Sinopse: Laura se
casa com Henry McAllan e sua nova família se muda para uma fazenda no delta do
Rio Mississipi. Lá, uma família negra, os Jackson, são responsáveis por ajudar
no trabalho pesado com o plantio e a colheita. O pai idoso de Henry, Poppy
McAllan, luta para manter os privilégios dos brancos no terreno, enquanto o
irmão de Henry, Jamie, desenvolve uma boa amizade com os caseiros por
compartilharem traumas da guerra. Um violento conflito marca a convivência
entre os McAllan e os Jackson.
Produção exibida e
aplaudida no Festival de Sundance em 2017, e que se registra o segundo filme da
roteirista e diretora Dee Rees. Ela já havia chamado atenção em seu primeiro
longa metragem, o provocante Pariah, do qual havia sido sucesso de crítica
quando exibido em vários festivais no ano de 2011. Mudbound é um drama
poderoso, cujo roteiro é dividido sob diversas linhas temporais para se
apresentar a trama e seus respectivos personagens que irão se encontrar em
determinados pontos da história.
Rees deixa claro
quais são suas intenções para o filme já no início da trama, quando ela cria
inúmeras narrações em off para cada um dos seus personagens principais e das
quais vão se alinhando uma na outra. Um destes personagens é Laura (Carey
Mulligan, do drama As Sufragistas, 2015), uma mulher tímida que se apaixona
pelo ambicioso Henry (Jason Clarke, de Planeta dos Macacos: O Confronto), que a
leva para viver em uma fazenda arruinada, onde sempre está chovendo. Outro
narrador é Jamie (Garrett Hedlund, de Tron: O Legado, 2010), irmão de Henry,
que retorna da Segunda Guerra Mundial como um homem destruído, viciado em
bebida, mas cujo suas boas virtudes são percebidas por Laura.
Outro jovem que
sobrevive à cruzada na Alemanha Nazista apenas para ser recebido em seu país
pela pobreza e racismo é Ronsel (Jason Mitchell de A História do N.W.A),
o filho mais velho de uma família de humildes trabalhadores rurais,
interpretados por Rob Morgan e pela cantora Mary J. Blige, que apesar da
pobreza e dificuldades que enfrentam, continuam a manter viva a esperança de
conseguirem um pedaço de terra para dizer que pertencem a eles.
Baseado no livro da
escritora Hillary Jordan, Mudbound possui um rico e melodramático mosaico de
personagens. Rees e seu co-roteirista Virgil Williams nunca se perdem na
construção da narrativa, mesmo tendo inúmeros personagens, ou com as alterações
da época e dos seus cenários que reconstituem os períodos. A trama se envereda
para temas que vão desde a família, alcoolismo, racismo, as feridas
psicológicas do pós-guerra, e sobre como é difícil lutar pelo bendito, para não
dizer hipócrita, sonho americano e especialmente num lugar como o sul dos EUA dos
anos quarenta.
Trata-se de uma
história forte, da qual Rees consegue passar todo o poder, o lado emocional que
contem em sua obra e que consegue se conectar facilmente com o cinéfilo que
assiste. Mudbound poderia facilmente cair na vala comum do previsível, mas aqui
é tudo feito de um modo pensado e se tornando algo que não é facilmente
esquecido. Além de possuir um roteiro redondo, com começo e meio e fim, o filme
possui ouros pontos positivos para serem destacados.
A bela fotografia de Rachel
Morrison sintetiza o lado cru do principal cenário da trama, assim como o
figurino e edição de arte, sendo esses últimos realistas e muito fieis a época.
A edição (ou montagem) de Mako Kamitsuna se torna dinâmica, onde se alinha com
fluidez as linhas narrativas com os seus inúmeros personagens. Com relação ao
elenco, Rees foi feliz no processo, pois dá a entender que todos foram
escolhidos a dedo.
Todos os desempenhos
funcionam de uma maneira inesquecível, onde até mesmo os que têm poucos momentos
em cena acabam então se destacando. Hedlund, por exemplo, passa charme e talento
quando surge sempre em cena, especialmente quando seu personagem retorna cheio
de cicatrizes emocionais após a guerra. Mitchell, Mulligan, Morgan e Blige,
todos entregam atuações primorosas e se entregando a realidade apresentada na tela.
Mudbound: Lágrimas
Sobre o Mississipi é uma prova que a cineasta Dee Rees deixou de ser uma
promessa e se confirmando como uma de muitas que estão despontando numa área que
antes era somente dominada por homens em Hollywood.
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