Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
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Sinopse: Riley agora se encontra mais velha, passando pela tão temida adolescência. Junto com o amadurecimento, a sala de controle mental da jovem também está passando por uma demolição para dar lugar a algo totalmente inesperado: novas emoções. As já conhecidas, Alegria (Amy Poehler), Tristeza (Phyllis Smith), Raiva, Medo (Tony Hale) e Nojinho (Liza Lapira), que há muito tempo administram uma operação bem-sucedida, não têm certeza de como se sentir quando novos inquilinos chegam ao local, sendo um deles a tão temida Ansiedade (Maya Hawke).
CLUBE DOS VÂNDALOS
Sinopse: Na trama, acompanha-se a ascensão dos Vândalos, um clube de motociclistas, sob o olhar de Kathy (Jodie Comer), uma das integrantes do grupo e também casada com Benny (Austin Butler), um motociclista selvagem e imprudente e melhor amigo de Johnny (Tom Hardy), o líder do grupo.
Bandida: A Número Um
Sinopse: História de Rebeca (Maria Bomani), vendida pela avó aos nove anos de idade para o homem que comandava a comunidade da Rocinha. Anos depois, em meio à incessante disputa de território entre os bicheiros e traficantes, as dinâmicas de poder do local passam por mudanças, e Rebeca - agora viúva do traficante-chefe - deve assumir o comando da Rocinha.
A MALDIÇÃO DE CINDERELA
Sinopse: Baseado no mesmo conto popular que a Disney atualizou e popularizou para crianças na década de 1950. Desta vez, uma pequena adaptação da história coloca Cinderela e todos ao seu redor dentro de uma bola sangrenta que eles nunca esquecerão. Depois de sofrer nas mãos de suas meias-irmãs e da madrasta malvada, e sofrer humilhação no baile, Cinderela é levada ao limite.
AINDA TEMOS O AMANHÃ
Sinopse: A história de Delia, esposa de Ivano e mãe de três filhos. Ela aceita a vida que lhe foi destinada - esposa e mãe -, no entanto, a chegada de uma carta misteriosa desperta a sua coragem para desafiar o destino e imaginar um futuro melhor, não apenas para si mesma.
TUDO QUE VOCÊ PODIA SER
Sinopse: É o último dia de Aisha em Belo Horizonte. Acompanhe sua despedida na companhia de suas melhores amigas: Bramma, Igui e Will. Por meio do cotidiano e dos encontros entre as personagens, o documentário tece um retrato afetuoso sobre a família que se escolhe constituir através do valor da amizade.
Sinopse: Durante o verão de 1957, a falência paira sobre a empresa que Enzo Ferrari e sua esposa Laura construíram dez anos antes. Ele decide apostar tudo na icônica Mille Miglia, uma corrida automobilística de longa distância pela Itália.
Michael Mann é um desses casos de cineastas autorais que precisa de um ótimo roteiro em mãos para convencê-lo a voltar a trabalhar atrás das câmeras. Responsável por obras primas como "Fogo Contra Fogo" (1995), os cinéfilos não viam o realizador dirigindo desde "Hacker" (2015) e muitos estavam aguardando o seu próximo projeto com certa ansiedade. Pois bem, "Ferrari" (2023) não é o melhor filme de sua carreira, mas ao menos é recompensador vê-lo trabalhando e perceber que não perdeu a mão em termos de direção autoral.
O filme é uma cinebiografia que conta a história de vida do empresário italiano de carros esportivos Enzo Ferrari (Adam Driver). A trama mostra como Ferrari e sua família revolucionaram a indústria automotiva e, de certa forma, ajudaram a criar o conceito das corridas de Fórmula 1. Porém, além de problemas financeiros, Enzo terá que enfrentar as atitudes imprevisíveis de sua esposa (Penélope Cruz).
