Sócio e divulgador do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte.
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Sinopse: O veterano Rocky
Balboa (Sylvester Stallone) pode não estar mais nos ringues em disputas de
boxe, mas continua com o vigor de sempre, agora como treinador. Sob sua batuta
está o jovem Adonis Creed (Michael B. Jordan), neto do lutador Apollo Creed,
que enfrentou Balboa várias vezes no ringue.
O filme Rocky Balboa
(2006) era visto como piada, ao colocar Sylvester Stallone novamente no papel
que o consagrou há décadas. Porém, o filme focava sobre o homem fora do seu
tempo, sua luta contra o envelhecimento, a busca por um lugar no mundo e por
fim abraçar a sua redenção. O sexto filme não veio por apenas trazer um ícone de
volta às telas, mas provar que ele ainda não era obsoleto perante o mundo em
que vivia e encerrar a franquia com total dignidade. É ai que chegamos então a Creed
- Nascido para Lutar, um projeto ainda mais arriscado, pois é uma espécie de spin-off
da franquia, o que poderia enfraquecê-la, mas, para a surpresa de todos, aqui
as coisas deram certo novamente.
O jovem cineasta Ryan
Coogler sabe do vespeiro em que está se metendo, pois a todo o momento do
filme, podemos sentir as velhas formulas do que já deram certo na franquia
serem usadas aqui novamente, porém renovadas e atualizadas para um novo público,
mas jamais se esquecendo daqueles que cresceram assistindo aos filmes no cinema
e na TV. De forma engenhosa, o filme resgata a imagem de Apollo Creed (Carl
Weathers) na pele do seu filho Adonis Creed (Michael B. Jordan) que ele havia
tido fora do seu casamento e meses antes da sua morte em Rocky IV. Adotado pela viúva de
Apollo (Phylicia Rashad), Creed cresce e se dá bem na vida, mas deseja seguir
os passos do seu pai e é aí que procura Rocky (Stallone) para treiná-lo e se tornar
um boxeador profissional.
Embora com toda essa
interligação aos filmes anteriores, a trama começa de uma forma fresca, focando
esse garoto perdido na vida, mas que ganha uma oportunidade para seguir uma linha
reta na vida. Mesmo antes do universo de Rocky entrar em cena, somos facilmente convencidos
a seguir o protagonista e ver até onde ele chega. Muito disso se deve ao bom
desempenho de Michael B. Jordan que, mesmo ainda tendo atuado em poucos filmes,
demonstra total maturidade para um papel principal.
Tendo já o seu
protagonista estabelecido na trama, o cineasta Ryan Coogler também nos
conquista na sua forma de filmar já na primeira hora que, mesmo trazendo as
velhas formulas de sucesso da franquia, injeta algo de novo em sua forma de
como apresentar as cenas. Reparem em uma das primeiras lutas, em que não há
cortes, mas sim um plano sequência engenhoso, como se o cineasta estivesse
dentro do ringue e se tornando uma terceira pessoa em meio a dois lutadores se digladiando.
Ele somente peca quando se envereda para a câmera lenta, algo já meio saturado
nesses tipos de filmes.
Outra coisa que me
incomodou um pouco foi na insistência de inventarem um par para o protagonista,
já que a relação dele com a personagem Bianca (Tessa Thompson) soam como dispensável,
sendo que, nem mesmo suas motivações, e tendo um problema de saúde auditivo, nos
conquista no decorrer do filme. Mas no momento em que Creed entra num conhecido
restaurante é quando o filme se adentra ao universo de Rocky e graças a isso esquecemos
um pouco desse deslize. É incrível como num diálogo de poucos minutos entre o
velho e o novo protagonista eles fazem um perfeito resumo sobre os principais
eventos dos filmes anteriores e fazendo com que até mesmo o marinheiro de
primeira viagem não se perca no caminho.
