sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Cine Especial: Revisitando "O Planeta dos Vampiros"

"O Planeta dos Vampiros"  (1965) é o filme mais distinto dos demais títulos de Mario Bava. Se distancia bastante do estilo que o mestre italiano do horror estava acostumado ao criar na sua carreira, pois aqui ele se insere no campo da ficção científica. E assim como os seus outros dos seus títulos, ele dá um passo a frente ao gênero devido a sua criatividade e segurança na sua direção mesmo com um orçamento limitado.

Embora italiana, a produção é também uma co-espanhola, além de ter ganhou o mercado exibidor nos EUA na época do seu lançamento.  "O Planeta dos Vampiros", que em sua versão americana, distribuída pela AIP de Samuel Z. Arkoff e James H. Nicholson, ganhou toques no roteiro de Ib Melchior, diretor e roteirista do lisérgico "Viagem ao Planeta Proibido" (1959). Os misteriosos inimigos espaciais do deserto selvagem planeta Aura, onde as naves Argo e Galliot são obrigadas a fazer uma aterrissagem forçada, ao partirem para um expedição em busca de um misterioso sinal emitido da rocha espacial. O título, porém, é um tanto errôneo, já que não existe vampiros tradicionais em cena, mas sim personagens que se tornam hospedeiros de uma entidade quase invisível.

Com a nave avariada após terem sido arrastadas por meio de uma poderosa força gravitacional e presos naquele planeta, a tripulação da Argo, liderada pelo capitão Mark Markary (Barry Sullivan), após uma intensa luta entre eles, possuídos por algum tipo de influência espacial com o objetivo que destruíssem uns aos outros, têm de procurar pela outra nave, Galliot, onde o Capitão Sallas emitiu um sinal de socorro. Vestidos com o uniforme que posteriormente serviu de inspiração para a criação dos trages em " X-Men" (2000), eles vasculham o exterior do planeta virtualmente desabitado, com atmosfera compatível com oxigênio, até encontrarem toda a tripulação da outra nave mortos, aparentemente vítimas do mesmo ataque de cólera que atingiu os astronautas da Argo.

Uma cena em particular do filme é simplesmente incrível, um dos melhores momentos do terror/ sci-fi no cinema de todos os tempos. É quando Mark e a brasileira Norma Bengel, interpretando Sanya, uma das tripulantes da Argo, encontram uma outra nave alienígena destruída no planeta, que teve um terrível destino trágico, e ficam presos dentro dessa nave, em um ambiente claustrofóbico e com uma carga absurda de tensão que realmente sufocante , pontuados por uma mórbida fusão de trilha sonora com assustadores efeitos sonoros. Ainda mais por encontrarem dois esqueletos gigantes de criaturas alienígenas que tripulavam aquela nave espacial, deixando extremamente claro o quanto é perigosa a força que habita o planeta Aura.

Sendo assim, fica difícil acreditar em Ridley Scott e Dan O’Bannon quando ficavam dizendo que nunca teriam assistido "O Planeta dos Vampiros", porque obviamente "Alien – O Oitavo Passageiro" (1979) foi visualmente e atmosfericamente inspirado no filme de Bava Principalmente nesta cena que eles encontram a outra nave e seus fósseis espaciais. E falo mais, até o recente Prometeus, espécie de  da mitologia Alien, percebe-se claramente ser influenciado por essa obra.

A AIP resolveu financiar e co-produzir a fita de Bava exatamente por conta do sucesso comercial ao distribuir nos EUA os filmes anteriores do italiano, A Máscara de Satã e As Três Máscaras do Terror. O Planeta dos Vampiros ainda contou com o financiamento da Italian International Film de Fulvio Lucisano e da espanhola Castilla Cooperativa Cinematográfica. Mas apesar disso, o orçamento era extremamente baixo para uma produção deste porte e aí que a técnica brilhante de Bava como realizador e sua imensa criatividade entraram em cena, usando truques óticos para compensar a falta de grana.

Segundo Tim Lucas, biógrafo de Bava, o planeta Aura foi concebido com apenas duas rochas de gesso. Isso mesmo, duas! Bava usou uma técnica de espelhos no set para conseguir multiplicar o efeito visual do ambiente inóspito do planeta, utilizando jogo de cores e de luz e sombra na fotografia para deixar aquelas rochas de gesso com a aparência desejada de um local lúgubre e sinistro, e cenários obscurecidos por névoas, além do uso de miniaturas sobre uma mesa, valendo-se do famoso processo Schüftan, comum no cinema no começo do século XX, inventando por Eugene Schüftan, utilizado pela primeira vez em Metrópolis de Fritz Lang, que consiste em colocar uma chapa de vidro num ângulo de 45 graus entre a câmera e as miniaturas, para dar a noção de tamanho e profundidade desejada na hora dos atores contracenarem com o ambiente.

Bava além disso, para a concepção visual de seu planeta e do interior da espaçonave, pega emprestado as histórias de ficção científica da literatura pulp, abusando de botões e objetos que piscam intermitentemente, excêntricas máquinas, lutas coreografadas, armas futuristas espaciais, figurino estilizado, cabelos, maquiagem, tudo, para criar um ambiente único, lisérgico, colorido, sufocante e deliciosamente kitsch.

E mais uma vez, o mestre cuida de todos os detalhes de O Planeta dos Vampiros com muito esmero, atentando-se a todos os detalhes impecáveis da direção de arte, fotografia, figurino, efeitos especiais, como sempre, isso sem contar a brilhante forma como ele conduz o desenvolvimento do longa até seu final pessimista, criando um clima de suspense constante e momentos de verdadeiro horror espacial.


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