Sinopse: Após roubar
um carro em Marselha, Michel Poiccard (Jean-Paul Belmondo) ruma para Paris. No
caminho mata um policial, que tentou prendê-lo por excesso de velocidade, e em
Paris persuade a relutante Patricia Franchisi (Jean Seberg), uma estudante americana
com quem se envolveu, para escondê-lo até receber o dinheiro que lhe devem.
Michel promete a Patricia que irão juntos para a Itália, no entanto o crime de
Michel está nos jornais e agora não há opção. Ele fica escondido no apartamento
de Patricia, onde conversam, namoram, ele fala sobre a morte e ela diz que quer
ficar grávida dele. Ele perde a consciência da situação na qual se encontra e
anda pela cidade cometendo pequenos delitos, mas quando é visto por um
informante começa o final da sua trágica perseguição.
Quando Acossado
estreou no ano de 1959, atingiu o mundo do cinema como um verdadeiro choque
elétrico que é sentido até mesmo nos dias de hoje. Pode-se dizer que foi o
filme que deu a largada para o movimento da Nouvelle Vague, cujo movimento
tinha a intenção de passar uma vontade de renovar e de quebrar regras, e por
isso atingiu em cheio os jovens agitados e politizados da época. O fim dos anos
de 1950 e o inicio dos anos de 1960 representou o principio em que os jovens de
todo o mundo ganharam voz alta dentro da sociedade – o nascimento do
rock’n’roll, a queima de sutiãs e os protestos de maio de 1968 são reflexos diretos
disso tudo. E o filme de Godard representou, principalmente nos aspectos
técnicos, a chegada dessa juventude ao cinema com um frescor até então inédito.
De certa forma, não é
errado enxergar em “Acossado” o elo perdido de ligação entre o cinema clássico
dos anos 1950 e os filmes transgressores da década seguinte. O raciocínio é o
seguinte: os críticos franceses da revista Cahiers du Cinema (Godard incluído)
admiravam os diretores proscritos como Nicholas Ray que, nos EUA, dirigiam sob
fortes amarras de estilo, contrabandeando para dentro dos filmes temas ousados,
mas sempre de forma dissimulada. Godard não estava em Hollywood e não tinha
dinheiro, mas em compensação não precisava dissimular nada. Fez “Acossado” com
US$ 90 mil, do jeito que quis, e mudou o cinema para sempre de uma forma jamais
vista.
Alguns anos antes,
Hollywood já havia percebido que filmes sobre jovens eram um grande filão, mas
sempre os fez de forma conservadora como se exigia na época . “Acossado” rompeu
esse paradigma e eletrizou a juventude em todo o mundo. Até então, ninguém
jamais havia visto, em filme, um personagem virar para a câmera e se dirigir
diretamente ao espectador. Michael Poiccard (Jean-Paul Belmondo), o herói de
“Acossado”, não só fazia isso como mandava a plateia se f… A própria
personalidade do rapaz era transgressora, uma espécie de James Dean de celuloide: um ladrão de carros que roubava apenas pelo prazer da velocidade. Um
jovem que gostava de se vestir bem e fumar cigarros caros. Alguém cuja única
preocupação era viver o momento, sem dar bola para o futuro; alguém para quem o
amanhã é sempre longe demais. A filosofia “viva aqui e agora”, sempre tão
sedutora para os jovens, acabava de ganhar um ícone cinematográfico.
“Acossado” possui
apenas um fiapo de história; o que importa no filme de Godard é menos o enredo
e mais a forma de contá-lo. Trata-se da história de um rapaz francês, o já
citado Poiccard, que está apaixonado por uma garota norte-americana (Jean
Seberg). A moça, que passa uma temporada em Paris, gosta dele – e de muitos
outros rapazes. Ela dorme a cada noite com um homem diferente, e encara essa
atitude com uma naturalidade que deve ter chocado os puritanos da época.
Patricia Franchisi (nome dela) também virou ícone para as garotas. O corte de
cabelo curto, as minissaias e o comportamento libertário viraram uma coqueluche
entre as jovens francesas do começo dos anos 1960.
Quando o filme
começa, Poiccard acabou de roubar um carro em Marselha e dirige para Paris em
alta velocidade. Ele é seguido por um policial e acaba tendo que matá-lo para
não ser preso. O resto do filme trata dos esforços do rapaz para fugir da
polícia e, ao mesmo tempo, conquistar o coração de Patricia. Godard filma tudo
isso com um senso de urgência impressionante, um ritmo nervoso acentuado pela
montagem inovadora, que pula no meio das cenas como um disco de vinil
arranhado. “Acossado” foi o primeiro filme a apresentar uma técnica chamada de
“jump cut”, em que os cortes quebram a sensação de continuidade e surgem nos
momentos mais inesperados, apenas para acelerar o ritmo geral. Observe, por
exemplo, como os cortes rápidos dão à perseguição de carro que abre o filme uma
sensação alucinante.
O longa-metragem
surgiu de uma ideia de François Truffaut, que escreveu o roteiro a partir de
uma notícia de jornal e o entregou ao amigo Godard. Nos anos seguintes, os dois
diretores foram se afastando, tanto em termos de temática quanto na parte
técnica (Godard sempre gostou de experimentar novidades, enquanto Truffaut
preferia mergulhar no personagem em detrimento da técnica). Juntos, porém, os
dois foram capazes de criar um clássico instantâneo, um filme de transição
entre dois períodos difíceis do cinema. “Acossado” fez Hollywood acelerar a
montagem dos seus filmes, introduziu novas modas entre os jovens e foi, por
isso, influência básica para diretores como Arthur Penn e William Friedkin,
gente que renovaria o combalido cinema norte-americano do pós-guerra, alguns
anos depois. Por isso é um filme que todos os cinéfilos deveriam ter em casa.
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