Nos dias 08 e 09 de
outubro eu estarei participando do curso Michael Haneke: O lado sombrio do
nosso tempo, criado pelo Cine Um e ministrado pelo jornalista Bruno Maya. Enquanto os dias da atividade não chegam,
por aqui eu irei postar sobre os filmes que o cineasta já fez e analisar um
pouco sobre o porquê do seu cinema chocar, mas fascinar.
Trilogia
da Violência (ou Incomunicabilidade) (1989 – 2004)
O Sétimo Continente
(1989)
Sinopse: Georg e sua
esposa Anna percebem o quanto suas vidas são isoladas e monótonas quando sua
filha Eva, em uma tentativa desesperada para conseguir atenção, passa a fingir
estar cega. A família decide então alterar sua realidade e mudar para a
Austrália.
O filme pode ser
visto tanto como uma visão de mundo do próprio cineasta, como também uma
crítica da sociedade em que ele vive, um modo de refletir sobre a falta de
sentido na vida. Esse, aliás, é um dos problemas dos países mais desenvolvidos,
aqueles que já conquistaram a riqueza material, mas que agora precisam
preencher outro vazio.
Destaque também para
o modo distinto de filmar de Haneke, que demora bastante para nos apresentar
aos rostos da família. Vemos partes do corpo e objetos: as mãos, os pés, a mesa
posta para o café da manhã. Essa demora é outro elemento para gerar um
sentimento de inquietude no espectador e uma prova de que, entre os cineastas
atuais que preferem o mal estar ao final feliz hollywoodiano, Michael Haneke é
provavelmente o mais brilhante.
Benny's Video (1992)
Sinopse: A história
de um garoto chamado Benny, que assiste filmes violentos, incluindo um vídeo
caseiro que documenta o abatimento de um porco. Em um dia, entediado, Benny
convida uma garota para ir até sua casa e a assassina, gravando o crime com sua
câmera de vídeo.
Numa primeira
analise, fica claro que o comportamento agressivo do rapaz é diretamente
influenciado pela da violência na mídia, ou simplesmente e pela negligência dos
pais. Porém, o problema parece ir muito mais além da cortina. O que o filme
busca é mergulhar a fundo na mente de Benny. Por isso, a câmera o foca, o analisa
e fazendo com que enxerguemos a sua perspectiva do mundo através do seu olhar.
Mais do que as cenas fortes,
o que realmente espanta é na exploração desse mundo complexo e frio: na relação
familiar, na posição de Benny após o assassinato, na reação dos pais quando
descobrem o que aconteceu, na atitude do garoto nos momentos finais da trama. A
frieza é o ponto visceral, brilhantemente explorado pelo diretor, e o que faz
desta uma produção forte e envolvente como poucas conseguem ser.
Em 71 Fragmentos de
uma Cronologia do Acaso (1994)
Sinopse: O título
resume a colcha de retalhos que Haneke tece para retratar o dia-a-dia de
cidadãos austríacos, antes de um massacre. Os fragmentos expostos pelo cineasta
mostram o cotidiano dos personagens, juntamente com seus problemas.
O desfecho do filme é
antecipado logo no começo. Um letreiro informa que na véspera de Natal um jovem
de 19 anos matará três pessoas em um banco de Viena e depois cometerá o
suicídio. A partir daí, o que se segue são imagens desconexas da vida cotidiana
de várias pessoas. Rapidamente, entende-se que o destino daqueles indivíduos se
encontrará com a tragédia final. A questão que nos envolve e prende ao filme, o
terceiro de Michael Haneke, é: como isso vai acontecer?
A partir daí, já
sabemos o que esperar. Temos uma contagem progressiva de dias até chegar a data
fatídica. Na introdução de cada dia, é mostrada uma reportagem televisiva sobre
temas diversos como a guerra na Bósnia, os conflitos na Faixa de Gaza,
terrorismo, massacre na Turquia, Sarajevo e até a acusação de pedofilia sofrida
por Michael Jackson. Dentre os fragmentos, vemos uma menina prestes a ser
adotada por um casal, um idoso solitário em sua casa, um casal amargurado que
não consegue mais dialogar, um menino refugiado romeno que vaga pelas ruas e
vive às custas de pequenos furtos, jovens universitários lidando com
quebra-cabeças e computadores. Mesmo já
sabendo o que vai acontecer, o final é abrupto e inesperado. A direção de
Haneke é inconfundível, a câmera fixa, o olhar insistente, quadros parados,
alguns movimentos repetitivos, a presença constante da televisão, poucos
diálogos, silêncios tensos e angustiantes. Não é o meu filme preferido do
diretor, mas, sem dúvida, é Haneke.
Mais informações e
inscrições para o curso você clica aqui.
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