Quando "Ford vs Ferrari" (2015) havia sido lançado e tendo se tornado um sucesso de público e crítica inesperado muitos estavam se perguntando qual seria o próximo filme que explorasse alguma história sobre o automobilismo. No caso aqui, o filme explora mais a faceta de Enzo perante os negócios e tentando driblar perante aqueles que desejam o seu fracasso. Por conta disso, não espere um filme que se entrega as cenas de corrida como um todo, mas quando elas acontecem nos tiram o fôlego.
Em tempos mais dourados da Fórmula 1, por exemplo, havia chance dez vezes maiores de um piloto morrer durante uma corrida, pois não havia tecnologia o suficiente para proteção na época. Por conta disso, ficamos impressionados pelo fato de vermos os pilotos quase sem nenhuma proteção e pilotando uma máquina de ferro puro e da qual se bater é quase morte na certa durante o processo. Aguarde por cenas eletrizantes, tanto nas cenas de ultrapassagem, como também de acidentes espetaculares e que realmente aconteceram.
Além disso, Mann capricha na reconstituição de época, ao transmitir para nós sobre tempos mais dourados de pós-guerra e onde empresários tinham maiores possibilidades de se tornarem milionários da noite para o dia. Enzo Ferrari nos passa para nós uma pessoa fria e calculista, mas que usa essa personalidade como principal arma para se manter na ativa e defender o seu patrimônio a todo custo. Adam Drive capricha em uma atuação segura, ao nos transmitir um Enzo consciente que está diante de diversos abutres e que é preciso ser desumano as vezes para manter o que construiu ao longo de sua vida.
Porém, a grande atuação do filme fica por conta de Penélope Cruz e cuja suas cenas dramáticas são tão poderosas que fico me perguntando como pode ela não ter sido indicada ao Oscar. Ao interpretar a esposa do protagonista, ela nos passa através da sua personagem alguém que tem tudo, mas ao mesmo tempo nos transmitindo um imenso vazio, seja devido a perda do seu filho, ou pelo fato do marido ter tido várias amantes e sendo que uma delas, interpretada pela atriz Shailene Woodleym acabou tendo um filho. Atenção para a primeira cena de Cruz na abertura do filme, cuja atitude imprevisível da personagem fará com que nos preparemos o fôlego para toda vez que ela surgir em cena.
Curiosamente, o filme tem mais de duas horas de projeção, mas quando ele termina me passou a sensação de que faltou alguma coisa e nos dando a entender que essa passagem da vida de Enzo Ferrari foi um tanto que resumida. Se isso me deu certa frustração, ao mesmo tempo é porque eu tinha um desejo maior para ver mais sobre o destino desses personagens, além de mais cenas de corridas e das quais foram muito bem-feitas. Pode não ser o melhor filme de Michael Mann, mas fico feliz ao vê-lo de volta ativa.
"Ferrari" é somente uma ponta da história sobre o grande império do empresário Enzo Ferrari, mas que compensa graças a ótima direção de Michael Mann diga-se de passagem.
SESSÃO AAMICCA CELEBRA OS 40 ANOS DE CLÁSSICO DO CINEMA BRASILEIRO
A Associação de Amigas e Amigos da Cinemateca Capitólio (AAMICCA) convida a todas e a todos para a exibição comemorativa de 40 anos do filme “Verdes Anos” (1984), de Carlos Gerbase e Giba de Assis Brasil, a ser realizada no sábado, 22 de junho, às 18h, na Cinemateca Capitólio. A sessão contará com a presença do diretor Giba Assis Brasil e da atriz Márcia do Canto, que após a projeção farão um debate com a mediação de Rafael Valles, pesquisador e documentarista.
O filme será exibido no seu formato original, em 35mm. Entrada franca.
Inspirado em um conto do escritor Luiz Fernando Imediato, “Verdes Anos” acompanha as peripécias de um grupo de jovens que vive em uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul, no auge da ditadura militar. Nando se apaixona por uma moça da escola, Cândida. Em meio aos conflitos políticos e sociais da época, apresenta fatos comuns da sua vida e de seus colegas de escola, onde o protagonista passa a viver o início da fase adulta, assumindo sua paixão.
