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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Cine Dica: Durante a Quarentena Assista: 'O Caminho de Volta'

Sinopse: Um ex-atleta considerado um fenômeno do basquete em seus anos de colegial luta contra o alcoolismo ao mesmo tempo em que encara as dificuldades de um emprego monótono.  

Na minha análise especial sobre o filme "Hollywoodland" (2006) eu havia feito um paralelo sobre a vida artística de Ben Affleck com a do ator George Reeves. Em ambos os casos, são dois atores que buscavam o equilíbrio na vida pessoal e profissional, mas que acabaram caindo em desgraças distintas, porém, quase semelhantes uma da outra. Se Georges Reeves acabou se matando assim como foi retratado no filme, por outro lado, o seu intérprete Ben Affleck até hoje busca a sua redenção em meio aos altos e baixos que a vida lhe dá.
Nem irei me estender sobre isso, pois basta ler aquela minha análise, mas posso dizer que de altos e baixos, Affleck parece que insiste em voltar, ao menos, em um equilíbrio para que possa continuar atuando e vivendo. Em um cenário como Hollywood, do qual o dinheiro fala mais alto, parece uma tarefa quase impossível, mas não para aqueles que reconhecem que é preciso recomeçar do zero. "O Caminho de Volta" é um filme em que o ator procurou participar para colocar para fora os seus próprios demônios internos e pelo visto obteve certo êxito.
Dirigido por Gavin O'Connor, do filme "O Contador" (2016), o filme conta a história de um ex-atleta Jack Cunningham (Affleck) considerado um fenômeno do basquete em seus anos de colegial, mas que luta atualmente contra o alcoolismo e que encara as dificuldades de um emprego monótono. Ele então recebe a oportunidade de treinar um time de basquete e recomeçar. Na medida em que o time começa a vencer, a sua vida melhora, mas as vitórias não parecem suficientes ao ponto de salvá-lo.
Já na abertura constatamos que o intérprete e personagem nasceram um para o outro, pois ali não é somente Jack Cunningham, mas sim Ben Affleck nos dizendo sobre o ponto em que ele havia chegado. Gradualmente testemunhamos o dia a dia desse personagem, onde constatamos que há algo de errado com ele, mesmo quando as respostas sobre isso não venham logo de imediato. Porém, enquanto as respostas não chegam, testemunhamos a redenção surgir aos poucos, onde sempre torcemos pela sua virada, mesmo quando ela não parece vir tão facilmente com ajuda do basquete.
Tecnicamente Gavin O'Connor consegue nos dar um filme dinâmico, mesmo quando ele não aparenta em um primeiro momento. Com uma fotografia caprichada, a realidade apresentada ali não é muito diferente da nossa, onde não vemos somente o protagonista tentando sobreviver, como também demais personagens secundários que ralam para manter a sanidade perante as adversidades que surgem no dia a dia. Qualquer semelhança da história comparada com a nossa do lado de cá da tela não é mera coincidência, pois a intenção, talvez, seja exatamente essa.
O filme acaba por alguns momentos se tornando até mesmo bem dinâmico, principalmente quando é mostrado os jogos de basquete. Logicamente são esses momentos que fazem ficarmos presos na cadeira, pois torcemos para que o time se reerga e faça com que o protagonista consiga o tão sonhado equilíbrio na vida. Porém, as coisas nunca são realmente fáceis de serem obtidas.
Em seu ato final, constatamos que tanto o personagem como o seu intérprete precisam cair para voltarem a se reerguer. Affleck demonstra total consciência disso e ao vermos Jack Cunningham admitir que precisa de ajuda testemunhamos o intérprete deixando por um momento o seu personagem de lado e assumindo que realmente precisa recomeçar um novo percurso. Pode não ser um final que alguns de nós imaginávamos, mas constatamos que isso fez com que o ator se sinta mais do que satisfeito com ele mesmo.
"O Caminho de Volta" é sobre a busca pela redenção e do desejo de nos sentirmos vivos, mesmo quando estamos ainda enfrentando uma grande tormenta e que nos persegue sem trégua.  

