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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 23 de abril de 2021

Cine Especial: Oscar 2021: 'Quo Vadis, Aida?' e ‘Better Days’

Sinopse: história de Aida (Jasna Djuricic), uma mulher que trabalha como tradutora para uma equipe de manutenção da paz. Ela está em um acampamento onde seu marido e seus dois filhos estão detidos juntos de milhares de cidadãos bósnios. 

Em tempos atuais em que vivemos, dos quais o fascismo fica cada vez mais explícito em nosso dia a dia, ficamos nos perguntando onde começou tudo isso. Talvez, ele não tenha começado recentemente, mas ele sempre esteve lá, porém, adormecido e nos pegando atualmente desprevenidos. Enquanto não resolvemos o que fazer contra esses tempos nebulosos atuais, "Quo Vadis, Aida?" (2021) nos soca no estômago ao nos dizer que esse mal já estava vivendo entre nós há muito tempo, seja ele aqui ou do outro lado do mundo.

Dirigido pela cineasta Jasmila Zbanic, o filme conta a história de Aida (Jasna Djuricic), uma mulher que trabalha como tradutora para uma equipe de manutenção da paz. Ela está em um acampamento onde seu marido e seus dois filhos estão detidos juntos de milhares de cidadãos bósnios. Porém, pode ser muito tarde para conter o inevitável.

No prólogo, observamos uma espécie de reunião de negócios, entre um político local e um representante da ONU. Ambos são ineficazes no diálogo para se obter um acordo, sendo que a única consciente da situação e que deseja ali obter uma solução é Aida, mas sem conseguir uma chance de abraça-la. Pela sua expressão e olhar, constatamos uma pessoa desesperada, mas que se mantém firme para não cair na no desespero e desgraça.

Jasna Djuricic nos brinda com uma ótima atuação em cena, sendo que ela carrega o filme nas costas e nos guia para o inferno iminente que irá acontecer na tela. Porém, o filme possui um perfeccionismo esplêndido, onde há um cuidado para nos passar a dimensão da situação e nos dando a sensação de nos colocar no centro dos acontecimentos: a cena em que vemos um mar de bósnios muçulmanos aglomerados em frente à sede da ONU é, desde já, espetacular.

Curiosamente, a expressão dos rostos dos personagens diz mais do que meras palavras. Em um flashback, por exemplo, testemunhamos Aida e mais um grupo de amigos se divertindo em uma festa, mas que em determinado momento todos ali começam a encarar a câmera de  forma séria e pouco esperançosa. Uma espécie de prelúdio do que aconteceria com aquele povo e cuja as marcas até hoje não cicatrizaram.

Para aqueles que estudam a história recente da humanidade não é preciso ser gênio para adivinhar o que acontecerá no ato final. Em uma cena simbólica, por exemplo, vemos bósnios sendo encurralados em uma sala de projeção abandonada e onde os seus opressores gritam dizendo que isso não é cinema. A cena não é sangrenta, porém, não deve nada aos filmes de guerra realistas como o chocante filme russo "Vá e Veja" (1985).

Ao chegarmos ao epílogo estamos por demais esgotados, querendo desejar se afastar daquela triste realidade, mas não deixamos de acompanhar Aida para que possamos descobrir o que restou dessa guerra para ela. Ao testemunharmos isso, constatamos uma mulher forte, mas que também cede perante o horror, pois a sua humanidade jamais se perdeu. Indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional de 2021, "Quo Vadis, Aida?" é sobre a selvageria humana nascida das indiferenças, do fascismo e da desumanidade vinda daqueles que se dizem poderosos.  


Onde Assistir: Compre ou alugue pelo Youtube. 

 ‘Better Days’ 

Sinopse: Em pleno vestibular, jovem passa a sofrer Bullying dos seus colegas. Porém, um jovem surge em sua vida e desencadeando situações imprevisíveis.  

Eu me lembro que sofria bullying na escola. Já faz vários anos, mas as ofensas e as piadas de mal gosto ficam nas lembranças. Me lembro de um aluno que me incomodou tanto durante a aula que eu simplesmente o peguei como se fosse um boneco de pano e dei ponta pé diversas vezes contra ele devido a raiva que nasceu dentro de mim naquele momento.
A situação só não ficou pior porque eu bati a minha perna numa mesa ao lado e quando aconteceu isso me dei conta sobre o que estava acontecendo. Os alunos me olhavam com medo e não entendendo como de uma hora pra outra eu quase virei um monstro. Desde então as piadas haviam parado, mas a sombra do que eu poderia ter me tornado ficou me assombrando por algum tempo.
O bullyng nada mais é do que uma prática orquestrada por jovens inconsequentes e que, infelizmente, não tem noção o quanto isso pode despertar em suas vítimas. Por conta disso, há diversas histórias pelo mundo sobre esse assunto e uma mais imprevisível do que a outra como um todo. “Better Days" (2019) toca neste assunto espinhoso de uma forma dura, reflexiva e bastante humana.
Dirigido por  Kwok Cheung Tsang, o filme conta a história Nian, que estava se preparando arduamente nos estudos para conseguir passar no vestibular. Porém, sua amiga se suicida por motivos misteriosos, mas aos poucos se descobre que a jovem sofria bullying. Não demora muito para Nian seja a próxima vítima, mas ela consegue consolo pelo jovem Trickser e desse encontro se inicia uma surpreendente relação de amizade e carinho.
Com uma edição fragmentada, onde o passado e o presente vêm e volta, o filme vai aos poucos nos apresentando aquela realidade aparentemente simples do colégio, mas não escondendo o seu lado opressor que gosta de machucar os fracos. Há uma aura de competição no ar com relação ao vestibular, ao ponto de alguns não medirem esforços para conquistar os seus objetivos, nem que para isso machuque e muito o seu próximo. Nian quer somente passar e conseguir embarcar na vida adulta, mas mal sabendo o alto preço a ser pago durante essa jornada.
O filme debate a difícil passagem da inocência para a fase adulta, sendo que a escola em si não dá aulas de como se faz na prática essa transição e com isso deixa os jovens alunos na própria sorte e tendo que sobreviver com as suas próprias mãos. A obra também faz parte dessa nova onda de filmes em que mostra o quanto o sistema é falho na construção do indivíduo para ser inserido na sociedade, sendo que não há ninguém que possa dar uma solução mais prática nesta etapa da vida. O resultado é testemunharmos jovens tendo que enfrentar uma selva de pedra e sendo assombrado por outros jovens que são puramente rebeldes, sendo que alguns são o próprio reflexo de terem pais inconsequentes.
O meu relato acima no início do texto é a reflexão que eu tive partir dos desdobramentos da trama que eu testemunhei, sendo que eles nasceram no momento em que o cordão bom senso se arrebentou para o casal central. Curiosamente, me identifiquei e muito com os personagens, pois a sensação que me deu foi uma espécie de déjà-vu, muito embora tive melhor sorte no meu mundo real. Contudo, a redenção acontece para o casal, muito embora o passado cheio de ferimentos sempre ficará registrado no passado de cada.
Indicado para o Oscar de Melhor Filme Internacional de 2021, "Better Days" é sobre jovens tentando obter uma passagem para a vida adulta, mas mal sabendo dos obstáculos que irão enfrentar e sacrificar para se chegar lá. 

NOTA: Ainda sem previsão de estreia.  

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