Marco na história do cinema gaúcho, o filme assinalou o momento de profissionalização da dupla de diretores, egressos do movimento Super-8, transformando-se em objeto de culto para toda uma geração. No elenco, nomes como Werner Schünemann, Marcos Breda, Luciene Adami, Márcia do Canto, Marta Biavaschi, Xala Felippi, Marco Antônio Sorio, Sérgio Lulkin, Breno Ruschel.
A Sessão AAMICCA é uma parceria entre a Associação de Amigas e Amigos da Cinemateca Capitólio e a Cinemateca Capitólio, e tem como um de seus eixos a exibição de filmes do acervo do Centro de Documentação e Memória (CDM).
Sinopse: No reino mágico de Rosas, Asha faz um desejo tão poderoso que é atendido por uma força cósmica.
Wal Disney completou 100 anos em 2023 e fechando um ciclo cuja história obteve diversas conquistas. Entre altos e baixos, o estúdio se renovou, ao ponto de se tornar hoje a toda poderosa e obtendo até mesmo outros estúdios em um piscar de olhos. Portanto, "Wish: O Poder dos Desejos" (2023) veio como uma celebração deste centenário, muito embora não tenha que se comemorar após obter tanto poder.
Dirigido por Jennifer Lee e Allison Moore, o filme conta a história de Asha (Ariana DeBose), uma jovem cheia de vida e que sempre se preocupa em ajudar a sua comunidade. Com o sonho de realizar os seus desejos, ela obtém ajuda de uma pequena, porém, grande força cósmica que lhe ajuda em realizar os seus e os seus próximos. Porém, ela e seus amigos terão que enfrentar o"Magnifico", o rei dessa comunidade e que controla os sonhos das pessoas da sua maneira.
Disney foi responsável por revolucionar as animações para o cinema como um todo, sendo que "Branca de Neve e os Sete Anões" (1937) foi o primeiro longa-metragem de animação. De lá prá cá, o estúdio foi colecionando feitos e fazendo que as suas revoluções inspirassem outros estúdios. Porém, chegou em um ponto que a situação ficou ao inverso.
Embora "Wish: O Poder dos Desejos" possua uma belíssima animação, é interessante observar que ela foi feita em 2D, ou seja, animação feita a mão e alinhada com o CGI. Porém, isso somente foi alcançado através de um grande feito através de outro estúdio, que foi no caso de "Homem Aranha no Aranhaverso" (2018) e que acabou influenciando diversos animadores pelo mundo. Neste caso a toda poderosa ficou pra trás, mas eu acho que não é exatamente só nesta questão.
O filme como um todo tem o seu valor pela sua mensagem positiva sobre sempre manter os seus sonhos e jamais desvencilhá-los mesmo quando outros dizem ao contrário. Claro, não é algo original, sendo que essa fórmula de contar histórias já foi usada e reaproveitada diversas vezes ao longo das décadas, sendo na maioria das vezes sucesso instantâneo e outras vezes ficando aquém do esperado. Neste caso, o filme se divide nestes dois termos, sendo que é uma aventura mágica visualmente, mas cuja trama parece que já vimos em algum lugar ao longo de nossa vida cinéfila.
Ao comemorar os 100 anos do estúdio, o filme vem recheado de elementos que nos lembre outros clássicos e, portanto, não se surpreenda que quando surgir algum animal fofo e comece a falar irá remetê-lo talvez ao outro longa da toda poderosa. A protagonista Asha, por sua vez, pertence ao seleto recente de protagonistas da Disney que não aguardam o seu Príncipe Encantado para obter os seus desejos, já que ela é sonhadora, aventureira e muito disposta em lutar pelo seu próximo. Mas vamos nos concentrar na questão do vilão Magnifico.
Em alguns momentos ele me lembrou a versão maligna de Doutor Estranho que foi visto na série "at If...?" e com o direito de ele ter um livro poderoso e que não poderia ser aberto. Ao mesmo tempo a sua figura em si parece uma espécie de metáfora com relação a todo poderio do estúdio, já que ele se acha no direito de controlar os sonhos dos outros e que somente ele pode fazer com que se realize. Pelo visto, os animadores sabem com quem estão trabalhando e fazendo, portanto, as suas críticas nas entrelinhas.
