O Oscar de 1999 é apontado por muitos como uma das piores cerimônias da história, ao consagrar o filme "Shakespeare Apaixonado" (1998) com o prêmio de melhor filme ao invés de "O Resgate do Soldado Ryan"(1998). Nem irei me estender muito pois essa cerimônia é ainda mais dolorosa para os brasileiros, porém, já houve outras injustiças piores ao longo da história e motivos é o que não falta.
Porém, há alguns casos que merece dar uma olhada mais de perto e decidi dar uma chance para "Sinfonia em Paris" (1951), filme que levou o prêmio máximo perante títulos como "Uma Rua Chamada Pecado", Um Lugar ao Sol (1952) e "Quo Vadis?" (1951). O filme foi dirigido por Vincente Minnelli, sendo apontado pelos historiadores do cinema como o pai do gênero musical, o que não está muito longe da verdade, pois é preciso muito empenho e dedicação para elaboração de determinados números musicais vistos neste filme. Além disso, o realizador estava enfrentando um drama pessoal na época, já que até então a sua esposa Judy Garland vivia com problemas de saúde devido aos seus vícios e fazendo com que o realizador quase tivesse um ataque dos nervos.
Ambos se separaram após a produção e seguindo caminhos distintos na carreira. O filme veio em um momento em que o gênero musical não estava no auge de sua fase de ouro, mas como Hollywood sempre gostava de realizar obras para entreter a massa era uma questão de tempo para que um longa como esse fosse realizado. O filme conta a história de Jerry Mulligan (Gene Kelly), que lutou pelo exército americano na Segunda Guerra Mundial, mas após isso decidiu viver em Paris. Lá ele tenta ganhar reputação por seu trabalho como pintor.
Adam Cook (Oscar Levant), seu amigo, é um pianista que está batalhando para vencer na vida ao lado de seu parceiro musical, o cantor francês Henri Baurel (Georges Guetary). Porém, as coisas ficam complexas quando Jerry e Henri passam a disputar o amor da bela Lise Bouvier (Leslie Caron), mas sem ao menos saberem disso. filme foi produzido ainda no auge do technicolor e se tornando na época o segundo em cores ao receber Oscar de Melhor filme, sendo que o primeiro foi "E o Vento Levou" (1939).
O filme marca a estreia da atriz Leslie Caron no cinema, sendo apontada na época como uma das mais belas descobertas daquele período e tendo um par de pernas que levou o público masculino ao delírio. Isso foi o suficiente para lhe garantir já na estreia sua primeira indicação ao Oscar e, posteriormente, atriz voltaria a trabalhar com Vincente Minnelli em "Gigi" (1958), também ganhador do Oscar de melhor filme. Como sempre, Gene Kelly faz o que melhor fez em sua carreira, ao criar para si um personagem que nos soa sempre amigável e tendo um talento no sapateado como um todo.
Pode-se dizer que os seus maiores sucessos de sua carreira ele praticamente interpretou o mesmo tipo de personagem, mas isso não era um defeito em um tempo em que os estúdios somente pensavam em comandar grandes espetáculos e sendo algo que não é muito diferente de hoje em dia. Pode-se dizer que esse longa, ao lado da obra prima "Cantando na Chuva" (1952), sejam os seus maiores feitos no cinema e sendo mais do que suficiente para entrar no imaginário da cinefilia.
Quanto a trama em si ela não é muito diferente das típicas comédias românticas, mas tudo embalado com inúmeros números musicais que impressionam até hoje e que com certeza boa parte do orçamento foi investido nestes momentos. Vale destacar que boa parte do filme não foi realizada em Paris, sendo que o deslocamento sairia muito caro e fazendo com que os produtores rodassem as cenas em estúdio. Se por um lado a Paris vista no filme pode soar artificial hoje em dia, ao menos, a belíssima edição de arte compensa todo o resto, principalmente pelo fato dela se casar com o lado artístico do protagonista como um todo.
Falando nisso, é preciso tirar o chapéu para os vinte minutos finais do longa, onde o protagonista começa a se imaginar adentrando em suas diversas pinturas e protagonizando inúmeros números musicais que enchem os nossos olhos. Cenários gigantescos, cores vibrantes, figurinos exóticos e muita dança ao ponto de não sabermos onde começa e onde termina. O filme somente peca com o seu final feliz forçadamente inserido no último minuto de projeção, sendo que o close na rosa onde se encerra o último número musical poderia ser muito bem o encerramento da história.
Porém, isso não tira a força da obra como um todo, pois revisto hoje nos dá uma dimensão de como funcionava a Hollywood de antigamente, sempre querendo moldar grandes espetáculos para fazer com que o público se esqueça do mundo real em alguns momentos. Não é nem de longe melhor que "Uma Rua Chamada Pecado" ou "Um Lugar ao Sol", mas pode sim ser apreciado hoje sem esse peso de comparação. Em tempos de "Coringa - Delírio a Dois" (2024) nunca é tarde demais para que essa geração atual descubra como eram os filmes musicais de antigamente.
"Sinfonia em Paris" é um clássico que melhor nos diz como Hollywood de tempos mais dourados queria entreter o seu grande público a todo custo.
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