Onde Assistir: Google Play Filmes. 

Leia também: Hollywoodland.

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domingo, 17 de maio de 2020

Cine Dica: Durante a Quarentena Assista: 'Hollywoodland' (2006)


Sinopse: O detetive Louis Simo investiga a morte do ator George Reeves, o Super-Homem da televisão americana da década de 50. Porém, um romance com a esposa de um executivo de Hollywood acaba em assassinato. 

Ben Affleck é um ator que transitou entre o sucesso e o fracasso ao longo de sua carreira. Quando se consagrou como um ótimo roteirista ao lado de Matt Damon pelo seu trabalho em "Gênio Indomável" (1997), o astro acabou sentindo na pele o lado bom e ruim de uma Hollywood obcecada pelo lucro. Mesmo colecionando sucessos em super-produções como "Armagedom" (1998) e "Pearl Harbor" (2001), Affleck não escapou de críticos ferozes que eram obcecados em sempre criticar a sua atuação em cena.
Com isso, o ator acabou se enveredando para o lado da comédia no início dos anos 2000, mas só piorando a sua imagem como ator. Talvez o ápice da mediocridade tenha sido em 2003, onde atuou na esquecível comédia policial "Contato de Risco", ou na adaptação das HQ de "Demolidor", mas que, infelizmente, os engravatados da Fox da época não sabiam lidar com a pepita de ouro que tinham em mãos. O ator só daria a volta por cima através do ramo da direção a partir do filme "Medo da Verdade" (2007), "Atração Perigosa" (2010) e "Argo" (2012), sendo que esse último ele levaria o Oscar de melhor filme.
Com a carreira estabilizada, Ben Affleck se renderia novamente para adaptações das HQ para o cinema, mas mal sabendo no que se envolveria. Ambiciosa em fazer o seu universo compartilhado assim como a sua concorrente Marvel Estúdios, Warner/DC chamou o ator para ser Batman em "Batman vs Superman" (2016) e surpreendendo o público e a crítica pelo seu esforço ao conseguir fugir de comparações com relação aos seus antecessores. O problema é que a crítica se dividiu com relação ao filme, o que fez o ator cair em desânimo e só piorando cada vez mais a situação com a chegada do problemático "Liga da Justiça" (2017).
Com isso, o ator largou o capuz do morcego e voltando para a cadeira de diretor pelo filme "Lei da Noite" (2016), mas colecionando mais um fracasso e fazendo ele cair em desgraça. Separado de Jennifer Garner, o ator acabou caindo na bebida, drogas e sendo obrigado a se internar em uma clínica de reabilitação. Atualmente em recuperação, o ator aguarda por uma nova virada de mesa na carreira, mas para isso terá que aguardar esses tempos de pandemia.
Escrevi todo esse texto até aqui porque é curioso observar quando um ator consegue obter um papel do qual consiga se identificar e assim conseguir obter a melhor atuação de sua carreira. Pegamos, por exemplo, Robert Downey Jr que, de uma carreira problemática e pessoal, deu uma volta por cima graças ao filme "O Homem de Ferro" (2008), mas conseguindo esse feito principalmente pelo fato que o ator e personagem terem muito em comum. É aí que chegamos finalmente ao filme "Hollywoodland" (2006), filme protagonizado por Ben Affleck em uma época em que ele estava transitando entre o fracasso e o sucesso e que merece ser redescoberto pelo cinéfilo.
Dirigido por Allen Coulter, o filme começa em 16 de junho de 1959. O ator George Reeves (Ben Affleck), mais conhecido como o protagonista da série de TV "As Aventuras do Super-Homem", comete suicídio. O ato ocorreu no quarto de Reeves, deixando sua namorada, a aspirante a atriz Leonore Lemmon (Robin Tunney), e milhões de jovens fãs boquiabertos. Helen Bessolo (Lois Smith), a mãe de Reeves, não se conforma com a possibilidade de que seu filho tenha se suicidado e contrata o detetive Louis Simo (Adrien Brody), que tem por missão provar que o caso na verdade foi de assassinato. Simo passa a investigar Reeves, descobrindo seu antigo caso com Toni Mannix (Diane Lane), esposa de um poderoso executivo do estúdio MGM.

