimentos de sua personagem através do peso do seu olhar acentuado, do qual o lado inocente vai sendo apagado e dando lugar a um olhar consciente sobre o que realmente está acontecendo. O filme ganha pinceladas de pura tensão, principalmente nas cenas em que o pai leva a filha para a floresta para caçar, quando na verdade ela se torna a caça. Vale destacar que, embora o filme trate de um assunto espinhoso, Marianna Brennand filme como ninguém de uma forma que as cenas jamais se tornem explícitas, mas sim do modo sugestivo e que torna tudo ainda mais pesado.
Acima de tudo, é um filme que mostra a realidade da mulher que acredita não ter outra opção, a não ser se entregar para um beco sem saída mesmo quando há certa esperança. Fátima Macedo interpreta uma mãe que acredita não ter escolha, ao ponto de não fazer nada a respeito com relação ao que acontece a sua filha e deixando a última se vender para um cenário onde jamais deveria ter pisado um dia. Ao menos ainda existem aqueles que se importam em ajudar perante esse quadro, mas talvez isso só não basta.
O filme vem em um momento em que vários setores da sociedade procuram usar os seus status, seja políticos, ou religiosos, para camuflar certos crimes. O crime contra a inocência precisa ser combatido, independente de qual cortina de fumaça esses indivíduos buscam para se esconder e tentar continuar cometendo tais atos. A diretora Marianna Brennand cumpriu o seu papel e cabe a nós darmos o exemplo.
"Manas" é um soco no estômago necessário, pois somente sendo sentido para que a inocência comece a não ser mais molestada por monstros que se dizem ser cidadãos do bem.
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