Sinopse: Abandonadas pela mãe, Laura e irmãs desfrutam brevemente da liberdade até receberem ameaça de separação pelo serviço social.
Quando se fala sobre o cinema sueco imediatamente a maioria de nós cinéfilos irá se lembrar dos filmes de Ingmar Bergman, pois o realizador foi responsável por obras primas como "O Sétimo Selo" (1957). Porém, é preciso reconhecer que neste início de século já surgiram inúmeros longas que foram apontados como novos clássicos daquele país, como no caso de "Deixe ela Entrar" (2008) de Tomas Alfredson. "Paraíso em Chamas" (2023) revela que a Suécia ainda pode nos render belas pérolas cinematográficas na medida em que o tempo passa.
Dirigido pela estreante Mika Gustafson, a trama se passa em um bairro da Suécia, onde três irmãs cuidam de si mesmas após a mãe ausente sumir por completo, deixando-as sozinhas. Laura é a mais velha, com 16 anos, Mira é a do meio, com 12 anos, e Steffi é a caçula, com 7 anos. Enquanto se preparam para o verão, divertido e despreocupado sem supervisão adulta, o trio lida com a ausência materna e a ameaça do conselho tutelar, que pede uma reunião com a parente responsável. Laura tenta encontrar alguém para se passar pela mãe com os assistentes sociais, caso contrário as três serão levadas para um lar adotivo e separadas.
A informação de que a mãe não se encontra naquele cenário ocorre de forma gradual, já que a história começa de forma imediata, onde a irmã mais velha procura manter o equilíbrio do dia a dia dentro daquele lar e procurar sobreviver com o que tem. Mika Gustafson, por sua vez, realiza cenas dinâmicas, cuja sua câmera frenética acompanha aquelas meninas a todo momento, fazendo ter uma dimensão de suas situações e fazendo a gente se perguntar o que virá a seguir. Ao mesmo tempo há momentos descontraídos, onde elas e demais jovens da região buscam aproveitar ao máximo música, bebida e ao mesmo tempo invadindo determinadas casas para aproveitar as piscinas.
O filme por si só é uma espécie de representação de uma geração perdida e desprovida dos laços familiares, já que esses últimos se encontram perdidos nesta realidade e optando por escapar das responsabilidades. Não conhecemos os pais destas irmãs, mas temos uma dimensão do que eles podem ter sido através de outros adultos, como no caso Hanna (Ida Engvoll), vizinha próxima de Laura e Sasha (Mitja Siren) um homem bêbado de um bar que deseja ser o melhor no ramo da música. Enquanto Hanna procura manter as raízes de sua juventude perdida através de Laura, por outro lado, Sasha se torna uma alma cansada daquele cenário, mas que obtém certa sobrevivência através de Mira, que vê nele o lado paternal há muito tempo esquecido.
Não há como negar que a força matriz se encontra na presença de Laura, interpretada com intensidade pela atriz Bianca Delbravo e cuja sua personagem procura buscar o equilíbrio em meio a uma realidade em que os adultos se encontram mais perdidos do que as próprias crianças vistas na tela. Mika Gustafson realiza, portanto, uma análise delicada e mais atual do que nunca sobre uma geração perdida, mas que procura se manter unida, mesmo quando o sistema lhe diz o contrário. Embora o final termine de uma forma pessimista, ao mesmo tempo deixa em aberto sobre o futuro das jovens protagonistas e fazendo a gente desejar com que os seus laços de amor não se desprendam tão facilmente.
"Paraíso em Chamas" é mais uma pérola do cinema sueco, onde o retrato de uma realidade nua e crua de uma geração perdida vinda de lá não é muito diferente do que se vê do lado de cá da tela.
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