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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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domingo, 24 de maio de 2020

Cine Dica: Durante a Quarentena Assista: Reavaliando ‘Bird Box’


Quem me acompanha aqui pelo meu blog sabe que eu não fui nada generoso com a produção “Bird Box”, filme apocalíptico da Netflix que havia estreado tempos atrás. O problema é que, naquele texto, eu havia manifestado o meu desapontamento contra a própria plataforma, da qual dá um tratamento VIP para determinados filmes, ou séries que eles lançam com a sua marca, mas deixa de lado outras pequenas, porém, boas obras e sem divulgação nenhuma, como foi no caso, por exemplo, do ótimo longa metragem “Mary Shelley” (2017). Mas, talvez, eu tenha me precipitado no meu julgamento e tão pouco imaginava que o filme cairia no gosto popular de uma forma tão rápida e avassaladora.
Em uma semana, por exemplo, “Bird Box” atingiu a marca de 45 milhões de visualizações e se tornando o maior sucesso da plataforma streaming desde a sua inauguração. Só para se ter uma ideia, se pegarmos esses números e converte-los a uma estreia de um final de semana nos cinemas, é como se a obra tivesse faturado mais de R$ 400 milhões de dólares. Nada mal para uma produção que custou quase R$ 20 milhões de dólares para ser realizada.
O caso que “Bird Box” é aquele típico filme que é preciso ver ou rever uma segunda ou terceira vez para compreender a sua real proposta. Não que seja uma história complexa, muito pelo contrário, mas é um longa-metragem que contém, em suas entrelinhas, mensagens subliminares sobre os nossos temores atuais e dos quais nós mesmos não queremos enxergar. As criaturas que fazem com que as pessoas se matem só de olharmos para elas não seria uma metáfora sobre os horrores que testemunhamos no dia a dia, mas que nada fazemos para combate-la e nos entregando a total impotência?
As criaturas, aliás, jamais surgem na tela e temos somente um pequeno vislumbre de suas enigmáticas sombras no decorrer da obra. O cinema foi pioneiro na elaboração de criaturas assustadoras, mas das quais quase nunca a vemos, mas fazendo a gente temer pelo que não se vê. Portanto, é notório que os realizadores fizeram a sua lição de casa e não me surpreenderia se tivessem pegado clássicos como inspiração, que vai desde à “Tubarão” (1975); “Alien” ((1979) e “A Bruxa de Blair” (2016) como bons exemplos.
Claro que ainda o filme não escapou das comparações com o sucesso do passado que foi “Um Lugar Silencioso” (2018), mas isso é mais do que óbvio, já que ambas as obras questionam como as pessoas agiriam em situações em que não podem usar um ou outro dos seus sentidos. Esse, talvez, seja o maior trunfo da produção da Netflix, ao fazer com as pessoas do outro lado da tela se colocassem no lugar da protagonista e ficarem se perguntando de que maneira elas agiriam nas situações de puro sufoco. Não é à toa que surgiram até mesmo vídeos virais on line, onde certas pessoas criavam desafios para si com os olhos vendados e causando até mesmo preocupação dos próprios realizadores do longa.
Com relação aos telespectadores da plataforma, o que ainda me deixa mais espantando, é que muitos deles em entrevistas não tinham o menor conhecimento sobre quem era atriz Sandra Bullock. Revelada ao mundo nos anos 90 pelo filme de ação “Velocidade Máxima” (1994), além de ser ganhadora do Oscar pelo filme “Um Sonho Possível” (2009) , Bullock sempre esteve em evidência no cinema, mas pelo visto era uma figura desconhecida para aqueles que somente assistem filmes ou séries em casa. “Bird Box”, portanto, revelou uma grande fatia de público que, talvez, não pise numa sala de cinema já um bom tempo.
Logicamente que isso já está gerando um caloroso debate sobre o papel das plataformas de streaming atualmente e de como elas têm atraído até mesmo roteiristas e diretores que buscam mais liberdade artística do que no próprio cinema. Sandra Bullock, por exemplo, fazia um bom tempo que não nos brindava com uma boa atuação no cinema, mas aqui ela carrega o filme nas costas e ofuscando até mesmo intérpretes de quilates como John Malkovich e Sarah Paulson. Polêmicas à parte, talvez tanto “Bird Box”, como também o maravilhoso “Roma” (2018), tenham aberto um leque sobre o futuro das plataformas de streaming e fazendo a gente se perguntar de que maneira os engravatados de Hollywood irão se comportar daqui em diante.
“Bird Box" é, portanto, um filme que foi lançado sem a intenção de mudar a vida de ninguém, mas se tornando rapidamente num filme cultuado e gerando até mesmo debates acalorados desde o seu lançamento.


Onde assistir: Netflix. 

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