O filme como um todo sintetiza como era a Hollywood dos anos 50, mais precisamente sendo uma época em que o desejo do público em conseguir entretenimento se dividia entre o cinema e a tv. Em uma época em que a tv ganhava espaço, os executivos dos grandes estúdios caçavam sem trégua pelo lucro e não se importando com inúmeros atores e atrizes que poderiam ser excluídos. Nesse cenário temos então George Reeves, ator com certo talento, mas jamais reconhecido com relação ao que tinha por dentro.
Pode-se dizer que George Reeves foi um desses primeiros exemplos de talento que transitaram do cinema para a tv, mas numa época que trabalhar para tv seria o mesmo que dar um tiro no pé e ser duramente criticado pela crítica especializada. Embora tenha se tornado um grande clássico, a série "Superman" se tornou um estigma para o ator, do qual jamais alcançou o seu real sonho de se tornar uma grande estrela de cinema e culminando em sua trágica e precoce morte. É nesse ponto que o filme começa, do qual se questiona de que maneira realmente o astro morreu e explorando o outro lado de uma Hollywood.
Com uma belíssima fotografia e uma edição de arte caprichada, o filme retrata com perfeição todo esse lado glamoroso daqueles tempos longínquos, mas não escondendo as ambições, festas, orgias e o lado conservador hipócrita de uma sociedade norte americana.  Louis Simo (Adrien Brody) se torna o nosso guia ao adentrar nesse universo de show e luzes artificiais, para descobrir o que realmente aconteceu com George Reeves, mas testemunhando segredos dos quais muitos poderosos de estúdios gostariam que permanecessem quietos. Na medida em que o filme avança, testemunhamos as engrenagens de um cinema movido pelas aparências, da qual a boa etiqueta é essencial para os futuros sucessos milionários e para agradar os executivos ambiciosos.
Basicamente há duas linhas temporais na trama, da qual uma se passa no passado, revelando o passado de George Reeves e no presente, onde vemos Louis Simo investigando a sua vida, mas também tendo problema pessoais que o afetam ao longo de sua jornada. Roteiro fortalece a ideia de que ambos os protagonistas tem muito em comum, principalmente por serem afetados por esse universo movido pelo dinheiro, mas ambos tendo destinos diferentes um do outro. A recém saído dos sucessos como "O Pianista" (2002) e "King Kong" (2005), Adrien Brody nos brinda com uma grande atuação e provando que soube sobreviver através de bons papeis após ter recebido o Oscar de melhor ator pelo filme de Roman Polanski.
Porém, o filme pertence mesmo a Ben Affleck. Vindo de fracassos e desapontamentos da época, o ator se entrega de corpo e alma ao interpretar George Reeves, enxergando no papel uma forma de exorcizar os seus próprios demônios e o desapontamento que sentia com relação a fábrica dos sonhos daqueles tempos. O filme, portanto, é uma curiosa crítica crua sobre a Hollywood, da qual cria grandes astros, mas não se importando quando existe a possibilidade de tritura-los.
Com grandes atuações de Diane Lane e Bob Hoskins, "Hollywoodland" é um retrato ambicioso de uma "Hollywood" do passado, mas não muito diferente se ela for comparada ao nosso presente, onde grandes astros são revelados, mas que sofrem quando alguns não conseguem alcançar os seus tão sonhados desejos.  

Onde assistir: Em DVD, Blu-Ray e pelo Youtube. 

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