Silvio Tendler: Brasil, história e memória
Para
alguns a civilização ótica na qual estamos cada vez mais imersos teve
início nas imagens documentais produzidas pelos irmãos
Lumieré na Saída dos operários da fábrica. O cinema plasmava a
realidade e alcançava o grande público como um instrumento de persuasão
que parecia ser imparcial, uma arte capaz de captar e fixar a história
tal qual ela ocorreu. Os documentários, entranto,
ou chamados filmes naturais, assim como os filmes de ficção, sempre
lutaram para conseguir o mesmo efeito mágico de levar o espectador para
“dentro do filme”.A história dos telejornais, com os quais o público
contemporâneo está amplamente familiarizado desde
sua tenra infância como espectador televisivo, tem como antecedentes,
noticiários feitos para a tela grande. Outrora, eram os chamados filmes
de atualidades, e foram exibidos desde os primórdios do cinema –
evidente que não livres de ideologias, mensagens,
montagens e manipulações, tal como hoje. Em princípio, documentários
seriam filmagens de algo que teria acontecido, independentemente da
realização de um filme ou da captação dessas imagens. Contudo,
percebeu-se que a atenção devia voltar-se para os processos
a que são submetidas essas imagens: escolha do que vai ser filmado;
processo de seleção de imagens e áudios; edição e montagem; trilha
sonora, etc. Enfim, uma série de processos seletivos e intencionais que
demonstram uma falta de isenção no produto final.
Diferente do que muitos pensam, documentários não são veículos neutros e
desprovidos de ideologia.A obra de Silvio Tendler traça um grande
painel da história e da vida política brasileira contemporânea, que além
de proporcionar a visão dos aspectos materiais
do passado registrados nas imagens, prima pela edição autoral. Suas
linhas narrativas conduzem para a construção de valores que deveriam ser
universais: o anti-imperialismo, a solidariedade humana, a soberania,
os problemas sociais e a democracia como horizonte.
Seu filme de estreia surgiu em um momento em que o Brasil experimentava
os limites da abertura do regime de forma lenta, gradual e segura
proposta pela ditadura claudicante. Tempo marcado por atentados contra a
liberdade, no qual elementos ligados a rede de
repressão do Estado explodiram bombas em bancas de jornais culminando
com o atentado fatal contra OAB.
Os anos JK (1980) de Tendler emergiu como uma verdadeira aula de
democracia, mostrando que houve no país um tempo republicano legítimo.
No documentário seguinte,
Jango (1984), o diretor voltou à carga com a intenção de fazer um
filme emocionante. Enquanto era articulada a campanha para eleições
diretas para presidente, ele devolvia o povo ao cenário político
nacional através da trajetória do último presidente
eleito. Silvio Tendler teve sempre o cuidado de manter em tela a
necessidade de participação política do povo para o fortalecimento da
democracia e crescimento social do ponto de vista humano. A reposta aos
primeiros documentários veio da crítica, muito positiva,
e do público com 800 mil espectadores para JK e mais de um milhão para
Jango. O espaço como diretor e artista engajado, comprometido com o
teor político na história do cinema nacional, estava garantido para
Tendler que, felizmente continua produzindo com qualidade. A mostra
Silvio Tendler: Brasil, história e memória traz uma
oportunidade para ver na tela grande não só seus documentários de
estreia, mas uma coleção de 12 títulos diferentes que primam por uma
postura memorialista a pela preservação e difusão de imagens a fim de
que o público tenha diferentes
visões sobre o passado, ao passo em que o reconstrói em seu imaginário presente.
Nilo André Piana de Castro
Curado
Realização:
Parceria: Colégio de Aplicação UFRGS
Mostra de Cinema Silvio Tendler: Brasil, história e memória
Quando: 02 a 12 Maio
Onde: Sala Redenção – Cinema Universitário (Rua Eng. Luiz Englert, s/n., Campus Central UFRGS
Quanto: Entrada Franca
Os Anos Jk – Uma Trajetória Política
(1980, 110min) Dir.Silvio Tendler
02 de maio – terça Feira - 16h
O
filme aborda a História do Brasil: a eleição de JK, o nascimento de
Brasília, o sucessor Jânio Quadros que renuncia, a crise política, o
golpe
militar e a cassação dos direitos políticos de Juscelino. O foco é a
trajetória política de Juscelino Kubitschek, o “presidente bossa nova”,
popular entre os artistas, que propunha aceleração no desenvolvimento do
País rumo à modernidade e a ocupação de um
lugar entre as potências mundiais.
Depois da exibição palestra e debate com o Professor Nilo Piana de Castro CAp/UFRGS
Jango: Como, Quando e Porque se Derruba um Presidente
(1984, 114mim) Dir. Silvio Tendler
02 de maio – Terça-feira – 19h
03 de maio – quarta--feira – 16h
O
filme refaz a trajetória política de João Goulart, o 24° presidente
brasileiro, que foi deposto por um golpe militar nas primeiras
horas de 1º de abril de 1964. Goulart era popularmente chamado de
“Jango”, daí o título do filme, lançado exatos vinte anos após o golpe.
Depois a exibição do dia 02/05 – palestra e debate com o professor Alexandre Andrades.
