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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Cine Dica: Em Cartaz: 'O Escândalo' - Por detrás das cortinas

Sinopse: O gigante do telejornalismo e antigo CEO da Fox News, Roger Ailes, tem seu poder questionado e sua carreira derrubada quando um grupo de mulheres o acusam de assédio sexual no ambiente de trabalho.

A mídia molda os seus lideres políticos para adquirir com isso algum beneficio próprio, mas sem nunca pensar o que virá em seu devido tempo. Em meio a essas engrenagens há sempre os poderosos que se acham os donos da palavra e acham que podem fazer o que bem entenderem através de uma boa lábia. Embora curto, "O Escândalo" coloca mais fogo na fogueira em um dos maiores escandalos da mídia conservadora e sensacionalista americana.
Dirigido por Jay Roach, o mesmo diretor do filme "Trumbo: Lista Negra" (2015), o filme conta a história real do  gigante do telejornalismo e antigo CEO da Fox News, Roger Ailes (John Lithgow) que tem o seu poder questionado e sua carreira derrubada quando um grupo de mulheres o acusam de assédio sexual no ambiente de trabalho. Ao mesmo tempo estão ocorrendo as eleições que podem dar a vítoria de Donald Trump para se tornar o novo presidente dos EUA. O jogo está feito, mas a que preço?
Com uma edição agiu nos primeiros minutos, onde a jornalista Megyn, intepretada por Charlize Theron, apresenta as entranhas do jornalismo, temos então uma noção do verdadeiro circo que é na forma de como manipular a opnião pública e fazendo de pessoas como Donald Trump chegar a um poder do qual jamais poderia alcançar. A Fox Nesws, por exemplo, não é muito diferente da nossa Record, controlada por conservadores que se dizem a serviço de Deus e da família, quando na verdade tudo não passa de uma grande hipocrisia. É nesse cenário que os principios das pessoas são postos a prova e dos quais são testados no limite do bom senso.
Acima de tudo, o filme chega em uma hora em que a própria Hollywood se viu pega em meio a vários escandalos sexuais e tocar na ferida através dos filmes nada mais é do que exorcisar os seus próprios demónios antes que seja tarde demais. Com isso temos três mulheres com personalidades fortes que, embora com posicionamento politicos distintos, se veem na mesma situação e da qual precisam se ajudar mesmo que de forma indireta. O primeiro trailer já dava pistas sobre isso, mas reservando o lado mais cru sobre o assunto.
Como o tema é espinhoso, não bastava somente uma boa direção, como também um elenco de peso. Charlize Theron, Nicole Kidman e Margot Robbie estão ótimas em seus respectivos papeis, sendo que a última interpreta uma personagem ficticia, mas que sintetiza cenas reveladoras de toda a dor e humilhação que muitas mulheres devem ter passado nas mãos de Roger Alles. Esse, aliás, é interpretado com intesidade pelo ator John Lithgow e fazendo com que sintamos repulsa pela sua figura de forma imediata.
Acima de tudo, é um filme que fala sobre o que nos atrai para o poder e até que ponto podemos nos vender. Trabalhamos para o sistema, mas não significa que venderemos a nossa pessoa para somente subirmos alguns degraus durante a vida. Em tempos em que somos forçados a trabalhar em um cenário tomado pela extrema direita ao redor do mundo, nunca é demais lutarmos para defendermos a nossa pessoa e ajudar a pessoa próxima que foi abusada.
Vencedor do Oscar de melhor maquiagem deste ano, "O Escândalo" é apenas a ponta de um grande iceberg, onnde muitas mulheres são abusadas por detrás das cortinas, mas cabe as mesmas colocarem um ponto final nessa angústia. 


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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Cine Dica: Em Cartaz: Arlequina em Aves de Rapina - A palhaça está a solta

Sinopse: Quando o mais terrível e narcisista vilão de Gotham, Roman Sionis, e seu braço direito, Zsasz, começam a caçar uma jovem chamada Cass, a cidade é virada de cabeça para baixo em busca da garota.  

