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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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sexta-feira, 19 de abril de 2024

Cine Especial: 'Matrix - 25 Anos Depois'

A primeira lembrança que eu tenho com relação ao clássico "Matrix" (1999) foi um vislumbre do filme em um noticiário de tv, onde ela ligou o filme ao massacre de Columbine e dizendo que os dois jovens que cometeram o ataque se inspiraram no longa. No final das contas não passava de um jornal sensacionalista e do qual nem me lembro o nome, mas cuja cena fiquei bastante curioso, já que mostravam homens e mulheres vestidos de preto e cujo visual costumava usá-lo nos tempos de escola antes mesmo de assistir a obra. O filme estreou em 21 de maio de 1999 no Brasil e o resto é história.

Me lembro que convidei uma amiga minha para assisti-lo na saudosa sala do Cine Imperial na rua da Andradas de Porto Alegre. O bom é que eu fui assistir ao filme sem saber sobre o que realmente se tratava a trama, pois os próprios críticos da época falavam somente por cima sobre isso e fazendo com que a verdadeira revelação sobre o que era a Matrix se tornasse bombástica. Bons tempos em que a internet da época só estava engatinhando e cuja palavra “spoiler” era desconhecida por todos.

"Matrix" também faz parte de uma época que os estúdios se arriscavam um pouco mais na hora de investir em uma ideia nova e que difere muito de tempos atuais em que tudo é moldado por franquias intermináveis. As irmãs Lana e Lily Wachowski eram carne nova nesta dança das cadeiras pelos estúdios, pois elas tinham uma ideia criativa para um filme, mas colocá-lo em prática era algo muito distante. O cenário mudou quando ambas dirigiram e lançaram o filme "Ligadas Pelo Desejo" (1996), um filme contemporâneo com uma pegada bem noir e que acabou conquistando o público e a crítica especializada tão exigente.

Com um orçamento de R$ 70 Milhões de Dólares, as cineastas obtiveram carta branca pelo estúdio Warner que viu no roteiro o potencial para se transformar em um grande filme. A trama mostra um jovem chamado Neo (Keanu Reeves), um nerd especialista em informática e que começa a ser perseguido por homens que se dizem agentes e que são liderados por Smith (Hugo Weaving). Não demora muito para que Neo seja acolhido por uma misteriosa equipe liderada por Morpheus (Laurence Fishburne) e Trinity (Carrie-Anne Moss) e que através deles ele descobre a surpreendente verdade sobre a nossa realidade.

Por mais original que nos passe a trama é notório que as cineastas beberam da fonte de inúmeras ideias já vistas por outras mídias. Uma realidade virtual, onde os seres humanos vivem em um eterno sonho enquanto as máquinas se alimentam de suas energias, é inspirado nas ideais extraídas de "O mito da caverna, onde existe um diálogo platônico apresentado no livro VII da República e tem como interlocutores Sócrates e Glauco. Sócrates apresenta uma situação na qual escravos se encontram presos no fundo de uma caverna com os olhos voltados apenas para o fundo dela."

É através do fogo que os escravos começam a enxergar sombras de pessoas que não se encontram no local e fazendo entender que existe uma realidade que está além daquele local. Além disso, as irmãs Wachowski são fãs da cultura japonesa, sendo que o visual do filme foi inspirado no subgênero ciberpunk e cujo mesmo sempre é adaptado em animes japoneses. Mas se há um anime que as irmãs cineastas realmente se inspiraram foi no clássico "Fantasmas do Futuro" (1995), sendo que sua abertura serviu claramente de inspiração para a realização de Matrix.

Com diálogos afiados e puramente filosóficos, o filme explora um pensamento que as vezes cutuca as nossas vidas sobre a possibilidade de vivermos em um mundo falso, ou que somos controlados por cordas invisíveis e fazendo a gente não ter realmente o controle de nossas próprias vidas. Era o final do século vinte, onde as pessoas cada vez mais estavam se questionando sobre o amanhã e o prelúdio de tempos em que começaríamos a ficar cada vez mais conectados através da internet, suas redes sociais e fazendo com que as pessoas não tirassem mais os seus olhos dos seus celulares viciantes. A meu ver não precisamos estar presos em uma Matrix como é vista no filme, pois já nos encontramos presos em um sistema que nos faz cada vez mais estarmos longe da realidade.

Além de uma trilha sonora eletrônica revolucionária, o filme possui efeitos visuais inéditos para época, sendo que o famoso "bullet time", entrou para a história. Em câmera lenta, há cenas em que vemos os personagens sendo focados, porém, em um giro de 360 graus e nos dando uma sensação dimensional, como se não houvesse limitações para a cena se expandir mesmo com as limitações das telas daquela época. Um efeito visual criativo, mas que foi copiado tanto que acabou sendo aos poucos esquecidos.

Curiosamente, as irmãs Wachowski parecem ser grandes fãs do mestre Alfred Hitchcock, pois o filme foi todo pensado visualmente através do storyboard e sendo um artificio que o mestre do suspense usava em praticamente todos os seus filmes. Isso é notado em alguns planos fechados, como na cena inicial onde vemos Trinity sendo emboscada pelos agentes e a polícia e como se cada cena tivesse sido extraída de uma HQ. Neste último caso, há quem diga que as realizadoras se inspiraram na HQ “Os Invisíveis” de Grant Morrison e sendo que o mesmo até chegou a dizer que o filme é um verdadeiro plágio de sua obra.