Marighella: Retrato Falado do Guerrilheiro
(55min) e Privatizações: A distopia do Capital
(56’35min) Dir. Silvio Tendler
03 de maio – Quarta-feira – 19h
04 de maio – Quinta-feira – 16h
Marighella
- Deputado constituinte de 46 e um dos principais dirigentes
do Partido Comunista – cassado quando o partido foi posto na
ilegalidade, Carlos Marighella foi um dos líderes da luta armada contra a
ditadura militar no Brasil. Ainda no PC, em 66, propôs o caminho da
guerrilha e por isso foi expulso. Fundou a Ação Libertadora
Nacional, primeiro movimento armado pós-64 do país. O filme sobre a
vida desta figura polêmica da recente História do Brasil contará a
trajetória do professor Marighella, do deputado Marighella, do romântico
Marighella. Mas, acima de tudo, contará a história
do homem Marighella. ,
Privatizações
- O filme ilumina e esclarece a lógica da política em
tempos marcados pelo crescente desmonte do Estado brasileiro. A visão
do Estado mínimo; a venda de ativos públicos ao setor privado; o ônus
decorrente das políticas de desestatização traduzidos em fatos e imagens
que emocionam e se constituem em uma verdadeira
aula sobre a história recente do Brasil. Assim é Privatizações: a
Distopia do Capital
Glauber o Filme Labirinto do Brasil
(2003, 98min) Silvio Tendler,
04 de maio – quinta-feira – 19h
05 de maio – sexta-feira – 16h
É
um documentário sobre a vida e a morte de Glauber Rocha, o polêmico
cineasta baiano que revolucionou o cinema, promovendo uma radical
revisão na
cultura brasileira. Imagens do enterro, depoimentos recentes de quem
acompanhou sua trajetória, seu pensamento e ideias, explodem na tela num
filme-tributo à memória de um artista que idealizava um cinema
independente e libertário.
Encontro com Milton Santos: O Mundo Global, visto do Lado de Cá (2006,90min)
Dir. Silvio Tendler.
05 de maio – sexta-feira – 19h
O filme é conduzido por uma entrevista com o geógrafo e intelectual baiano Milton
Santos (1926–2001), gravada quatro meses antes de sua morte. Milton
Santos não era contra a globalização e sim contra o modelo de globalização vigente no mundo, que ele chamava globalitarismo. Analisando as contradições e os paradoxos deste modelo econômico e cultural, Milton
enxergou a possibilidade de construção de uma outra realidade, que ele considerava "mais justa e mais humana
Depois do filme palestra e debate com a professora Ana Clara Fernandes CAp/UFRGS.
Memórias do Movimento Estudantil – Ou Ficar a Pátria Livre ou Morrer pelo Brasil
(2007, 53min) O Afeto que se encerra em nosso peito Juvenil
(2007, 51min) Dir. Silvio Tendler
08 de maio – segunda-feira -16h
09 de maio – terça-feira – 19h
Os
filmes apresentam o Perfil cronológico do movimento estudantil
brasileiro, desde a década de 30, até a ocupação da sede da UNE no Rio
de Janeiro
em 2007. Mostram também registros pessoais de personagens do movimento
estudantil, da atividade cultural dos jovens, músicas poesias e peças
teatrais feitas pelos militantes no passado.
09/08 Depois dos filmes palestra e debate com professor Nilo Piana de Castro CAp/UFRGS
Utopia e Barbárie (2007, 121min) Dir. Silvio Tendler
O
filme é um road movie histórico: para reconstruir o mundo a partir da
II Guerra Mundial, passa pela Itália, EUA, Brasil, Vietnam, Cuba,
Uruguai,
Chile, entre outros países. Em cada um desses lugares, documenta os
protagonistas da história. Tão importante quanto o tema é o olhar do
autor. Este olhar foi se construindo a partir da elaboração do filme.
Por isso, buscou a reconstrução da história de maneira
não partidarizada. Ouviu diferentes personagens com abordagens
distintas. Juntos compõem um rico painel de nossa época.
08 de maio - segunda-feira – 19h
09 de maio – terça-feira – 16h
Após a sessão do dia 08 de maio, debate com Professor Nilo Piana de Castro, professor do colégio Aplicação da UFRGS.
Tancredo, a Travessia
(2011, 104min) Dir. Silvio Tendler
Tancredo
– A Travessia é um documentário brasileiro que retrata, através de
depoimentos a biografia do Presidente Tancredo Neves. Conta a história
do homem firme em suas decisões e sereno nas atitudes, do político
moderado, mas que durante a sua vida pública enfrentou com ética,
retidão e extraordinária coragem grandes desafios em momentos cruciais
da história do país.
10 de maio – quarta-feira 16h
Militares da Democracia: Os Militares que disseram não
(2014, 99min) Dir. Silvio Tendler
11 de maio – quinta-feira 16h
12 de maio – sexta-feira – 16h
Eles
lutaram pela Constituição, pela legalidade e contra o golpe de 1964,
mas a sociedade brasileira pouco ou nada sabe a respeito dos oficiais
que,
até hoje, ainda buscam justiça e reconhecimento na história do país.
Militares da Democracia resgata, através de depoimentos e registros de
arquivos, as memórias repudiadas, sufocadas e despercebidas dos
militares perseguidos, cassados, torturados e mortos,
por defenderem a ordem constitucional e uma sociedade livre e
democrática
12/05 Depois do filme palestra e debate com o professor Newton Carneiro IFESUL
Os Advogados Contra a Ditadura: Por uma Questão de Justiça
(2014, 130min)
Dir. Silvio Tendler
12 de maio – sexta-feira – 19h
Em
meio às torturas e mortes no período de 1964 e 1985, os advogados que
buscavam justiça e a defesa dos direitos confrontavam-se
com a repressão, ameaças e restrições de liberdades.
Agradeço desde já pela divulgação.
Tânia Cardoso de CardosoDepartamento de Difusão Cultural
Coordenadora e curadora da Sala Redenção - Cinema Universitário
tania.cardoso@difusaocultural.
www.difusaocultural.ufrgs.br
www.salaredencao.com
(51) 3308-3933