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Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 3 de abril de 2017

Cine Dica: Em Cartaz: O Ornitólogo



Sinopse: Fernando (Paul Hamy) é um solitário homem de 40 anos que trabalha como um ornitólogo. Ele decide viajar pelo curso de um rio a bordo de um caiaque, mas quando uma correnteza forte derruba sua pequena embarcação, ele inicia uma jornada sem volta e repleta de perigos.

O cineasta João Pedro Rodrigues, talvez tenha chegado ao ápice com o seu filme O Ornitólogo. Aqui, Rodrigues fala sobre sexualidade, gênero, orientação sexual. Fala também sobre o nu masculino, fala sobre a delicadeza e o lado sensual do homem, construindo a imagem de forma lírica e poeta a partir de um lado de graça com teor erótica. Quebra com os estereótipos do lado masculino, desconstruindo e escancarando a possibilidade de ser uma  camada frágil, onde o orgulho da masculinidade, por vezes, desconstrói o melhor e o verdadeiro potencial do homem como deveria ser no mundo do qual ele vive.
No filme O Ornitólogo, o uso desses temas é de uma forma para provocar, a nos caçoar o pudor: a libido e o sadismo. No longa estrelado por Paul Hamy, a fragilidade masculina é colocada a prova,onde são filmados de uma forma  clara, contestando os interditos sociais que mantém certo preconceito com esse tipo legítimo de representação e, sobretudo, como esses ecoam no cinema a partir do fato da encenação explícita destes ser contornada por mero pudor antiquado. O Ornitólogo é em essência de uma libertação dos quais muitos anseiam em ter, mas não batem no peito para conseguir.
Mas o pensamento sobre a liberdade em meio ao mundo do qual vive é uma situação muito mais complexa do que se imagina. O personagem, do qual gradualmente descobrimos que é gay e ateu, ao que parece, parece ser uma releitura de Santo Antônio de Pádua (um lisbonense, assim como João Pedro Rodrigues). Assim como o santo, o protagonista também se chama Fernando no início de sua jornada, Antonio de Pádua, se diz, teria sido batizado como Fernando, mas em determinado momento de epifania em sua vida altera de nome para marcar, com solidez, as mudanças as quais sofreu. E, obviamente, quando isso se atinge no filme o Fernando de Paul Hamy torna-se Antônio. Mas que tipo de pessoa era Antonio antes desses eventos fica nas linhas subliminares da narrativa e cada um tendo uma interpretação sobre o que assiste na tela.
O filme é sábio ao possuir inúmeras imagens cheias de simbolismos, das quais consegue passar o tema de diversos assuntos, seja catolicismo ou até mesmo mitológico. Porém, o tema principal se mantém intacto que é sobre a libertação, mesmo com todas variáveis sendo incrementadas no decorrer da obra. Mais do que tudo, é uma libertação que bate de frente contra o preconceito e repreensões reacionaristas.
O cineasta então consegue fazer tudo isso de uma forma mística e surrealista. A imagem de Santo Antonio de Pádua, segundo dizem, foi usada durante ditadura de cunho extremo-direitista salazarista que regeu Portugal, sem tantas lembranças positivas ao democrata e antifascista, por quase quatro décadas, como uma hoste e um bastião do nacionalismo e de um tradicionalismo religioso demasiadamente impositor, que pregava a luta contra as ações das quais eles achavam subversivas.
No decorrer da trama, o filme assume forma subitamente surreal, usando de personagens que surgem no decorrer da trama, cuja suas ações beiram a insanidade, ou crendices sem muito fundamento científico e fazendo do protagonista demonstrar todo o seu lado cético. Porém, devido a aparição dessas figuras misteriosas, fazem então com que o protagonista se encontre numa situação de prova de fogo perante o que sempre acreditou. No principio, O Ornitólogo  torna sagrado o que muitos consideram heresia.
Essa na verdade é a peça do jogo central da trama. Claramente, Rodrigues não propõe uma reflexão anti-moral, mas somente propõe para que a gente faça uma reflexão sobre até que ponto o discurso moralista pode realmente ajudar o ser humano, quando na realidade está mais é ajudando o estado político do mundo do qual determinas religiões vivem. Fernando. Rodrigues é primoroso em dirigir este filme, até porque a fotografia de Rui Poças (fotógrafo de do inesquecível Tabu) é impressionante na sua forma, da qual dialoga muito bem com a proposta do filme como um todo. 
Tudo flui de uma forma coesa  com cenas de tensão  e suspense, muito bem organizadas com o seu simbolismo. O Ornitólogo é um filme corajoso em sua proposta e seus simbolismos sintetizam um lado humano do qual muitos tem medo de abraçar como um todo.    



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