Nota: Filme exibido para os associados no último sábado (17/12/23).
Sinopse: Uma mãe sente que há algo errado quando seu filho começa a se comportar de maneira estranha. Ao descobrir que um professor é o responsável, ela vai até a escola exigindo saber o que está acontecendo. Enquanto o caso se desenrola pelos olhos da mãe, do professor e da criança, a verdade começa a surgir.
Hirokazu Koreeda tem procurado retratar o quadro atual da estrutura familiar japonesa, mas que curiosamente não é muito distante da nossa. Em "Pais e Filhos" (2013), por exemplo, é uma análise sobre o comportamento de pais que tiveram os seus filhos trocados, mas cuja relação construída antes dessa revelação dificilmente é desvencilhada. No caso de "Monster" (2023) o filme transita entre o suspense psicológico e ao mesmo tempo dramático sobre a não aceitação das diferenças dos seus próprios filhos.
A história mostra o drama de Saori (Sakura Ando), uma mãe desconfiada dos comportamentos estranhos que seu filho começou a apresentar recentemente e, ao que tudo indica, sem nenhuma explicação. Porém, logo Saori descobre que a situação é culpa de um professor que dá aulas na escola de seu filho, e ela decide ir até o local para saber o que está acontecendo. Enquanto acompanhamos o desenrolar desse mistério partindo do ponto de vista da mãe, do filho e do professor, a verdade vai, pouco a pouco, começando a surgir.
O ambiente escolar é um cenário em que o jovem obtém o conhecimento. Porém, ao invés disso, em alguns casos se torna um ambiente de puro pesadelo, onde a criança tem que lidar com certos abusos, tanto vindo dos seus colegas, como também na possiblidade do próprio professor. Ao mesmo tempo, talvez o mal não esteja somente neste local, como também no próprio ambiente familiar e onde se forma a conduta da pessoa.
Para obter toda essa análise acima, Hirokazu Koreeda procura nos apresentar uma trama da qual a vemos através de várias perspectivas de outros personagens no decorrer do longa e para assim obter melhor compreendimento sobre o que realmente está acontecendo. No primeiro ato, por exemplo, o realizador nos prega uma peça bastante interessante, ao nos apresentar determinados personagens da escola agindo da forma estranha perante o possível abuso cometido contra o jovem protagonista, ao ponto que gera até mesmo uma tensão psicológica. Curiosamente, ficamos até tendo a sensação de algo estar acontecendo fora dos padrões naturais, mas logo tudo vai sendo explicado.
Se em "Elefante" (2003) o diretor Gus Van Sant já apresentava esse tipo de formato de filme, aqui a situação se torna ainda mais complexa, mas ao mesmo tempo fazendo com que nós prestemos maior atenção sobre determinados detalhes, principalmente com relação a determinados cenários que vão retornando ao longo da projeção. O incêndio na abertura, por exemplo, aparentemente não parece ter ligação alguma com a questão principal da trama, mas logo faz todo o sentido quando o ambiente familiar em atrito entra em cena. É então que questões sobre sentimentos que afloram na juventude, assim como também o tema do bullying são tratados de forma delicada, porém, realista.
Ao final, o filme me fez lembrar recentemente do Belga "Close" (2022), principalmente com o seu final. Porém, se naquele filme há uma conclusão da qual compreendemos o destino final dos seus respectivos protagonistas, aqui a situação é inversa, já que o realizador decide que nós tiremos as nossas próprias conclusões. Ao final, seja a força de uma tempestade vindo da natureza, ou o poder da música vindo de uma trombeta, tudo se torna um símbolo de que os sentimentos humanos não podem ser contidos, mas libertados para darem o seu grande voo.
"Monster" é uma análise de diversos ângulos de uma única trama e da qual a faz se tornar cada vez mais rica na medida em que o filme avança.
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