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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Cine Dica: Em Cartaz: O Sacrifício do Cervo Sagrado



Sinopse: Steven é um cardiologista conceituado que é casado com Anna (Nicole Kidman), com quem tem dois filhos: Kim e Bob. Já há algum tempo ele mantém contato frequente com Martin, um adolescente cujo pai morreu na mesa de operação, justamente quando era operado por Steven. Ele gosta bastante do garoto, tanto que lhe dá presentes e decide apresentá-lo à família. Entretanto, quando o jovem não recebe mais a atenção de antigamente, decide elaborar um plano de vingança.
 
Se você anda meio nervoso com a sua vida passe longe do O Sacrifício do Cervo Sagrado, pois aqui você não encontrará nada reconfortante para que possa adoçar a sua vida. É um filme que nos faz ficar sem chão, nos alfineta e desafia os tempos do politicamente correto hipócrita que ronda o mundo contemporâneo. Assim como em seu filme anterior A Lagosta, o cineasta Yorgos Lanthimos apresenta os seus personagens de uma forma fria, mas que, gradualmente, vão demonstrando o seu lado humano de acordo com os avanços de um roteiro cheio de simbolismo e situações surpreendentes.
Mas ao contrario do já citado A Lagosta, os protagonistas aqui não conseguem encontrar um porto seguro. O cineasta está mais interessado em testar os limites dos seus personagens, assim como os nervos dos próprios cinéfilos, que vão assistindo essa montanha russa de emoções fortes e chocantes. Com isso se tem um filme de terror psicológico, que oscila quase o sobrenatural, mas fazendo com que nós tiremos nossas próprias conclusões sobre o que testemunhamos.
A trama começa com um cardiologista (Colin Farrell), de família feita (esposa e dois filhos), que visita constantemente o filho de um falecido paciente seu provavelmente culpado pela sua morte. O rapaz apresenta traumas psicológicos, e o cinéfilo fica na dúvida quanto a esses mesmos tormentos, até porque os maneirismos anormais confundem-se com a “normalidade” bem ao estilo do cineasta. Contudo, chega o momento em que percebemos que estes ciclos pretendidos corrompem-se quando o cardiologista é ameaçado por uma escolha.
A escolha que o fará reformular a sua forma de agir como humano de uma forma mais sensível, ou talvez o colocando para fora o seu lado cru e o fazendo mais forte para encarar uma nova etapa de uma vida muito mais acinzentada do que ele vivia. É aí que o protagonista terá que fazer um sacrifício por um bem maior, deixando consigo, além para os seus próximos, sequelas irreversíveis. Quando chegamos a esse ponto, ou deixamos o barco afundar, ou então nos mantemos em posição de crítico e fazermos então uma reflexão sobre o que testemunhamos.
Tecnicamente, Yorgos Lanthimos continua com a sua obsessão pela estética e nos passando em cada cena uma sensação de perfeccionismo obsessivo. Essa, aliás, sem efeitos, ou mecanicamente falando, mas sim ele faz a gente sentir a todo o momento sua mão em cada cena, onde os cenários amplos sintetizam um ambiente pouco reconfortante e que a vida não ecoa naqueles lugares em nenhum instante. A falta do calor humano se torna um mero detalhe, mas que surge nos momentos de maior conflito e intensidade.
Resumidamente são personagens presos numa sociedade alienada, da qual cada vez mais se sente consumida por um capitalismo implacável e nos fazendo até mesmo a gente esquecer o que acontece realmente no mundo real como um todo. O sacrifício do cervo seria um simbolismo de uma solução de uma situação drástica, mas tendo um alto preço a se pagar devido aos erros de uma sociedade cada vez mais individualista e pouco ou nada socialista. Yorgos Lanthimos talvez não deseje que a gente reflita, mas que a gente sinta na carne as consequências do nosso desdém cada vez mais acentuado e que precisa ser extinguindo. 
O Sacrifício do Cervo Sagrado é um soco no estômago contra uma sociedade que não consegue aceitar os seus próprios erros e que mais cedo ou mais tarde colherá o seu plantio sem frutos. 





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