Sinopse: O filme acompanha os eventos da votação de um novo Papa mas tendo desdobramentos surpreendentes.
Edward Berger surpreendeu o mundo com o seu filme de guerra "Nada de Novo no Front" (2022), filme que foi conquistando o público e a crítica aos poucos e levando diversos prêmios. Era só uma questão de tempo para que o realizador pudesse adquirir um projeto que chamasse novamente a nossa atenção. Em "Conclave" (2024) vemos um realizador seguro de si, mesmo correndo sério risco de comprar briga com a Igreja Católica por um longo tempo.
Baseado na obra de Robert Harris em 2006, o filme conta sobre os eventos de uma das votações mais secretas do mundo que é a escolha para um novo Papa. O Cardeal Lawrence (Ralph Fiennes) é encarregado de executar esse processo de votação após a morte do Papa anterior. Porém, na medida em que a votação avança, o Cardeal descobre certos segredos do falecido Pontífice e que pode afetar diversos cardeais que estão na disputa.
Quando eu soube que o filme era baseado em um livro de sucesso em que a trama se passava no Vaticano logo me veio à mente a série de livros de Dan Browm, dos quais funcionam muito bem no universo literário, mas que se tornaram vazios quando foram adaptados para o cinema. Felizmente Edward Berger consegue fazer com que a trama se torne verossímil para os padrões da sétima arte, mesmo com os desdobramentos que acontecem no decorrer do enredo quase a todo momento. Porém, essas reviravoltas fazem com que a nossa atenção se torne ainda mais redobrada e para que assim analisemos os principais personagens vistos na história.
Logicamente Ralph Fieenes é o melhor em cena do começo ao final da obra, ao criar para si um Cardeal Lawrence ambíguo, do qual não aceita a possibilidade de ser o próximo Papa. Porém, no decorrer do tempo, suas ações para descobrir os mistérios que envolvem a morte do Pontífice o faz descobrir segredos que põem em xeque a conduta de vários candidatos e ao mesmo tempo fazendo com que se fortaleça durante a votação. Contudo, a todo momento ele deixa claro que não deseja esse fardo, mas Fiennes se sobressai ao construir um personagem que transita entre o desejo e a falta de fé perante as mudanças que a Igreja adquiriu nos últimos anos.
O filme em si fala sobre o status da igreja Católica atual, sendo cada vez mais ofuscada pelas demais religiões e sendo afundada por acusações nos últimos anos que chocaram o mundo. Edward Berger, portanto, cria um cenário que não é muito diferente de um "Game Of Trones", onde o jogo político, traições e revelações não são nenhum pouco diferentes do que acontece por detrás das cortinas dos mais diversos poderes do mundo, mas cuja última diferença é a palavra de Deus no meio e da qual influencia todos os cantos do globo. Todos presentes na trama desejam ser o futuro Papa, mas não escondem o fato de também serem seres humanos com diversas falhas, mas das quais são suficientes para perder a chance ao trono.
Embora muitas cenas tenham sido filmadas no Vaticano, a produção foi proibida de filmar dentro da Capela Sistina. Isso, porém, não impediu Edward Berger em montar uma incrível cópia do lugar e fazendo com que a edição de arte se torne um dos grandes pontos positivos da parte técnica. Vale destacar o belo casamento nas edições de cena com a trilha musical, fazendo com que a votação secreta se torne dinâmica e aumentando um certo grau de suspense na medida em que a trama avança. Isso culmina em uma situação inesperada e fazendo com que a trama tome um rumo inesperado.
Neste último caso, devo reconhecer que o escritor Robert Harris foi corajoso na finalização de sua obra, cuja intenção talvez seja fazer uma crítica ácida contra a própria igreja e cuja mesma se afunda em um conservadorismo ao invés de abrir as portas atualmente para a diversidade. Portanto, a cena final do protagonista vendo e ouvindo os risos das irmãs correndo no pátio seria um sinal de que certas mudanças precisam ser aceitas, mesmo quando elas ainda são cobertas por medo ou preconceito cego e que prejudica o resto do mundo. É uma pena portanto que boas ideias ainda permaneçam na ficção.
"Conclave" é um filme envolvente, corajoso e que mostra as entranhas de um Vaticano movido por política, ambição e o medo perante as novas mudanças que ocorrem no mundo.
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