Sinopse: Carla e Gabriel decidem fazer um churrasco para receber seus amigos na nova casa. O que eles não imaginam é que este encontro, inicialmente despretensioso, vai se tornar um hilário e desconcertante exercício de autoconhecimento.
O clássico "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?" (1966), de Mike Nichols, com certeza serviu de inspiração para outras longas metragens que exploram o lado pessoal e psicológico dos personagens de uma trama que ocorre em um único cenário. Embora eu não tenha assistido o filme italiano "Perfeitos Desconhecidos" (2016) ele segue uma premissa similar e cujo ótimo resultado fez com que ganhasse até mesmo refilmagens de outros países. Pois bem, a versão brasileira de "Perfeitos Desconhecidos" (2025) agrada por saber transitar entre o humor para elementos dramáticos na dose certa.
Dirigido por Júlia Jordão, a trama conta sobre Carla e Gabriel, um casal que decide fazer um simples churrasco para receber os amigos como uma inauguração de casa nova. No entanto, o que era para ser um encontro casual e sem grandes emoções, serve como palco para mudar a vida toda do casal quando a filha deles, Alice, uma adolescente cheia de opinião e influencer das redes sociais, confronta sua mãe. O motivo do embate é causado pelo fato de Carla querer se intrometer na vida da filha e espionar o seu celular e por conta disso surge um desafio para os presentes em deixar que todos ouçam as mensagens e ligações de cada um.
Inicialmente me parecia que o filme era aquela típica comédia brasileira sem sal e que não faz com que a gente consiga rir em momento algum. Porém, a realizadora Júlia Jordão já nos diz que há algo de diferente aqui, principalmente com uma preocupação de seguir os personagens centrais da trama e termos uma noção de suas personalidades quando não estão sendo observados. A partir do momento em que todos estão juntos, se tem um jogo formado por cada um em tentar esconder os seus segredos mais íntimos e dos quais pode magoar o próximo. O roteiro explora sobre até que ponto podemos obter uma segunda vida através das redes sociais, sendo que no final das contas é um retrato de uma sociedade menos sociável e cada vez mais adentrando a realidade virtual de falsas promessas que quase nunca são cumpridas.
Todos se saem bem em seus respectivos papéis, sendo que é bom rever depois de muito tempo Danton Mello em cena e provando que não vive da sombra do seu irmão Selton. Débora Lamm e Giselle Itié formam um casal complexo, cujo passado volta à tona e faz com que ambas descubram segredos uma da outra. Já Sheron Menezzes nos brinda com uma atuação intensa, onde tememos pela sua ação e reação na medida em que as revelações de cada um vêm à tona, assim como também a desordem que cada vez mais afeta a casa na medida em que o tempo avança.
No final das contas, é um retrato curioso sobre o retrato familiar atual em meio a tantos meios de comunicação, informação e cujo lado mais simples do ser humano acaba ficando de lado e tornando a vida mais pesada para dizer o mínimo. Ao final, constatamos que o melhor de tudo é colocar tudo para fora, mesmo com a possibilidade de perder alguma coisa, mas no final das contas tudo ficará mais leve em seguida. Embora o minuto final de harmonia soe um pouco forçado, isso não tira os méritos do filme como um todo.
"Perfeitos Desconhecidos" nos faz rir das imperfeições de indivíduos que camuflam os seus segredos através de uma segunda vida que os faz serem menos humanos.
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