quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Cine Especial: Michael Haneke: O lado sombrio do nosso tempo: Parte 1



 Nos dias 08 e 09 de outubro eu estarei participando do curso Michael Haneke: O lado sombrio do nosso tempo, criado pelo Cine Um e ministrado pelo jornalista  Bruno Maya. Enquanto os dias da atividade não chegam, por aqui eu irei postar sobre os filmes que o cineasta já fez e analisar um pouco sobre o porquê do seu cinema chocar, mas fascinar.

 

Trilogia da Violência (ou Incomunicabilidade) (1989 – 2004)


O Sétimo Continente (1989)



Sinopse: Georg e sua esposa Anna percebem o quanto suas vidas são isoladas e monótonas quando sua filha Eva, em uma tentativa desesperada para conseguir atenção, passa a fingir estar cega. A família decide então alterar sua realidade e mudar para a Austrália.


O filme pode ser visto tanto como uma visão de mundo do próprio cineasta, como também uma crítica da sociedade em que ele vive, um modo de refletir sobre a falta de sentido na vida. Esse, aliás, é um dos problemas dos países mais desenvolvidos, aqueles que já conquistaram a riqueza material, mas que agora precisam preencher outro vazio.
Destaque também para o modo distinto de filmar de Haneke, que demora bastante para nos apresentar aos rostos da família. Vemos partes do corpo e objetos: as mãos, os pés, a mesa posta para o café da manhã. Essa demora é outro elemento para gerar um sentimento de inquietude no espectador e uma prova de que, entre os cineastas atuais que preferem o mal estar ao final feliz hollywoodiano, Michael Haneke é provavelmente o mais brilhante.

 

Benny's Video (1992)



Sinopse: A história de um garoto chamado Benny, que assiste filmes violentos, incluindo um vídeo caseiro que documenta o abatimento de um porco. Em um dia, entediado, Benny convida uma garota para ir até sua casa e a assassina, gravando o crime com sua câmera de vídeo.


Numa primeira analise, fica claro que o comportamento agressivo do rapaz é diretamente influenciado pela da violência na mídia, ou simplesmente e pela negligência dos pais. Porém, o problema parece ir muito mais além da cortina. O que o filme busca é mergulhar a fundo na mente de Benny. Por isso, a câmera o foca, o analisa e fazendo com que enxerguemos a sua perspectiva do mundo através do seu olhar.
Mais do que as cenas fortes, o que realmente espanta é na exploração desse mundo complexo e frio: na relação familiar, na posição de Benny após o assassinato, na reação dos pais quando descobrem o que aconteceu, na atitude do garoto nos momentos finais da trama. A frieza é o ponto visceral, brilhantemente explorado pelo diretor, e o que faz desta uma produção forte e envolvente como poucas conseguem ser.

 

Em 71 Fragmentos de uma Cronologia do Acaso (1994)



Sinopse: O título resume a colcha de retalhos que Haneke tece para retratar o dia-a-dia de cidadãos austríacos, antes de um massacre. Os fragmentos expostos pelo cineasta mostram o cotidiano dos personagens, juntamente com seus problemas.


O desfecho do filme é antecipado logo no começo. Um letreiro informa que na véspera de Natal um jovem de 19 anos matará três pessoas em um banco de Viena e depois cometerá o suicídio. A partir daí, o que se segue são imagens desconexas da vida cotidiana de várias pessoas. Rapidamente, entende-se que o destino daqueles indivíduos se encontrará com a tragédia final. A questão que nos envolve e prende ao filme, o terceiro de Michael Haneke, é: como isso vai acontecer?
A partir daí, já sabemos o que esperar. Temos uma contagem progressiva de dias até chegar a data fatídica. Na introdução de cada dia, é mostrada uma reportagem televisiva sobre temas diversos como a guerra na Bósnia, os conflitos na Faixa de Gaza, terrorismo, massacre na Turquia, Sarajevo e até a acusação de pedofilia sofrida por Michael Jackson. Dentre os fragmentos, vemos uma menina prestes a ser adotada por um casal, um idoso solitário em sua casa, um casal amargurado que não consegue mais dialogar, um menino refugiado romeno que vaga pelas ruas e vive às custas de pequenos furtos, jovens universitários lidando com quebra-cabeças e computadores.  Mesmo já sabendo o que vai acontecer, o final é abrupto e inesperado. A direção de Haneke é inconfundível, a câmera fixa, o olhar insistente, quadros parados, alguns movimentos repetitivos, a presença constante da televisão, poucos diálogos, silêncios tensos e angustiantes. Não é o meu filme preferido do diretor, mas, sem dúvida, é Haneke.
  
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