segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Cine Especial: Cine Iberê: O Sangue de um Poeta (1930)



 NOTA: o filme foi exibido nesse último domingo (11/11/18) às 16h no Cine Iberê Sinopse: Um artista sem nome é transportado através de um espelho para outra dimensão, onde ele viaja através de diversos cenários bizarros. História contada em quatro episódios.

Nas décadas de 20 e 30, ao menos no meu ponto de vista, havia uma procura para se fazer uma analise sobre os significados dos sonhos e do subconsciente ainda obscuro para os analistas daquele tempo. A área cultural, tanto do cinema como também literatura, serviram como plataforma para desvendar, mesmo que em parte, o submundo escondido em nossas mentes e o que elas podem significar para as demais pessoas que forem testemunhar. Luis Bunuel, por exemplo, fez um ensaio surpreendente em Cão Andaluz (1929) que, ao lado de Salvador Dali, elaborou um dos primeiros filmes a sintetizar o universo dos sonhos numa tela de cinema.
Não demorou muito para que outros cineastas daquele tempo viessem abraçar a proposta de elaborar longas metragens cujas suas imagens surrealistas falam mais por si só do que uma trama convencional vista em outros filmes. Mas antes de tudo isso, por exemplo, George Melies havia surpreendido com os seus primeiros “curtas metragens” e tendo se tornado um dos primeiros cineastas a elaborar tramas que explorassem diversas histórias do gênero fantástico através de recursos cinematográficos que se tinham em mãos naquele tempo. No meu entendimento, Jean Cocteau usou essas mesmas ferramentas cinematográficas já praticadas por outros cineastas como George Melies, mas criando em O Sangue de um Poeta (1930) uma experiência sensorial poucas vezes vistas no cinema naquela época.
Dividida em quatro segmentos, a trama gira em torno de um artista, do qual é levado a outras realidades através da criação de suas artes, desde as pinturas como também na criação de suas estátuas. Curiosamente, o filme possui passagens em que não há palavras, mas que, ao mesmo tempo, existe gradualmente a participação delas e vindas, tanto do próprio protagonista, como também do narrador (o próprio cineasta) que conta história. A partir do momento que o artista embarca nessa viagem surrealista cada um tem a sua interpretação sobre o que testemunha na tela.
Embora tenha feito me lembrar tanto de outras obras cinematográficas, como o já citado Cão Andaluz, como também de obras literárias como Alice Através do Espelho, Jean Cocteau criou um surpreende filme a frente do seu tempo. Basicamente o que assistimos são memórias, ou pensamentos, do próprio cineasta e que ele as coloca na tela do cinema sem medo algum de ser mal interpretado por aqueles que vieram a testemunhar elas. Curiosamente, há várias situações sexuais durante o decorrer trama, mesmo quando elas surgem apenas nas entrelinhas, mas que tornam a obra corajosa para a sua época.
Com inúmeros recursos cinematográficos feitos a mão naquele tempo, o filme é um verdadeiro show de efeitos visuais, dos quais impressiona até mesmo nos dias de hoje, onde vivemos rodeados por recursos de ponta vistos nas telas do cinema, mas faltando cada vez mais o calor da mão humana. Jean Cocteau talvez não tenha vindo a ser alguém tão conhecido como Luis Bunuel, mas com certeza merece ser redescoberto por essa nova geração que busca um cinema mais desafiador e que venha desafia as nossas perspectivas. O Sangue de um Poeta é uma pequena pérola cinematográfica a ser descoberta pelas novas plateias.  

     

Fundação Iberê Camargo: Av. Padre Cacique, 2000 - Cristal, Porto Alegre. Sessões de cinema sempre aos Domingos às 16h.  
 
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