O final é aquele típico embate entre o bem e o mal e que tudo acaba bem. Para não dizer que a reta final termine de maneira ainda mais previsível, ao menos o estúdio prestou uma bela homenagem durante os créditos há todos os longas metragens que o estúdio havia criado desde o princípio. Pode ser pouca coisa, mas para cinéfilo como eu que estuda a história cinematográfica essa parte foi mais do que bem-vinda.
"Wish: O Poder dos Desejos" é um bom filme de entretenimento da Disney, mas que teve a tarefa ingrata de carregar o peso da comemoração dos 100 anos do estúdio.
Sinopse: Dois irmãos encontram um homem infectado pelo demônio prestes a dar à luz ao próprio mal.
O gênero de horror pode ser realizado de forma para nos entreter e nos pregar grandes sustos como também fazer uma reflexão sobre as adversidades do mundo atual em que nós habitamos. Em tempos de Extrema Direita desenfreada, cuja ambição é consumir tudo em sua volta como se fosse um vírus, podemos concluir que essa ideia possa ser usada de forma subliminar, desde que o mais atento identifique essa mensagem nas entrelinhas. "O Mal que nos Habita" (2023) pode ser interpretado tanto como um simples filme de horror sobre possessão, como também uma metáfora sobre o temor que nos aflige atualmente.
Dirigido por Demián Rugna, esse filme argentino conta a história de uma cidade no interior, onde dois irmãos encontram um corpo completamente mutilado, para logo em seguida testemunhar alguém completamente deformado, sendo que os parentes dizem que ele está sendo possuído. Ao tentarem se livrar dele o corpo desaparece e dando a entender que o mal começará a se espalhar no local ao possuir cada ser vivo um a um. Começa então uma corrida contra o tempo, mas desencadeando consequências irreversíveis.
Demián Rugna não poupa o espectador que for assistir ao longa, pois a trama é recheada de momentos escatológicos e que exige certo estomago. Ao mesmo tempo o realizador demonstra total competência na realização de determinados momentos que se tornam angustiantes e fazendo a gente não desgrudar da tela. A cena em que um dos irmãos tenta levar os seus filhos para fora da cidade desencadeia uma situação completamente fora do controle e se tornando o melhor e mais tenso momento do filme.
Inspirado em um caso real sobre os venenos que são jogados nos campos do interior da Argentina, Demián Rugna procura usar o horror para falar sobre os temores que os argentinos tem neste momento, principalmente por estarem sendo governados por uma Extrema Direita que não medirá esforços para sufocar o povo e tirando os seus principais recursos para obterem algum lucro. Se no decorrer da trama essa metáfora se perde em meio ao sangue e a violência, isso é sintetizado no primeiro ato e fazendo com que a ideia se torne viva ao longo do enredo.
Curiosamente, é um dos poucos filmes de horror sobre possessão que não há um padre para fazer o tão conhecido exorcismo, pois as igrejas deixaram de ser o que eram um dia e sobrevivendo através somente da política e com o intuito de obter somente o poder, mas esquecendo daqueles que um dia precisavam de sua ajuda. Ao mesmo tempo, nota-se que Demián Rugna presta até mesmo homenagens a grandes filmes de horror, tanto recentes como o elogiado "A Bruxa" (2015), como o clássico "Invasores de Corpos" (1978). Ao meu ver, Demián Rugna fez o dever de casa através do melhor que se encontra dentro do gênero.
Com um final perturbador, "O Mal Que Nos Habita" fala sobre uma cidade do interior que é tomada por um grande mal e se tornando uma metáfora sobre o temor atual que a Argentina e o mundo enfrentam no mundo real.
MOSTRA DESTACA PARCERIA DE JACQUES DEMY E CATHERINE DENEUVE
A partir de 20 de junho, a Cinemateca Capitólio exibe o ciclo Demy & Deneuve, com cópias restauradas de Os Guarda-Chuvas do Amor, Duas Garotas Românticas e Pele de Asno, três musicais sublimes de Jacques Demy protagonizados pela diva Catherine Deneuve. O valor do ingresso é R$ 10,00.
