Sinopse: Dois homens fazem uma arriscada expedição à Groenlândia em busca de um mapa perdido.
Filmes sobre sobrevivência sempre rendem muita tensão para aqueles que estão assistindo a história, principalmente pelo fato de ser realmente baseado em fatos verídicos e disparando em nós um sinal de alerta de que aqueles protagonistas podem realmente morrer a qualquer momento. "Vivos" (1993), por exemplo, foi uma reconstituição crua sobre os sobreviventes do acidente de avião da Cordilheira dos Andes onde os mesmos foram obrigados a se alimentarem da carne dos mortos. "Contra o Gelo" (2022) segue nesta mesma linha, onde vemos a persistência de dois homens em alcançar os seus objetivos, mas tendo que enfrentar os perigos vindos do desconhecido.
Dirigido por Peter Flinth, a trama é baseada em fatos reais que se passam no de 1909, sobre a Expedição Alabama da Dinamarca, liderada pelo capitão Ejnar Mikkelsen, que estava tentando refutar a reivindicação dos Estados Unidos ao nordeste da Groenlândia, uma reivindicação que estava enraizada na ideia de que a Groenlândia foi dividida em dois pedaços diferentes de terra. Deixando sua tripulação para trás com o navio, Mikkelsen atravessa o gelo com seu inexperiente membro da tripulação, Iver Iversen. Os dois homens conseguem encontrar a prova de que a Groenlândia é uma ilha, mas o retorno ao navio leva mais tempo e é muito mais difícil do que o esperado.
Eu observo que nestes últimos dois anos os diretores de cinema têm procurado acrescentar muito mais realismo em suas obras, mesmo quando as mesmas se enveredam até mesmo para o gênero fantástico. No caso de "Contra o Gelo", mesmo sendo baseado em uma história real, seria um filme que poderia facilmente ser realizado com bastante CGI para retratar o período em que a trama passa. Porém, ao invés disso, testemunhamos realmente cenários reais onde ocorreram a expedição e fazendo com que tudo se torne mais verossímil.
Por conta disso, temos a sensação de maior peso com relação a situação em que os dois protagonistas se encontram, fazendo com que nos coloquemos no lugar deles e perguntando para nós mesmos se aguentaríamos. Com personalidades distintas uma da outra, vemos a interação entre um veterano e um novato, sendo que esse último terá que aprender da pior maneira que sobreviver em um lugar como esse requer certa frieza e não tendo que se importar com que irá se sacrificar no decorrer da cruzada. Por mais cruel que seja para a visão dos defensores dos animais, a morte e o sacrífico dos cães no decorrer da jornada fazem parte do amadurecimento perante obstáculos que podem matá-los a qualquer momento.
Tanto Nikolaj Coster-Waldau como Joe Cole estão perfeitos em seus respectivos personagens, sendo que o primeiro nos passa o ar da experiência, mas também não escondendo uma certa loucura misturada com persistência com relação em concluir a sua cruzada aja o que houver. Curiosamente, a trama se torna cada vez mais sufocante não na ida, mas sim em sua volta, principalmente pelo fato deles ficarem ilhados e sem navio para retornarem para casa. É então que o filme explora em potência máxima o lado psicológico dos dois personagens e fazendo a gente temer pelo destino deles.
Com momentos de pura tensão, o filme ainda nos brinda com momentos inesperados, como no caso da aparição surpresa de um grande urso que, mesmo sendo feito em CGI, sua presença me fez lembrar do momento mais angustiante do filme "O Regresso" (2015). Ao final, ambos os protagonistas são obrigados a enfrentarem os seus instintos mais primitivos e cabem eles saberem como enfrentá-los para não sucumbirem ao lado bestial do ser humano. Embora tenha um final acolhedor meio que forçado no último minuto, isso não diminui o tamanho do impacto que o filme nos provoca ao longo do percurso.
"Contra o Gelo" é uma bela aventura sobre o ser humano perante a força da natureza e de como ela pode nos levar a sermos melhores do que estávamos predestinados a ser um dia.
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Marcelo, o filme é lindo neste aspecto de nos colocar junto aos personagens no limite. Obrigada pelo teu carinho com o Cine Debate, seguimos vendo e aprendendo juntos. Abraços.
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