Polêmicas à parte, na época do seu lançamento, o filme se tornou um verdadeiro sucesso, arrecadando mais de R$ 400 milhões pelo mundo, sendo vencedor de diversos prêmios e incluindo quatro Oscar. Logicamente, o clássico renderia mais três filmes, além de animações, vídeo game, livros e HQs. Revisto hoje, é uma obra que não somente representou uma geração questionadora sobre o mundo em que vivemos, como também não deixa de ser algo profético, sendo que alienação do ser humano está cada vez mais aumentando e fazendo com que os mesmos nem mais enxerguem a grandeza do mundo real como um todo.

Já se passaram 25 anos, mas "Matrix" é o melhor que soube profetizar uma humanidade cada vez mais presa em suas redes sociais e prestes a ser engolida por uma realidade virtual e que fará muitos esquecerem de olhar para o céu.  



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quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Cine Dica: Em Cartaz: 'Matrix Resurrections'

Sinopse: Após o final da trilogia original Neo acorda dentro Matrix com uma nova vida, mas tendo a ligeira sensação que há algo errado na sua realidade em volta.    

"Matrix" (1999) foi um desses casos em que os Deuses do cinema sorriram para o projeto e fazendo do filme algo a frente do seu tempo, porém, que falasse também sobre os dilemas existencialistas que até hoje são debatidos. Após duas continuações, além dos derivados como "Animatrix", parecia ser um erro de cálculo retornar esse universo cheio de simbolismos e dos quais nos fascinou por mais de vinte anos. Pois bem, "Matrix Resurrections" (2021) não é nem de perto superior ao clássico, mas respeita o seu legado como um todo.

Se passando 20 anos após os acontecimentos de de "Matrix Revolutions", Neo vive uma vida aparentemente comum sob sua identidade original como Thomas A. Anderson em São Francisco, Califórnia, com um terapeuta que lhe prescreve pílulas azuis para neutralizar as coisas estranhas e não naturais que ele ocasionalmente vislumbra em sua mente. Ele também conhece uma mulher que parece ser Trinity (Carrie Anne-Moss), mas nenhum deles se reconhece. No entanto, quando uma nova versão de Morpheus oferece a ele a pílula vermelha e reabre sua mente para o mundo da Matrix, que se tornou mais seguro e perigoso nos anos desde a infecção de Smith, Neo volta a se juntar a um grupo de rebeldes para lutar contra um novo e perigoso inimigo e livrar todos da Matrix novamente.

Lana Wachowski sabia do vespeiro que estava entrando no momento que decidiu retornar ao universo que havia criado com a sua irmã no passado. Ao retornar ao cenário da "Matrix", a diretora decide criar um verdadeiro filme nostálgico, onde sempre se faz referências ao clássico a todo momento e criando assim um verdadeiro Déjà Vu visual. Curiosamente, o filme também respeita e muito as continuações e pondo por terra as opiniões de alguns que achavam que esses capítulos eram irrelevantes, quando na verdade expandiu a ideia sobre a Matrix e o verdadeiro papel dos personagens Neo e Trinity.

Aliás, se esse novo filme funciona é graças a eles, já que a química entre Keanu Revees e Carrie Anne-Moss continua a mesma depois de mais de vinte anos e fazendo dos dois o coração pulsante do filme como um todo. Infelizmente alguns atores acabaram não retornando, como no caso de Laurence Fishburne que ficou marcado como Morpheus, mas sendo substituído pelo ótimo ator Yahya Abdul-Mateen II e que faz o personagem da sua maneira e de forma bem divertida. O mesmo não se pode dizer Jonathan Groff, cuja a sua atuação é apática como agente Smith e que jamais superará o que Hugo Weaving fez no passado.

Como foi dito acima, o filme é um grande Déjà Vu em alguns momentos e o que faz a gente se perguntar para que realmente veio. Ao meu ver, diferente da geração do final dos anos noventa, essa sociedade atual simplesmente desistiu de lutar contra o sistema e abraçando as inúmeras possibilidades tecnológicas que a mesma oferece, mesmo quando a própria lhe tira cada vez mais a sua independência. Sentimos, portanto, essa harmonia entre os humanos e máquinas dentro trama, mesmo quando os velhos dilemas tratados no clássico ainda são colocados aqui em pauta.

Para os fãs que adoravam os inúmeros simbolismos do clássico esse novo filme é novamente um verdadeiro prato cheio. Se a imagem do escolhido está cada vez mais próxima do Messias, as referências ao clássico literário "Alice no País das Maravilhas" se tornam aqui ainda mais explicitas, sendo que os espelhos finalmente se tornam parte essencial da trama. Falando em Alice, aguarde para o momento em que surge a música “White Rabbit“, de Jefferson Airplane e que presta uma bela homenagem a obra criada por Lewis Carroll.

Infelizmente o ato final deixa a desejar, mas não pela falta de ação em si, pois ela existe, mas sim pela falta de imaginação e coragem em alguns momentos e que ficaram devendo. O epílogo, aliás, é escancarado que ali há sementes que foram plantadas para uma possível continuação, mas não creio que venha acontecer, pois precisaria algo ainda mais criativo para sustentar uma possível nova trilogia. Tudo dependerá da resposta da sociedade atual, que ao meu ver não se importa mais se está presa ao sistema ou não.

"Matrix Resurrections" é um grande Déjà Vu do clássico, do qual poderá até agradar os fãs mais fanáticos, mas não convencendo aqueles que queriam ir mais a fundo na toca do coelho.  


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