Sinopse: Chatila e Reda, dois primos palestinos refugiados em Atenas, sonham com uma vida melhor. Determinados a reunir dinheiro suficiente para adquirir passaportes falsos e se mudarem para a Alemanha, eles recorrem a todos os meios possíveis.
Em tempos de guerra, ou golpes de estado pelo mundo, muitas pessoas abandonam os seus países para obterem uma nova vida em outro país, mas mal sabem as adversidades que terão que enfrentar. "Eu, Capitão" (2023), por exemplo, revela uma cruzada infernal sobre dois jovens que desejam obter os seus sonhos, mas conhecendo o lado duro da realidade que torna esse objetivo muito mais distante do que imaginam. O palestino "Em Rumo a Uma Terra Desconhecida" (2024) nos revela a dificuldade de um imigrante sair de um determinado refúgio e tornando a sua debandada quase impossível.
Dirigido por Mahdi Fleifel, a trama se passa na Grécia, onde acompanhamos os primos palestinos Chatila (Mahmoud Bakri) e Reda (Aram Sabbah) sonhando em fugir para a Alemanha em busca de uma vida digna. Refugiados e marginalizados, eles economizam para comprar passaportes falsos, mas a trajetória para a liberdade é árdua e cheia de armadilhas. Por conta disso, eles decidem adentrar em certos esquemas para obter dinheiro para saírem de lá, mas correndo o risco de deixarem de ser eles mesmo no decorrer do tempo.
O filme é uma realidade nua e crua sobre o fato de os imigrantes perderem a sua própria identidade, não somente para obter passaportes falsos, como também sucumbirem aos delitos para obterem alguns recursos. Além disso, o submundo das drogas e do sexo fazem com que se tornem presas fáceis para um caminho sem volta e cabem os protagonistas serem resistentes antes que seja tarde. Se por um lado Chatila busca um equilíbrio para tentar sair da Grécia, por outro lado, Reda é o mais fraco para cair em certas tentações, mas não escondendo a inocência perante uma realidade que lhe suga aos poucos.
Através de cenários naturais, o cineasta Mahdi Fleifel cria para os protagonistas uma realidade de poucos recursos, onde a telinha de um celular se torna um único meio que os liga para os seus entes queridos que abandonaram no outro lado do mundo e ao mesmo tempo um recurso para obterem meios escusos. O filme procura não fazer com que a gente julgue os atos dos protagonistas, sendo que eles já se julgam pelas suas escolhas e fazendo com que qualquer fantasia que eles tenham com relação a um mundo melhor caia por terra. A inocência que uma vez tiveram em algum ponto de suas vidas é deixada de lado uma vez que são jogados à própria sorte para um futuro indefinido.
Tanto Mahmoud Bakri como Aram Sabbah estão ótimos em seus respectivos papéis, sendo que os seus personagens são dois lados da mesma moeda, ambos de personalidades distintas, mas tendo que conviver com as mesmas consequências. Reda, por exemplo, é a figura sucumbida perante as piores coisas criadas pelo sistema capitalista que deseja que os imigrantes não consigam obter a sua entrada para o novo mundo, mas sim que desapareçam em qualquer esquina e que sejam jogados para dentro do lixo. Já Chatila é aquele persistente que dribla as regras de todo sistema, mesmo quando não há quase nenhuma esperança.
Portanto, o ato final se torna simbólico para ambos os protagonistas, quando vemos eles irem em direção a um destino desconhecido e fazendo com que nós levantamos as inúmeras possibilidades com relação ao futuro. O final, por sua vez, me lembrou de clássicos americanos como "Perdidos na Noite" (1969) e "A Primeira Noite de um Homem" (1967), mas ali havia certo fio de esperança, enquanto aqui não há nada, a não ser a possibilidade de continuarem vivos em uma terra que não lhes pertence. "Em Rumo a Uma Terra Desconhecida" vemos uma realidade árdua que o ocidente tenta ignorar, mas que se encontra lá doa o que doer.
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