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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 22 de junho de 2020

Cine Dica: Durante a Quarentena Assista: 'DESTACAMENTO BLOOD'


Sinopse: Spike Lee conta a história de quatro veteranos de guerra afro-americanos que voltam ao Vietnã à procura dos restos mortais de seu comandante e de um tesouro enterrado. Assista o quanto quiser. 

Spike Lee faz os seus melhores filmes quando a moral do mundo se encontra em declínio e quando governos, dos quais se dizem democráticos, nos pisam a todo momento. Em "Infiltrado na Klan" (2018), por exemplo, o cineasta faz um paralelo com o passado racista norte americano com o que acontece em nosso presente e fazendo a gente do lado de cá da tela constatar que a luta pelos direitos iguais continua a perdurar até hoje. "Destacamento Blood" ele volta a nos dizer que essa guerra continua, mas adentrando ainda mais nas entranhas podres de um governo que joga pessoas comuns em um verdadeiro inferno e marcando elas como um todo.
O "Destacamento Blood" acompanha um grupo de quatro veteranos de guerra afro-americanos. Eles decidem retornar ao Vietnã com a intenção de buscar os restos mortais de um líder de seu antigo esquadrão e de um tesouro enterrado. Porém, aos poucos, se dão conta que a guerra pessoal deles ainda não havia acabado.
Assim como no encerramento do filme "Infiltrado na Klan", Spike Lee decide jogar na tela vários momentos reais sobre a guerra do Vietnã na abertura do seu novo filme, onde se destaca o fato que muitos soldados negros foram jogados em uma guerra da qual não haviam pedido para ter ocorrido. Ao mesmo tempo, discursos como de Angela Davis e de martin luther king são destacados em meio a luta dessas pessoas que buscaram, acima de tudo, os direitos iguais em um país que se diz a terra das oportunidades, mas do qual nunca escondeu o seu preconceito e do qual construiu monumentos históricos com o sangue de pessoas escravizadas ao longo dos  séculos. Após esse prólogo, parece que o filme se encaminha para um tom mais leve, mas estamos falando de Spike Lee, o homem que fez "Faça a Coisa Certa" (1989) e portanto aguardem para a virada de mesa.
No primeiro ato vamos conhecendo o quarteto principal de amigos: Paul (Delroy Lindo), Melvin (Isiah Whitlock Jr.), Otis (Clarke Peters) e Eddie (Norm Lewis). Curiosamente, há um quinto personagem importante que se chama Norman (Chadwick Boseman) - o único que conhecemos apenas devido às lembranças do quarteto principal e fazendo a gente compreender o quanto ele era importante para eles. É pelos flashbacks, por exemplo, que o cineasta muda o quadro da tela, fazendo referência a tecnologia antiga do cinema quando se filmava, tantas nas cenas fictícias, como as cenas reais vindas do conflito. 
É notório que por essas cenas Spike Lee faz uma dura crítica ao modo como Hollywood retrata as inúmeras guerras em que os norte-americanos participavam, sendo quase sempre os heróis da trama, quando na verdade as atrocidades sempre vieram de ambos os lados do conflito. Se por um lado há uma dura crítica aos filmes de ação dos anos oitenta, em que sempre retrataram um exército formado por um homem só, por outro lado, ele não esconde a sua admiração pelo clássico "Apocalypse Now" (1979), sendo que o início da jornada do quarteto principal nas entranhas da floresta vietnamita explicita muito bem isso. É por esses momentos também que começamos a perceber que os fantasmas do passado que sempre assombram os protagonistas nunca sumiram e é aí que o filme muda o tom como um todo.
Embora esses personagens tenham seguido as suas vidas após o encerramento da guerra ocorreu que, infelizmente, a guerra mental e espiritual continuou prosseguindo em suas vidas. Isso é sintetizado pelo personagem Paul, brilhantemente interpretado por Delroy Lindo, do qual compreendemos toda a sua dor e ódio, ao ponto de até perdoamos o fato dele ter votado em Donald Trump e fazendo a gente compreender que o horror nos faz nublar a nossa visão com relação ao que é certo e errado. Embora a sua relação com o seu filho Melvin (Isiah Whitlock. Jr) seja um tanto que descartável em alguns momentos, ela acaba se tornando essencial na reta final da trama, principalmente quando o personagem quebra a quarta parede e nos brindando com um dos melhores momentos do filme.
Curiosamente, embora o filme se envereda mais para lado dramático da coisa, Spike Lee surpreende até mesmo nas cenas de ação e fazendo com que o filme não deva a nada a outros realizados com relação ao Vietnã. Porém, se por um lado houve clássicos que tentaram suavizar o conflito, aqui é tudo voltado para o lado do imprevisível e fazendo a gente constatar que nenhum deles estará seguro quando eles estiverem naquele inferno. Em sua reta final, Spike Lee nos bombardeia com o lado cru dessa guerra entre homem e governo que perdura até hoje e que cabe cada um de nós continuarmos com essa luta indo sempre em frente.
"Destacamento Blood" fala sobre como as guerras de ontem e hoje são inúteis e tudo que resta é somente salvar o irmão que está em perigo logo a frente. 

Onde assistir: Netflix

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