Coogler também foi sábio
na maneira de apresentar Rocky em sua primeira cena, pois a trama se passa dez
anos da última vez que o vimos e, surgindo aqui, cada vez mais enterrado ao seu
tempo e das suas glórias do passado. Embora relutante num primeiro momento, o
personagem aceita em treinar Creed, principalmente numa forma de agradecer o
velho falecido amigo por tê-lo ajudado a voltar a lutar em Rocky III. Sylvester
Stallone se vê a vontade como coadjuvante, mas basta surgir em cena para que ele
coloque o filme todo no seu bolso, pois estamos falando de um ator que conhece
o personagem há quatro décadas e aqui nos é apresentado para uma nova faceta do
personagem.
Se no filme anterior ele
lutava por uma última chance de provar o seu valor, aqui ele luta contra a
sensação de que, não tem mais nada para se fazer em vida, a não ser esperar a
sua própria morte. Treinar então Creed seria uma forma de dar um sopro de vida
numa alma jaz cansada e para assim se criar um novo objetivo para se seguir em
frente. Sem sombra de dúvida Stallone coloca pra fora esses temores da velhice,
da solidão e impotência e faz do seu Rocky uma imagem pálida do que já foi um
dia, mas que merece ser seguida e respeitada.
Assim como em Rocky V,
vemos o velho lutador como professor, ensinando tudo o que aprendeu para o seu
novo pupilo, como se tivesse passando o seu bastão antes que seja tarde demais.
No decorrer desses treinamentos, ambos se criam um elo de amor e amizade,
fazendo nascer então um clima paternal, do qual ambos necessitam, pois eles se
encontram sozinhos no mundo. Embora se enverede para um lado mais dramático, a
trama jamais exagera para que o cinéfilo encha os seus olhos de lágrimas, mas sim
que ele se emocione de uma forma verdadeira.
O ato final é aquele do
qual todos nós conhecemos, o que seria algo até então desastroso, já que o
resultado é basicamente o mesmo, até mesmo se comparado ao primeiro filme da
franquia. Porém isso é o de menos, já que o maior mérito do roteiro é de criar um
elo dessas duas gerações, da qual uma se apoia na outra e fazer com que a raiva
ou peso da culpa que existe em seus corações durante anos logo desapareça.
Sendo assim, até mesmo perdoamos quando soa uma repetitiva velha trilha sonora
em nossos ouvidos novamente, pois até aquele momento já estamos mais do que conquistados
pelos personagens.
Com um final do qual
vemos a velha escadaria do museu da Filadélfia novamente, do qual Rocky subia e
vibrava em seus tempos de glória. Creed - Nascido para Lutar, não é meramente
um recomeço de uma franquia, como também um filme sobre a relação entre pais e filhos
e feito com muito carinho para ser visto pelas novas e velhas gerações.
Sinopse: Buscapé
(Alexandre Rodrigues) é um jovem pobre, negro e muito sensível, que cresce em
um universo de muita violência. Buscapé vive na Cidade de Deus, favela carioca
conhecida por ser um dos locais mais violentos da cidade. Amedrontado com a
possibilidade de se tornar um bandido, Buscapé acaba sendo salvo de seu destino
por causa de seu talento como fotógrafo, o qual permite que siga carreira na
profissão. É através de seu olhar atrás da câmera que Buscapé analisa o
dia-a-dia da favela onde vive, onde a violência aparenta ser infinita.
Fernando Meirelles
ganhou um reconhecimento merecido nesta obra prima do cinema nacional de 2002,
sobre um retrato forte que, mostra aspectos tristes, mas verídicos das
trajetórias percorridas por jovens das favelas urbanas. Há certo virtuosismo
técnico, compensado pela verdade na atuação de um elenco orientado pela
co-diretora Kátia Lund. Meirelles surpreende o espectador, em não somente
recriar três épocas onde se passa a historia, como também criar um belo jogo de
imagens com a montagem, em que a trama vai e vem sem menor aviso, mas que flui
de tal maneira que não atrapalha em nenhum momento o entendimento de quem
assiste.