Com apoio do Institut Français e da Aliança Francesa Porto Alegre, a mostra celebra a semana do dia da Fête de la Musique, evento anual da cultura francesa dedicado à arte da música.
FILME ITALIANO INSPIRADO EM RAY BRADBURY É ATRAÇÃO DO PROJETO RAROS
Na sexta-feira, 21 de junho, às 19h30, a Cinemateca Capitólio apresenta uma edição do Projeto Raros com Circuito Fechado, filme do italiano Giuliano Montaldo inspirado no conto A Savana, de Ray Bradbury. Com apresentação do pesquisador Cristian Verardi, a sessão marca o lançamento da programação da 11ª edição da mostra A Vingança dos Filmes B. Entrada franca.
A Cinemateca Capitólio apresenta duas estreias na semana. O documentário Veríssimo, de Angelo Defanti, entra em cartaz na quinta-feira, 20 de junho. A cópia restaurada de A Hora da Estrela, célebre adaptação de Suzana Amaral para a obra de Clarice Lispector, entra em cartaz na sexta-feira, 21 de junho. O valor do ingresso é R$ 16,00.
Filme exibido para os associados no último dia 08/06/24
Sinopse: Ahmed, de 8 anos, pegou por engano o caderno de seu amigo Mohammad. Ele quer devolvê-lo, senão seu amigo será expulso da escola, então sai em busca da casa de Mohammad na aldeia vizinha.
O diretor Abbas Kiarostami, já nos créditos iniciais, prepara o caminho para um ensaio visual de ritmo lento sobre o cotidiano de uma pequena aldeia no interior do Irã. Através do pequeno herói protagonista da trama, podemos passar de porta em porta, onde vemos ele pedindo às pessoas que o ajudem. Em cada parada Ahmad (Babek Ahmed Poor) vai construindo sua jornada e adquirindo informações.
Nós que assistimos ficamos apreensivos pela possível punição que ele sofrerá quando retornar para casa. Não só isso, mas tememos também que algo de muito pior aconteça. Em pouco tempo, nos encontramos nervosos, sem nunca sabermos o que iremos encontrar no próximo beco. É nessas idas e vindas que testemunhamos um cotidiano pacato de pessoas simples e de como elas sobrevivem ao longo do seu dia a dia.
Em pouco mais de uma hora e vinte, Abbas Kiarostami nos surpreende pela sua simplicidade em contar uma trama simples, mas que se torna uma cruzada sobre a questão de ser prestativo e se importar com o seu próximo desde cedo. Enquanto Ahmad expressa em seus olhos o medo do que pode acontecer com o seu colega, a gente fica até mesmo com raiva da maioria dos adultos que se encontram em cena, em especial da mãe do protagonista que somente insiste ao dizer ao menino em fazer as suas lições e quase não prestando atenção sobre o problema em que ele tem em mãos. Quando ele reconhece para si que não obterá ajuda dos seus pais é então que ele parte para a sua jornada particular.
Nota-se, por exemplo, nesta decisão do menino em partir em busca do seu amigo há uma trilha encravada em um pequeno morro, sendo que esse tipo de cenário é algo que o realizador quase sempre irá explorar no decorrer dos seus filmes, desde "A Vida Continua" (1992) como também "Através das Oliveiras" (1994). No meu entendimento, a trilha significa uma direção para que os personagens tomem o seu rumo e partam para uma jornada particular, mesmo quando ela não lhe traga total satisfação. Neste último caso, nota-se tamanho esforço que o jovem protagonista tenta obter uma informação concreta sobre onde mora o seu amigo, mas obtendo somente algo superficial através dos adultos.
