Bom, chego ao final desse especial
sobre os filmes de Brian de Palma e que antecede minha participação do curso
sobre ele pelo CENA UM. Abaixo, segue uma matéria especial de um filme ainda inédito
dele em nossos cinemas e que merece ser conferido, não importa de que forma.
Guerra Sem Cortes
(Redacted)
Sinopse: Um esquadrão
de soldados americanos está parado em um posto no Iraque, convivendo com a
população local e a mídia instalada na região. Cada grupo destes é afetado pela
guerra de forma distinta, e suas histórias são contadas pelas imagens criadas
no momento: um soldado produz um vídeo-diário, uma equipe francesa filma um
documentário, sites árabes colocam cenas de insurgentes plantando bombas,
mulheres mandam mensagens para seus maridos via blogs e o You Tube revela a
barbaridade existente na guerra.
Durante boa parte da
minha vida que assisto filmes, tanto no cinema como em casa, normalmente jamais
recuo ou fecho os olhos quando assisto uma imagem do mais puro terror, Talvez
porque lá no fundo do meu subconsciente, algo grita dizendo que aquilo, por
mais forte que seja, é uma ficção. Contudo, talvez o ser humano seja preparado
a assistir a uma imagem forte, porém artificial, mas jamais estará preparado
para ver o horror da realidade e meu “ser” não estava preparado para os
segundos finais de uma das ultimas obras realizadas por Brian De Palma.
Mas cinema é isso:
seja para entreter, fazer reflexão ou simplesmente dar uma tapa na cara e fazer
o cinéfilo acordar para a realidade. Num mundo “pós governo Bush”, haverá
outros filmes como esse, que não terão papas na língua para escancarar a
idiotice que foi a invasão do Iraque, mas enquanto não houver mais filmes sobre
o assunto, esse será o melhor representante do que foi toda essa guerra. Com
pouco mais de cinco milhões de dólares do bolso e feito no formato digital, De
Palma cria um falso documentário que retrata a historia real de um grupo de
soldados norte americanos que estupra e assassina uma jovem de 15 anos
Iraquiana, além de fuzilar toda a sua família por meio de um ato cruel e sem
sentido. De Palma culpa quem nesse episódio? Culpa o governo norte americano
que inventou a mais fajuta desculpa para invadir aquele país? Culpa os soldados
despreparados que não souberam administrar seus atos em meio à guerra? Culpa a
própria guerra em si, que faz nascer o pior de nos?
A resposta para isso
talvez seja um tanto difícil e que com certeza, para encontrá-la, se alonga por
muito tempo a busca, mas está mais do que provado que De Palma, assim como
muitos, foi contra a essa guerra que acabou tirando inúmeras vidas de ambos os lados.
O filme não tem heróis e tão pouco vilões, pois tudo que se vê são seres
humanos, que acabam por ficarem cegos demais perante o que acham certo ou
errado, perante as suas crenças duvidosas e perante a espera interminável pelo
inevitável ataque vindo de qualquer lugar. Tudo que se vê, são pessoas que se perdem
nas estribeiras de um inferno que não pediram para estarem ali. E para fazer
todo esse terrível cenário, De palma está quase que irreconhecível, pois o
filme em nada lembra sua pirotecnia com a câmera e sim lembra mais um filme
realmente amador e cru e o diretor aproveita para escancarar que, por mais que
o governo tente censurar um determinado ato, não existe mais como. Isso graças à
tecnologia rápida atual como a internet, em que inúmeras pessoas usam e abusam
para escancarar e fazer a sua critica, um retrato mais do que atual e que o
diretor soube muito bem retratar
Os momentos de pura
tensão como o ato do estupro e a decapitação de um determinado personagem feito
por um grupo terrorista, são de momentos que o espectador prende a respiração.
Contudo, o diretor jamais nestes momentos quer ser 100% explicito e com isso a
câmera se afasta, ou determinado personagem fica na frente do aparelho, sendo
isso tudo para fazer o espectador ficar ainda mais aflito, ou fazer-lo imaginar
o que esta acontecendo nos segundos em que o diretor tenta esconder o terror
dos nossos olhos, mas que o pior estava por vir. Após a declaração em forma de
desabafo de um determinado personagem sobre o que viu na guerra, o diretor joga
na tela fotos de cenas que mostram o horror desse conflito, como mortos e
feridos, mas nada me preparou para a foto da verdadeira menina de 15 anos estuprada
e morta pelos soldados norte americanos. Sinceramente não esperava por aquilo e
foi um verdadeiro baque para o meu cérebro que tentou, mas não conseguiu
esquecer-se daquela cena. Alias isso me fez me lembrar de outro filme de
guerra, a animação Valsa com Bashir, no qual o protagonista tenta, mas não se
lembra do que lhe ocorreu na guerra do Líbano, sendo que o motivo veio como
resposta no final do filme com cenas terríveis dessa guerra no qual o
protagonista, perante o horror do que viu, subconscientemente fez por esquecer
daquilo tudo. No meu caso não participei de uma guerra, e sim simplesmente vi
uma terrível cena na qual, depois da sessão tentei, mas não consegui esquecer,
felizmente, a luz do sol da tarde me serviu de consolo.
Em Apocalipse Now foi
dito que a guerra era um horror. Em Guerra ao Terror foi dito que a guerra era
uma droga, sendo essas duas palavras não precisaram ser ditas no filme de Brian
de Palma, elas simplesmente irão soar na mente de cada espectador que for
assistir a esse filme, que é para poucos, mas basta um para dizer o que viu,
seja numa guerra ou em um filme que retrate ela de maneira real, nua e crua.
Nota: Infelizmente esse filme se
encontra ainda inédito nos cinemas e sem previsões de chegar em DVD no Brasil.
Tive o privilegio de participar de uma sessão especial e debate seguido no Cinebancários
de Porto Alegre tempos atrás. Para a direção dessa sala os meus parabéns.
Um comentário:
Parece mesmo ser um filme interessante. Muito sugestivo associar Brian De Palma ao poder da imagem, uma vez que várias imagens de seus filmes permanecem fortes nas mentes de quem assistiu, em especial as imagens com tons fortes de vermelho, como em Carrie e Os Intocáveis.
Abraços!
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