Desde que Esquadrão
Suicida estreou nos cinemas o filme tem dividido bastante o público e a
crítica, alguns alegando que faltam cenas do Coringa (Jared Leto), outros
dizendo que a montagem é confusa por falta de cenas mais explicativas e fazendo
com que algumas não faça sentido. É mais
do que lógico que os produtores, em última hora cortaram inúmeras cenas para
deixar o filme ágil, ou simplesmente quiseram deixar o filme menos sombrio para
atrair mais a massa. O problema é que eu acho que os produtores da Warner não
se deram conta que cinéfilo de hoje tem um olhar mais apurado, principalmente
aqueles que são fãs de HQ e que desejam que suas histórias e personagens
preferidos sejam levados para a tela de uma forma decente.
Como a Warner/DC está
correndo contra o relógio para criar um universo próprio no cinema, assim como
a sua rival Disney/Marvel, se percebe que nessa situação, o ditado que diz, “a
pressa é inimiga da perfeição”, é mais do que verdadeira. Mesmo que o filme
esteja arrecadando bem nas bilheterias, o estúdio terá que se curvar aos fãs e
terão que lançar uma edição definitiva (que alguns dizem seria 2h45min) e
deixar o filme mais perfeito possível numa edição futura em Blu-Ray. Assim como
deu muito certo uma versão estendida para Batman Vs Superman, pode muito bem
dar certo para o Esquadrão.
Mas se vocês acham
que a edição final equivocada de determinados filmes é um problema de hoje
saibam que estão enganados. Filmes clássicos, que hoje são considerados até
mesmo obras primas, já passaram pelo mesmo calvário nas mãos de produtores que
pensavam mais em dinheiro do que a qualidade final da obra. Abaixo, segue
abaixo cinco exemplos de filmes clássicos e que levaram algum tempo para ser
vistos da forma como realmente deveria ter sido.
Era uma
vez no Oeste (1968)
A obra prima de
Sergio Leone é uma verdadeira experiência sensorial, onde longas cenas em que
os protagonistas somente se encaram já conquistam o espectador. Porém, nem
sempre foi assim, pois o estúdio Paramount não gostou do que o cineasta criou e
decidiu que era obrigatório que houvesse cortes. Se você apreciou o filme hoje,
saiba o que não tinha no filme quando foi lançado nos EUA: Henry Fonda atirando
no menino na cena do massacre; a cena da parada na taverna; Gaita (Charles
Bronson) levando uma surra de homens da cidade (nota: essa sim nunca foi vista
por ninguém) e a morte do personagem Cheyenne (Jason Roberts) nos minutos
finais da projeção.
Mutilado, foi assim
que os americanos assistiram ao filme na época, mas que mesmo assim não escapou
de um fracasso injusto. Porém, o filme (sem cortes) fez um grande sucesso França, ficando até mesmo quarenta semanas numa única sala de cinema e provando
que os franceses captarão a proposta final de Sergio Leone. Visto hoje, e sem os
seus corte infelizes, o filme é considerado uma obra prima do faroeste em todos
os sentidos.
O
Exorcista (1973)
O filme passou por
inferno para ser filmado, mas mesmo assim, a montagem final agradou tanto os
produtores quanto o cineasta William Friedkin e o sucesso na época foi
gigantesco. Mas quando o filme foi relançado nos cinemas em 2001, tanto os
produtores como o cineasta concordaram em inserir doze minutos de cenas
adicionais. O resultado é um filme com algumas cenas já existentes, mas um
pouco diferentes, estendidas e cenas inéditas. Talvez a cena mais famosa dessa
nova edição é quando Reegan (Linda Blair) desce as escadas de costas como se
fosse uma aranha.
Porém, a grande
diferença fica por conta dos minutos finais da trama, deixando de lado um tom
mais pessimista e abraçando um lado mais esperançoso após os horrores que os
personagens passaram. Nesse caso, essa edição final me agradou, assim como
produtores e cineasta que concordaram em ambas as partes com o corte final e
definitivo da obra.
Apocalypse
Now (1979)
Os problemas de
filmagens que Francis Ford Coppola passou durante a criação desse filme foram
tão grandes que ele mesmo por pouco não cometeu suicídio. Fora isso, foram
prazos de filmagens estourados, furacão destruindo cenários, Martin Sheen tendo
um ataque cardíaco, Dennis Hopper chapado, Marlon Brando nem aí com o projeto e
a mídia se alimentando disso. Mas a recompensa tarda, mas não falha. O filme estreou
se tornado grande sucesso de público e crítica e abocanhando inúmeros prêmios.
Contudo, foram tantos
meses que o cineasta e técnicos ficaram filmando em Manila, que há quem diga
que o corte final do cineasta queria era de duzentos e oitenta e nove minutos.
Porém, quando o filme foi lançado ficou num total de cento e cinquenta e três minutos,
sendo essa uma opção dos produtores. Mais eis que em 2002 o cineasta lançou uma
versão no cinema (posteriormente em DVD), contendo 202 minutos de projeção e se
intitulando edição Redux.
Esse novo corte do
diretor, contem mais cenas de ação, passagens da trama inéditas (como o
encontro dos soldados com as coelhinhas da Playboy após o show) e mais cenas
com a participação de Marlon Brando. Mesmo longo, essa nova edição possui um ritmo
bem melhor, provando que nem sempre filmes longos é sinal de aborrecimento, mas
sim algo muito melhor apresentado.
Blade
Runner (1982)
Diferente da edição
definitiva que conhecemos hoje, o filme havia sido lançado em 1982 com uma narração
off do protagonista, alguns erros de continuidade nítidos e um final esperançoso
e que não tinha nada a ver com o que havia sido apresentado anteriormente. Fora
isso o filme havia estreado justamente no mês de ET e o público da época
preferia mais em ver um filme cheio de luz e esperança do que um filme pessimista
com relação ao futuro da humanidade. O resultado foi um fracasso, mas que logo
foi ganhando admiradores através das cinematecas, lançamento em vídeo cassete e
se tornado rapidamente em um filme Cult.
Porém, no início da década
de noventa, a Warner lançou uma espécie de versão do diretor Ridley Scott, onde
não há a narração off e tão pouco o final feliz. Essa versão é a que sustentou
a possibilidade de que Rick Deckard (Harrison Ford) seria na realidade um
replicante. Na edição definitiva lançada em comemoração aos vinte e cinco anos
de lançamento, o filme ganhou um novo brilho em sua fotografia, erros de continuidade
foram limados, algumas pequenas cenas inseridas, nada de narração off e mantendo
o final pessimista que todo mundo queria.
Era uma
Vez na América (1984)
Infelizmente Sergio Leone não
pode apreciar a sua versão como ele queria desse filme para o cinema, já que os
produtores se assustaram tanto com a longa duração (3h50min) que exigiram que o
filme passasse por inúmeros cortes para aí sim ser exibido no cinema. Com duas
horas e nove minutos o filme foi lançado, mas se tornando um fracasso de público
e crítica. Posteriormente o filme seria exibido numa versão para a TV contendo
cento e noventa e dois minutos.
Mas a edição final que o cineasta
realmente queria, somente seria lançada em vídeo, com duzentos e vinte e nove
minutos de duração, deixando a trama muito mais clara e valorizando uma das
melhores trilhas sonoras criadas por Ennio Morricone. Infelizmente Sergio
viria morrer em 1989 e não pode testemunhar o fato do filme ter se tornado
gradualmente uma das maiores obras primas da década de oitenta e da história do
cinema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário