segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Cine Especial: Clube de Cinema de Porto Alegre:

 Nota: filmes exibidos para associados nos dias 10 e 11 de Novembro.  

My Name is Now, Elza Soares



Sinopse: Um filme com a cantora Elza Soares, ícone da música brasileira, numa saga que ultrapassa o tempo, espaço, perdas e sucessos. Elza e seu espelho, cara a cara, nua e crua, ao mesmo tempo frágil e forte, real e sobrenatural, uma fênix, que com a força da natureza transcende e canta gloriosamente.

Na minha crítica recente sobre o filme Bohemian Rhapsody, eu havia dito que a vida de um artista dentro do universo da música é tão intensa que, na maioria dos casos, uma adaptação para o cinema não é o suficiente para representar o que foi a vida e a obra de um determinado ícone da música. Se uma adaptação não se torna exatamente fiel a realidade cabe, então, o próprio artista se desnudar na frente da câmera e nos passar uma idéia sobre o que a sua carreira lhe proporcionou e lhe tirou em vida. My Name is Now, Elza Soares, talvez, seja mais ou menos isso, ao testemunharmos uma artista sem nenhuma vergonha diante da câmera e dizer o quão a vida pessoal e artística lhe moldou como pessoa. 
Dirigido por Elizabete Martins Campos, a obra não é um simples documentário, mas sim mais parece uma espécie de ensaio cinematográfico para  contar quem é Elza Soares como ser humano. Aqui não há entrevista de pessoas próximas a ela, mas sim somente da própria, falando sobre os seus altos e baixos da vida e de como soube lidar, tanto com o sucesso, como também com os seus percalços. Fora isso, na visão da cineasta, talvez não baste somente Soares dizer para a câmera sobre a sua pessoa. 
Através de imagens de arquivo, conhecemos inúmeras passagens da vida pessoal e artística de Elza Soares, das quais se entrelaçam, por exemplo, com as fases de uma lua que vai se apresentando ao longo da obra. Ao mesmo tempo, Elizabete Martins insiste em colocar a cantora em diversos cenários surrealistas, como se fossem uma representação, tanto da alma, como das entranhas da artista: a cena em que vemos Elza ir em direção a um túnel obscuro sintetiza bem esse pensamento. 
Como não poderia ser diferente, há uma passagem referente ao seu casamento com o jogador Garrincha, do qual é representado por fotos de arquivos de tempos mais longínquos. Infelizmente para os fãs que esperam por mais detalhes sobre essa união podem ficar um tanto que decepcionados, já que não há muitos detalhes, mas sim somente o que é mostrado na tela. A obra não faz questão de explorar a fundo as perdas e danos que Elza passou em vida, mas tendo somente uma ideia através do que ela fala.
E é exatamente isso que o filme é, ao trazer uma Elza  nua e crua, falando um pouco de sua pessoa através de sua música, mas não revelando explicitamente o que, talvez, muitos fãs gostariam de ver e ouvir. O que resta na obra é vermos ela como uma artista sem remorso, sem medo, que diz muito, mas também revela pouco. Para os cinéfilos, a obra pode até impressionar pelos recursos utilizados para moldar a ideia do que artista é, mas será pouco para os fãs e para os entendedores da cultura musical brasileira. 
My Name is Now, Elza Soares acaba sendo apenas a superfície sobre alguém que tem muito ainda a dizer. 


Gauguin – Viagem Ao Taiti



Sinopse: Em 1891, o artista Paul Gauguin decide, por conta própria, ir para o exílio no Taiti. Lá, ele espera reencontrar sua pintura livre, selvagem, longe dos códigos morais, políticos e estéticos da Europa civilizada. Mas, no local, acaba se afundando na selva, enfrentando a solidão, pobreza e a doença. Ele deve se reunir com Tehura, que se tornou sua esposa e o tema de suas maiores pinturas.


O pós-impressionismo de Paul Gauguin é muito reconhecido por seu primitivismo em constante contato com a natureza e cores exuberantes. Nesse estágio específico em que procura se aproximar da vida selvagem, com paisagens diferentes da monotonia cosmopolita parisiense, encontra sua criatividade em estado de graça, embora neste mesmo momento, tenha passado pela miséria que assolava a vida de vários artistas em geral.
Dirigido por Édouard Deluc, o longa conta o momento em que um dos principais pintores franceses resolve sair da França em direção ao Taiti, no século XIX, em busca de maior crescimento artístico. Ao chegar na ilha da Polinésia Francesa, o artista tenta redescobrir a natureza selvagem em sua arte e se relaciona com Tehura, sua musa inspiradora.A partir disso, conhecemos um outro lado de Gauguin, para além do “artista herói”. O longa revela as dificuldades que o pintor sofreu no Taiti, como fome e falta de dinheiro, e mostra o relacionamento dele com a mulher, desde o casamento até cenas de ciúme doentio. Na narrativa, o diretor destaca que Gauguin via Tehura não só pelo lado afetivo, mas, principalmente, por ser seu objeto nas obras.
Em uma das cenas mais impactantes do longa, a mulher aparece deitada na cama, tremendo de medo dos espíritos invadirem a casa. Quando chega na residência, Gauguin ignora o sentimento de Tehura e pede para ela continuar parada até que ele terminasse uma de suas pinturas. Vale destacar ainda a atuação do ator Vincent Cassel, que constrói com maestria esse personagem genial, egoísta, humano, e também da atriz Tuhei Adams, que mescla inocência e sensualidade.
 
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