Sucesso no exterior,
foi finalista no Balta (Oscar Inglês) de melhor filme estrangeiro, perdido pelo
Espanhol Fale Com Ela, mas ganhou na categoria de melhor montagem de Paulo
Bezende, derrotando filmes famosos como O Senhor dos Anéis: As Duas Torres e O
Pianista. Mas o reconhecimento veio no Oscar de 2004, onde o filme ganhou 4
indicações ao Oscar, incluindo melhor diretor (Meirelles) e melhor roteiro
adaptado, mas que infelizmente perdeu todos, perante ao fim da trilogia dos
Senhor dos Anéis. Mas isso não impediu, que dez anos depois que, o filme
entrasse facilmente na lista dos 100 melhores filmes de todos os tempos, ao
lado de pesos como Laranja Mecânica e os Bons Companheiros.
9º) O Pagador de
Promessas (1962)
Sinopse: Zé do Burro
(Leonardo Villar) e sua mulher Rosa (Glória Menezes) vivem em uma pequena
propriedade a 42 quilômetros de Salvador. Um dia, o burro de estimação de Zé
atingido por um raio e ele acaba indo a um terreiro de candomblé, onde faz uma
promessa a Santa Bárbara para salvar o animal. Com o restabelecimento do bicho,
Zé põe-se a cumprir a promessa e doa metade de seu sítio, para depois começar
uma caminhada rumo a Salvador, carregando nas costas uma imensa cruz de madeira.
Mas a via crucis de Zé ainda se torna mais angustiante ao ver sua mulher se
engraçar com o cafetão Bonitão (Geraldo Del Rey) e ao encontrar a resistência
ferrenha do padre Olavo (Dionísio Azevedo) a negar-lhe a entrada em sua igreja,
pela razão de Zé haver feito sua promessa em um terreiro de macumba.
Crítica aos políticos
(pré-ditadura militar), a igreja católica, a policia e á imprensa. A peça de
Dias Gomes recebe um tratamento dramático que mantém viva a força dos
personagens e a discussão sobre á influencia da religião na sociedade.
Interpretações inesquecíveis e sinceras do casal central. Tanto Leonardo Villar
como Gloria Menezes estão ótimos em seus respectivos papeis, assim como
Dionísio Azevedo, que passa a todo o momento, uma representação hostil e
atrasada da igreja católica.
Anos mais tarde, a
peça ganharia uma mini-série para a TV, transmitida pela Rede Globo, mas nada
que se compare ao resultado final desse filme e de como ele mexeu com os
sentimentos das pessoas na época. Palma de Ouro no Festival de Cannes e
finalista ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
Curiosidade: Após o
recebimento do prêmio em Cannes, o diretor e a equipe do filme que viajou até o
Festival foi recebida com um desfile público em carro aberto, ao desembarcar no
Brasil.
Sinopse: O roteirista Dalton
Trumbo (Bryan Cranston) e outros colegas não negam suas crenças políticas. Em
1947, quando Trumbo se recusa a delatar os comunistas que atuam na indústria do
entretenimento americano, ele entra para a lista negra dos profissionais
proibidos de trabalharem em Hollywood.
Quando Elia Kazan (Sindicato
dos Ladrões) recebeu o seu Oscar pela carreira em 1999, o público que assistia
se dividiu, entre aqueles que aplaudiram e aqueles que cruzaram os braços. Com
certa razão, pois Kazan acabou se tornando uma espécie de delator na época das
caças as bruxas que, havia sido instalado em Hollywood para caçar atores,
atrizes, diretores, produtores e roteiristas que fossem do partido comunista. Devido
a isso, muitos tiveram as suas carreiras arruinadas, foram presos ou tiveram
que abandonar o país como foi o caso de até mesmo do mestre Charles Chaplin.
