terça-feira, 2 de outubro de 2018

Cine Especial: Sonho Cinema & Psicanálise: Parte 3


Nos dias 06 e 07 de Outubro eu estarei na Cinemateca Capitólio de Porto Alegre participando do curso Sonho Cinema e Psicanálise, criado pelo Cine Um e ministrado pelo psicanalista Leonardo Della Pasqua. Enquanto os dias da atividade não chegam por aqui eu irei falar um pouco sobre os seis filmes que serão analisados na atividade. 

Preso na Escuridão (1997)

Sinopse: Cesar, um rapaz bonito de 25 anos, tinha tudo, uma carreira de sucesso, carros caros, uma casa de solteiro e uma sequência interminável de mulheres bonitas e dispostas. De repente, ele é jogado em um estranho mistério psicológico depois que um acidente de carro lhe deixa com o rosto cicatrizado e o coloca na prisão.

Muito pouco deve ser dito sobre esse filme, pois a experiencia de assisti-lo sem saber muito sobre ele o torna surpreendente. Misturando passado e presente envolvendo César (Eduardo Noriega), um jovem bem-sucedido, cujos sonhos de consumo (dinheiro, sucesso, mulheres, boa aparência) se tornam pesadelos depois de se apaixonar pela namorada de seu melhor amigo, a bela Sofia (Penélope Cruz, em um dos seus primeiros papéis de destaque, e que repetiria a personagem no remake com Tom Cruise, “Vanilla Sky), e que depois surge em um hospital psiquiátrico com o rosto inutilizado e escondido por uma máscara por conta de uma batida de carro que vitimou sua ex-namorada Nuria, que o perseguia. Os delírios que parecem acompanhar César a partir daí vão aos poucos envolvendo o espectador numa rede onde sonho e realidade coexistem numa mesma lógica, em que o personagem é incapaz de saber se está sonhando ou em vigília.
O tema não é novidade. David Cronenberg (Videodrome, eXistenZ, Mistérios e Paixões), David Lynch (Cidade dos Sonhos) e David Fincher (The Game) são peritos nisso. Porém Alejandro Amenábar também fala por si numa forma de filmar original e que nos prende do começo ao fim. Em “Preso na Escuridão”, o protagonista (e o espectador junto com ele) finalmente se coloca em xeque, e há antagonismo moral e um sentimento estético que dele decorre. O grande demérito do filme, porém, é o momento explicativo, em que tudo é devidamente mastigado e entregue de bandeja para aqueles que não entenderam a trama. Contudo, Amenábar elabora um criativo final que o torna aberto e faz com que tiremos as nossas  próprias conclusões.
De fato, o suspense inteligente utilizado pelo cineasta com os toques de ficção científica resulta em uma obra que tece uma dura crítica à preocupação excessiva com as aparências que rege o mundo contemporâneo. Utilizando referências sofisticadas (“O Fantasma da Ópera” é a mais explícita delas), o diretor realiza um questionamento constante da natureza do real, através do embaralhamento das fronteiras entre sonho e realidade. “Preso na Escuridão” funciona como uma parábola que bate forte na cultura yuppie, mas faz isso sem o menor traço de didatismo, constrói uma narrativa empolgante em que a ação, mais psicológica do que física, evolui em uma trama envolvente, que desafia a lógica convencional e flerta com a metafísica ao discutir temas polêmicos, como o uso da tecnologia para superar a barreira da morte. Amenábar consegue imprimir a lógica dos sonhos à narrativa, através de cortes abruptos que quebram o fluxo espaço-tempo e da inclusão de diversos momentos de dèjá vu e bons momentos de suspense, pontuados pela trilha sonora composta pelo próprio diretor.


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