Nos dias 07 e 08 de
Abril eu estarei na Cinemateca Capitólio de Porto Alegre participando do curso
Cinema Russo: Diretores, Diretoras e um pouco de História, criado pelo Cine Um e
ministrado pela editora da revista cinema Teorema Ivonete Pinto e pela
pesquisadora de cinema Juliana Costa. Antes disso, eu estarei por aqui postando
sobre os melhores filmes daquele país, cujo alguns clássicos nos ensinam até
mesmo o verdadeiro significado da palavra “socialismo”.
O
Encouraçado Potemkin (1925)
Sinopse:Em 1905, na
Rússia czarista, aconteceu um levante que pressagiou a Revolução de 1917. Tudo
começou no navio de guerra Potemkin quando os marinheiros estavam cansados de
serem maltratados, sendo que até carne estragada lhes era dada com o médico de
bordo insistindo que ela era perfeitamente comestível. Alguns marinheiros se
recusam em comer esta carne, então os oficiais do navio ordenam a execução
deles. A tensão aumenta e, gradativamente, a situação sai cada vez mais do
controle. Logo depois dos gatilhos serem apertados Vakulinchuk (Aleksandr
Antonov), um marinheiro, grita para os soldados e pede para eles pensarem e
decidirem se estão com os oficiais ou com os marinheiros. Os soldados hesitam e
então abaixam suas armas. Louco de ódio, um oficial tenta agarrar um dos rifles
e provoca uma revolta no navio, na qual o marinheiro é morto. Mas isto seria
apenas o início de uma grande tragédia.
Através da
descontinuidade, Eisenstein brinca com a “realidade” e inaugura um estilo de
montagem que inverte fluxos de movimentos e surpreende o cinéfilo a cada
cena. “Eu não sou realista, sou materialista, acredito que a matéria provoca em
nós sensações”, já dizia o cineasta. A sequência “A Escadaria de Odessa” tem 11
minutos. Nela se desenrola o massacre do povo de Odessa pelos cossacos - guarda
imperial do Czar russo. Mulheres, crianças e homens desarmados são aniquilados
sem qualquer economia dramática. Eisenstein procura mostrar simbolicamente como
se inicia e desenrola a revolução socialista. As referências à estratificação
social russa e a utilização de diversos signos simbólicos faz com que se
reproduza em torno do filme todo o movimento social do país.
A cena da escadaria é
uma sequência brilhante de enquadramento mostra uma câmara suspensa que corre
pelas escadarias e acompanha o movimento nervoso dos cidadãos encurralados.
Como não havia trilhos de travelling e muito menos gruas, são surpreendentes as
possibilidades exploradas por Eisenstein, que utilizou com maestria a câmera
subjetiva nesta sequência. Nota-se também aí o descarte da verossimilhança, uma
vez que a escada parece nunca acabar, pois as pessoas correm e não chega a
lugar nenhum (a contraposição entre o tempo da narrativa e o tempo da
realidade).
O jogo de oposições
em conflito fica claro no momento em que os cidadãos em pânico correm em
direções contrárias e atravessadas. Não há mais união aqui, pois cada um luta
famigeradamente pela sua própria sobrevivência. O pavor é tamanho que até mesmo
uma mãe, que tenta fugir com o filho da mira das baionetas sanguinárias, apenas
percebe que a criança ficou para trás após algum tempo. Nesta cena, um
inesquecível semblante surge no rosto daquela mulher, que presencia o
desfalecimento do seu filho e o posterior atropelamento do corpo pelos demais,
que ainda têm esperança de permanecerem vivos. É comum o close no rosto dos
cidadãos, mas não se vê o rosto dos cossacos, pois eles não são personagens em
si, são apenas símbolos de um sistema político vigente, opressor e cruel.
Surge então uma das mais
belas cenas do filme. A mãe, em prantos com o seu filho ferido no colo,
solicita aos cossacos que poupem a população. A cena, numa perspectiva
alegórica, faz uma clara referência ao fato histórico real conhecido como o “estopim
da revolução russa”. O faminto e miserável povo russo acreditava que o Czar
Nicolau II não sabia que eles passavam fome e viviam na miséria. Portanto,
decidiram escrever uma carta mostrando-lhe a situação, na esperança de que o
imperador se sensibilizasse e os ajudasse. No entanto, ao receber a carta, o
Czar considerou a iniciativa uma insolência e ordenou aos cossacos o imediato
extermínio de todos. Os cossacos se postaram e, ao grito de permissão para
atirar, massacraram toda a população. A cavalaria completou o extermínio
cegando, com furos nos olhos as crianças e mutilando o ventre das mulheres
grávidas. A sequência da Escadaria de Odessa faz uma representação exitosa
deste fato histórico.
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