Dirigido por Jay
Roach (Entrando numa Fria) Trumbo: Lista Negra reconstitui uma parte dessa
complicada história do cinema americano, onde vemos roteirista Dalton Trumbo
(Bryan Cranston) e seus colegas do ramo sendo esmagados pela a Motion Pictures,
presidida por ninguém menos que John Wayne, que foi a responsável pela Caça às
bruxas dentro da Indústria cinematográfica. Porém, mesmo com o nome manchado, e
sem poder trabalhar nos grandes estúdios novamente, Trumbo jamais desistiu de
sua carreira. Para isso, começou de forma clandestina a fazer roteiros para
pequenos estúdios de filmes B e usando pseudônimos ao invés do seu nome
verdadeiro.
Para cinéfilos como
eu, é divertido assistir as passagens do qual esse filme retrata, onde a
reconstituição de época é algo primoroso e muito bem cuidado.Mas acima de tudo, é curioso observar como Dalton
Trumbo foi responsável pela criação de incríveis histórias, como no caso de A Princesa
e o Plebeu (1953) que, lhe renderia o seu primeiro Oscar na carreira, mesmo de
uma forma não oficial, pois o prêmio viria a ser dado para um amigo de Trumbo que
fingia ser dono do roteiro. Não há como não se divertir em ver os
apresentadores da academia, fazendo os seus números de apresentações vazias, mas
mal sabendo para quem eles realmente estavam premiando naquele momento.
O filme nos empolga
graças à persistência vinda do personagem e pelo seu amor em escrever diversas
histórias, mesmo em meio às adversidades e a intolerância das pessoas que se
diziam defender a liberdade do povo americano, quando na verdade nem sabiam o
que diziam. Muito dessa energia vista na tela se deve ao seu interprete Bryan
Cranston: conhecido mundialmente pela sua atuação na cultuada série Breaking
bad,Cranston passa para nós todo o lado arrogante, cínico e apaixonado de Dalton
Trumbo e fazendo a gente até compreender a sua obsessão, mesmo quando ela, por
vezes, prejudica a relação com a sua família.
Mas se o protagonista
brilha em seu papel principal, o elenco secundário não fica muito atrás. Porém,
mais do que ótimos atores dando vida a outros interpretes do passado, é preciso
tirar o chapéu para os produtores, ao acharem atores quase idênticos e dar
palmas aos maquiadores por caracterizar eles de uma forma que quase ficassem idênticos.
Se David James Elliott passa todo o lado direitista, como também o lado bronco,
do qual tinha John Wayne, Dean O'Gorman (O Hobbit) surge como uma copia fiel do
astro Kirk Douglas.
Falando do velho
astro, Douglas surge em cena, num dos momentos mais simbólicos da trama. Astro
na época, e ao mesmo tempo produtor e roteirista, Douglas convidaria Dalton Trumbo, numa espécie de voto de
confiança, para roteirizar Spartacus, filme que viria a se tornar um grande
épico do cinema. Mais do que um momento simbólico, essa passagem do filme também
serve para questionar o papel de Hollywood que, de uma arte para o entretenimento,
se tornou palco para guerras e fins políticos infundados.
Essa ambição, e intolerância,
foi muito bem representado pela atriz daquele tempo chamada Hedda Hopper, que
aqui ganha vida graças ao bom desempenho de Helen Mirren (A Rainha), fazendo
com que a gente a odeie e torça pela sua queda política no meio cinematográfico.
Uma vez que a lista negra se tornou uma vergonha dentro da história de Hollywood,
o ato final sintetiza a alma cansada daqueles que lutaram, sobreviveram, mas
que infelizmente alguns não conseguiram obter a sua renderão. Infelizmente isso
é algo que ecoa até hoje, principalmente em tempos indefinidos com relação à
crise política e cultural do nosso e de muitos países.
Trumbo: Lista Negra é
uma pequena parte de uma grande vergonha da história política e cinematográfica
americana, mas que está ali como exemplo de erro histórico a não ser seguido e
que jamais se repita em nosso presente, se é que já não está se repetindo
infelizmente.