Quando "Batman vs Superman: A Origem da Justiça" (2016) dividiu a opinião do público e da crítica os engravatados da Warner/DC logo foram modificar a edição final de filmes que viriam a seguir, como no caso de "Esquadrão Suicida" (2016) e "Liga da Justiça" (2017). O resultado foi dois filmes que perderam um pouco de sua identidade própria e desagradando aqueles que estavam com a expectativa nas alturas. A partir daí o estúdio optou em deixar de lado o universo compartilhado e optando, novamente, para que cada filme tivesse sua identidade própria falando mais alto.
Porém, apesar de "Esquadrão Suicida" ter se tornado o que se tornou, a única coisa boa que saiu dessa tempestade foi Arlequina sendo interpreta por Margot Robbie. Descoberta por Martin Scorsese em "O Lobo de Wall Street" (2013), atriz capitou de imediato a essência da personagem, ao ponto dela se sentir bem à vontade interpretando a personagem quando ela surge em cena. A figura de Margot Robbie como Arlequina se tornou algo viciante entre as amantes de cosplay e se tornando cada vez mais comum vermos meninas vestidas de Arlequinas em determinados eventos. Essa mania se fortalece ainda mais com a chegada  "Arlequina em Aves de Rapina", filme divertido, colorido e que irá fazer as fãs da personagem irem ao delírio.
Dirigido por Cathy Yan,o filme mostra Arlequina (Margot Robbie), Canário Negro (Jurnee Smollett), Caçadora (Mary Elizabeth Winstead), Cassandra Cain e a policial Renée Montoya (Rosie Perez) formam um grupo inusitado de heroínas. Quando um perigoso criminoso começa a causar destruição em Gotham, as cinco mulheres precisam se unir para defender a cidade.
Embora a premissa acima possa parecer simples, o filme é carregado com um visual transloucado, cartunesco e que remete até mesmo momentos clássicos do desenho animado "Batman" dos anos 90 em que Arlequina havia aparecido pela primeira vez. Abertura, por exemplo, é feita em desenho animado, onde se faz um resumo sobre a origem da personagem e fazendo com a gente se localize na situação da trama facilmente. Falando nisso, a edição do filme faz com que a trama se torne dinâmica, mesmo quando a própria apresenta a história de uma forma não linear no primeiro ato, mas não comprometendo o resultado final como um todo.
Não é preciso ser gênio para adivinhar que Margot Robbie dá um show em cena e provando que atriz nasceu para a personagem do início ao fim. Curiosamente, não vemos mais uma Arlequina obcecada pelo Coringa, mas sim como uma mulher, mesmo que transloucada, querendo sua independência e voz própria. Em tempos de feminismo em abundância, estava mais do que na hora da personagem seguir essa linha.
Porém, é preciso reconhecer o talento das demais atrizes que surgem em cena. Embora com um visual diferente se formos comparar a personagem daqui com a que é vista na HQ, Jurnee Smollett interpreta uma Canário Negro que merece a nossa atenção e que sempre rouba a cena quando surge na tela. E se por um lado Mary Elizabeth Winstead como Caçadora se torna uma figura um tanto que desperdiçada na trama, do outro, Rosie Perez segura bem as pontas ao interpretar uma Renée Montoya com personalidade forte fiel a sua fonte.
Em termos de antagonistas o filme até que é bem servido com a presença de Ewan MecGregor como o principal vilão da trama. De novidades o personagem não traz nada, principalmente pelo fato de alguns momentos ele ser uma figura previsível em suas ações e fazendo a gente até mesmo adivinhar o que irá acontecer. O personagem somente ganha uma profundidade melhor graças ao talento de Ewan MecGregor, pois sem isso seria uma figura bem dispensável.
Em termos de ritmo, o filme é bem ao estilo vídeo clipe e cuja as cenas de ação se tornam em muitos momentos um verdadeiro balé. Não me admira, por exemplo, que a trilogia de ação "John Wick" tenha servido de inspiração para a realização de determinadas cenas de ação, principalmente aquelas protagonizadas pela própria Arlequina. Atenção para a cena em que a protagonista invade uma delegacia que é, desde já, uma das melhores cenas de ação da trama.
Infelizmente o filme cai na armadilha ao deixar no ar a possibilidade de se tornar uma possível franquia. Não que isso seja ruim, muito pelo contrário, mas pelo visto a Warner/DC ainda não aprendeu com os seus próprios erros e que, diferente da poderosa Marvel, é preciso pensar em um filme de cada vez e fazendo com que as suas obras tenham a sua personalidade própria. A personagem Arlequina já está fazendo isso, mas cabe os seus realizadores em saber fazer como irão locomove-la ao longo do percurso.
"Arlequina em Aves de Rapina" é divertido, colorido e que irá agradar os fãs da palhacinha louca em cheio. 


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quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Cine Dica: Em Cartaz: 'Era uma Vez em... Hollywood' - Vingança Tarantinesca

Sinopse: No final da década de 1960, Hollywood começa a se transformar e um astro e seu dublê tentam acompanhar os tempos das mudanças.    

