Sinopse: Sob o ponto
de vista de um garoto de 17 anos, Jean, interpretado por Thales Cavalcanti, a
trama faz uma radiografia de uma família da alta sociedade carioca que, com o
desemprego de Hugo, vivido por Marcello Novaes, entra em falência. No entanto,
o casal Hugo e Sônia (Suzana Pires) insiste em viver de aparências e omite até
dos filhos a real situação econômica familiar.
Em sua estreia como
diretor, Fellipe Barbosa filmou no bairro
onde cresceu, na escola em que estudou
e utilizou no elenco pessoas que conhecem de perto a realidade que Casa
Grande apresenta. Como o título evidencia, a produção apresenta semelhanças com
o romance Casa Grande e Senzala, do sociólogo Gylberto Freire. Para além da
intertextualidade, o filme revela suas camadas à medida que, sob a ótica do
garoto Jean, vamos estudando as contradições daquela família que já não
encontra mais seu lugar em uma sociedade atravessada por profundas
transformações de ordens diversas.
A abertura do filme é
sintomática e funciona como prólogo. Com a câmera parada tendo como foco
central a imensa mansão toda iluminada, Hugo sai da jacuzzi de sua piscina e se
dirige ao quarto do casal. No trajeto, vai apagando todas as luzes da casa,
numa referência ao declínio financeiro da família. Ao amanhecer, os empregados
chegam para trabalhar, Hugo acorda Jean pra ir para a escola e em seguida todos
estão reunidos na farta mesa do café da manhã. Tudo parece normal na vida desta
família abastada, que vive no badalado bairro da Barra da Tijuca. No entanto,
aos poucos o público percebe que o provedor está desempregado, a dona da casa
precisa dar aulas de francês e vender bugigangas às amigas para manter o
padrão.
Tudo em vão: as
dívidas começam a aparecer e o casal resolve demitir Severino (Gentil Cordeiro)
o motorista. Mas eles não contam a verdade aos filhos e Jean, achando que o
motorista está de férias, passa a ir de ônibus para a escola. O que poderia ser
desagradável torna-se atraente: é na volta para casa, no ônibus, que ele
conhece Luiza (Bruna Amaya), uma menina que estuda em escola pública e mora num
bairro modesto, o contraponto de sua realidade. O namoro entre eles é
inevitável.
Até então vivendo
numa redoma mantida pelos pais superprotetores, Jean aos poucos vai se
inteirando da realidade (as dívidas do pai, as diferenças de classes sociais) e
se colocando na vida. Com cenas que ilustram as contradições sociais do
Brasil, Casa grande nasce de um momento de
transformação na sociedade brasileira, sobretudo em relação à distribuição de
renda. Exibido pela primeira vez em 2014, um ano após os protestos de 2013, o
filme agora entra em cartaz nos cinemas em mais um momento marcado por
manifestações no país.
A
ideia de "crise" está presente na tela, mas é o público que vai
concluir quem são os atingidos. As
qualidades desse filme vão muito além de seu nome. Seu maior trunfo é a forma
como a história é contada. Talvez porque o diretor e roteirista Felippe Barbosa
tenha se inspirado em sua própria vida para conduzir seu primeiro longa de
ficção.
Ele não tenta
revolucionar a linguagem cinematográfica, pelo contrário: de forma simples e
eficaz, os diálogos vão fluindo de forma tão natural que não há como não se
envolver.
Me sigam no Facebook, twitter e Google+