Os adultos, por sua vez, são pessoas atarefadas, sendo que até mesmo não temos um total vislumbre de imediato com relação a eles, já que os seus próprios afazeres fazem com que se percam em meio a eles. Se por um lado há um senhor que não o vemos em meio ao grande feno que carrega, do outro, há as mulheres que ficam atrás de inúmeros lençóis que elas colocam nas cordas e que somente notamos as suas presenças quando uma delas deixa cair uma toalha do segundo andar e pedindo ajuda para o protagonista recolher. Curiosamente, o jovem é sempre parado por um adulto pedindo a sua ajuda, seja para carregar alguma coisa, ou simplesmente pedindo para ele comprar um cigarro.
Neste último caso isso é focado através do avô do menino, que o vê com pouca disciplina e deseja que ele tome a iniciativa em ter a consciência de obter maior responsabilidade. Embora ele não saiba da situação em que ele está envolvido, é a partir do avô que obtemos uma melhor reflexão da parte dos adultos, onde ele fala sobre os seus tempos e da maneira em que os seus pais o disciplinaram para ter maior responsabilidade na vida. Em contrapartida, ele é explorado a ser persuadido em comprar portas melhores por um vendedor que insiste em vender.
Esse, por sua vez, acaba sendo o novo foco Ahmad, já que ele acha que o homem possa ser o pai do colega que ele está procurando e vai então atrás dele. É a partir desse diálogo entre o vendedor de portas e o avô do menino que se obtém uma análise sobre a transição dos tempos, em que portas e janelas velhas da aldeia são substituídas por novas, sendo deixadas de lado uma história que estava encravada nelas. Fala sobre uma geração que aos poucos é descartada de lado, onde a maioria deixa as suas antigas casas e vão debandando para as grandes cidades.
Essa questão prossegue quando o pequeno protagonista se encontra com um senhor de idade avançada em uma janela e pede ajuda para encontrar o seu amigo. Talvez esse seja o melhor adulto ao ser explorado dentro da trama, pois ele começa a contar para o menino um pouco de sua história, em que ajudou a construir as mais diversas portas e janelas daquele vilarejo, mas cujo trabalho começa a ser esquecido através do tempo, pois a sua geração quase não existe mais e a nova começa a ir embora para a cidade grande. O jovem e o velho andando juntos na subida e descida de diversos becos daquele cenário é onde notamos certa similaridade entre ambos.
O senhor começa a contar a sua iniciativa em ajudar as pessoas e fazendo então paralelo com o menino que busca em ajudar o seu colega a todo custo. Ao se separarem durante uma subida Abbas Kiarostami decide continuar com esse senhor até a sua casa, onde ele começa arrumar as suas coisas e fechando a janela onde ele havia aparecido pela primeira vez. Ainda dentro do cômodo vemos o senhor tirando os seus calçados, sendo que as meias estão rasgadas nos calcanhares e sintetizando uma vida cheias de caminhadas e de histórias para se contar.
Ao retornar para casa, o jovem protagonista procura tomar a iniciativa em fazer a lição de casa para o seu colega e com a intenção de devolver o caderno no início da aula. Reparem nesta cena que ele observa uma tempestade se aproximando, como se houvesse algo grande chegando e para logo em seguida ele tirar os seus calçados e revelar as meias também rasgadas nos calcanhares. Conclui-se que o menino de hoje se tornará futuramente aquele senhor de idade e do qual sempre irá procurar em ajudar o próximo.
Em um filme protagonizado por crianças, Abbas Kiarostami faz uma análise delicada sobre o próprio povo do Irã, que passaram por diversos dilemas, lutas, golpes e revoluções, mas sempre procuraram fazer a diferença em meio as adversidades. O pequeno protagonista da trama, portanto, se torna um pequeno símbolo de esperança para que o social e o prazer de ajudar o próximo faça a diferença para um futuro indefinido e que sempre está em mudanças constantes como um tudo. Cabe ouvirmos o que o próximo está falando e para assim deixarmos por um momento nossas atividades e ajudá-lo.
Em "Onde Fica a Casa do Meu Amigo?" Abbas Kiarostami fala sobre a sociedade iraniana através da perspectiva de um simples menino e nos revelando a sua real natureza como um todo.