O cinema autoral de Hollywood está morrendo, já que a fábrica dos sonhos de hoje se vendeu a franquias intermináveis e que geram o seu lucro seguro para os engravatados ambiciosos. Porém, Quentin Tarantino chegou em um momento de sua carreira onde tem pleno controle dos seus projetos, elaborando o seu universo tarantinesco ao seu modo e pouco se importando com os resultados. "Era uma Vez em... Hollywood" é mais do que a reconstituição de uma época, da qual é moldada por uma bela edição de arte e fotografia, como também é uma crítica ácida e lucida sobre um império cinematográfico que cria, mas que também destroe vidas. 
O filme conta a história de Rick Dalton (Leonardo DiCaprio), ator pouco experiente de faroestes do universo televisivo, seu melhor amigo, Cliff Booth (Brad Pitt), um dublê decadente e assistente pessoal do colega, e Sharon Tate (Margot Robbie), atriz pouco conhecida, que leva uma vida ao lado do marido, o cineasta Roman Polanski. Depois de uma breve abertura onde Rick participa de produções repletas de fórmulas manjadas, o filme adentra na vida pessoal dessas respectivas figuras cheias de sonhos, mas frustradas por dentro. Ao mesmo tempo, algo de ruim parece que há de acontecer a qualquer momento.  
Notasse que Quentin Tarantino se esbaldou na realização desse filme, pois ele retrata a transição de mudanças, em uma época em que Hollywood perdeu a sua inocência e se vendo obrigada a dar mais liberdade criativa para cineastas que dominariam os anos setenta. Porém, existe a explosão de sucesso da televisão, onde filmes e seriados televisivos eram rodados a profusão e dando sinais de que o público estava cada mais envolvido a essa fórmula de entretenimento. Qualquer semelhança com a nossa época atual, onde a Netflix domina diversos lares, não é mera coincidência. 
Tarantino, por sua vez, não poupa o gênero faroeste, que na época estava entrando em sua inevitável decadência, mas ganhando sobrevida pelo universo televisivo. É nesse cenário de mudanças que se encontram os personagens de Leonardo DiCaprio e de Brad Pitt, onde ambos não escondem suas frustações perante os obstáculos que a própria indústria proporciona, mas que buscam sobreviverem em meio a essa terra selvagem do faz de conta. Aliás, não deixa de serem hilários os momentos que o personagem de DiCaprio luta contra os seus próprios demônios em cenas em que a ficção e o real andam de mãos dadas de uma forma genuína.  
Falando nisso, o filme foi bastante divulgado pelo fato de retratar os últimos dias de Sharon Tate, antes dela ser brutalmente assassinada pelos seguidores de Charles Manson. Curiosamente, Tarantino não procura adentrar na vida pessoal da falecida atriz, mas sim somente observa-la em meio a uma realidade cheia de promessas. Embora com poucas falas, Margot Robbie está bem em cena, onde não deixa de ser comovente quando ela se encontra dentro de um cinema, sintetizando os sonhos de sua personagem e dos quais, infelizmente, jamais ela iria alcançar. 
Com relação ao terrível crime, Tarantino usa e abusa de momentos em que se constrói um verdadeiro cenário de suspense, cuja a sua câmera nos mostra muito mais do que os próprios personagens em cena podem enxergar.  Além disso, o cineasta não se importa de brincar com as nossas expectativas, com o direito de até mesmo de nos frustrar, mas não deixando de nos surpreender. E com relação ao brutal assassinato de Sharon Tate, eis que Tarantino nos prega uma peça corajosa, mas que com certeza serviu para respeitar a imagem de uma atriz que tinha tudo para se tornar uma grande estrela do cinema.  
É bem da verdade que Tarantino também não está nem aí para fazer um filme em que se reconstitui realmente os fatos verídicos, mas sim em criar o seu universo Tarantinesco e transitando ele em uma realidade que já é violenta por si só. Se em "Bastardos Inglórios" (2009) ele teve a capacidade de mudar os rumos da Segunda Guerra Mundial, aqui não seria muito diferente, mas com o intuito de corresponder aos nossos sentimentos mesmo que a gente negue isso. Assim é Tarantino e fazendo o cinema do seu jeito.  
Com participações especiais de Al Pacino e Kurt Russell, "Era uma Vez em... Hollywood" é um sopro de criatividade vindo de um cinema autoral que Quentin Tarantino nos proporciona e nada melhor do que agora em um momento em que a fábrica de sonhos se encontra viciada. 

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