quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Cine Dica: Em Cartaz: Creed - Nascido para Lutar



Sinopse: O veterano Rocky Balboa (Sylvester Stallone) pode não estar mais nos ringues em disputas de boxe, mas continua com o vigor de sempre, agora como treinador. Sob sua batuta está o jovem Adonis Creed (Michael B. Jordan), neto do lutador Apollo Creed, que enfrentou Balboa várias vezes no ringue.

O filme Rocky Balboa (2006) era visto como piada, ao colocar Sylvester Stallone novamente no papel que o consagrou há décadas. Porém, o filme focava sobre o homem fora do seu tempo, sua luta contra o envelhecimento, a busca por um lugar no mundo e por fim abraçar a sua redenção. O sexto filme não veio por apenas trazer um ícone de volta às telas, mas provar que ele ainda não era obsoleto perante o mundo em que vivia e encerrar a franquia com total dignidade. É ai que chegamos então a Creed - Nascido para Lutar, um projeto ainda mais arriscado, pois é uma espécie de spin-off da franquia, o que poderia enfraquecê-la, mas, para a surpresa de todos, aqui as coisas deram certo novamente.
O jovem cineasta Ryan Coogler sabe do vespeiro em que está se metendo, pois a todo o momento do filme, podemos sentir as velhas formulas do que já deram certo na franquia serem usadas aqui novamente, porém renovadas e atualizadas para um novo público, mas jamais se esquecendo daqueles que cresceram assistindo aos filmes no cinema e na TV. De forma engenhosa, o filme resgata a imagem de Apollo Creed (Carl Weathers) na pele do seu filho Adonis Creed (Michael B. Jordan) que ele havia tido fora do seu casamento e meses antes da sua morte em Rocky IV. Adotado pela viúva de Apollo (Phylicia Rashad), Creed cresce e se dá bem na vida, mas deseja seguir os passos do seu pai e é aí que procura Rocky (Stallone) para treiná-lo e se tornar um boxeador profissional.
Embora com toda essa interligação aos filmes anteriores, a trama começa de uma forma fresca, focando esse garoto perdido na vida, mas que ganha uma oportunidade para seguir uma linha reta na vida. Mesmo antes do universo de Rocky entrar em cena, somos facilmente convencidos a seguir o protagonista e ver até onde ele chega. Muito disso se deve ao bom desempenho de Michael B. Jordan que, mesmo ainda tendo atuado em poucos filmes, demonstra total maturidade para um papel principal.
Tendo já o seu protagonista estabelecido na trama, o cineasta Ryan Coogler também nos conquista na sua forma de filmar já na primeira hora que, mesmo trazendo as velhas formulas de sucesso da franquia, injeta algo de novo em sua forma de como apresentar as cenas. Reparem em uma das primeiras lutas, em que não há cortes, mas sim um plano sequência engenhoso, como se o cineasta estivesse dentro do ringue e se tornando uma terceira pessoa em meio a dois lutadores se digladiando. Ele somente peca quando se envereda para a câmera lenta, algo já meio saturado nesses tipos de filmes.
Outra coisa que me incomodou um pouco foi na insistência de inventarem um par para o protagonista, já que a relação dele com a personagem Bianca (Tessa Thompson) soam como dispensável, sendo que, nem mesmo suas motivações, e tendo um problema de saúde auditivo, nos conquista no decorrer do filme. Mas no momento em que Creed entra num conhecido restaurante é quando o filme se adentra ao universo de Rocky e graças a isso esquecemos um pouco desse deslize. É incrível como num diálogo de poucos minutos entre o velho e o novo protagonista eles fazem um perfeito resumo sobre os principais eventos dos filmes anteriores e fazendo com que até mesmo o marinheiro de primeira viagem não se perca no caminho. 
Coogler também foi sábio na maneira de apresentar Rocky em sua primeira cena, pois a trama se passa dez anos da última vez que o vimos e, surgindo aqui, cada vez mais enterrado ao seu tempo e das suas glórias do passado. Embora relutante num primeiro momento, o personagem aceita em treinar Creed, principalmente numa forma de agradecer o velho falecido amigo por tê-lo ajudado a voltar a lutar em Rocky III. Sylvester Stallone se vê a vontade como coadjuvante, mas basta surgir em cena para que ele coloque o filme todo no seu bolso, pois estamos falando de um ator que conhece o personagem há quatro décadas e aqui nos é apresentado para uma nova faceta do personagem.
Se no filme anterior ele lutava por uma última chance de provar o seu valor, aqui ele luta contra a sensação de que, não tem mais nada para se fazer em vida, a não ser esperar a sua própria morte. Treinar então Creed seria uma forma de dar um sopro de vida numa alma jaz cansada e para assim se criar um novo objetivo para se seguir em frente. Sem sombra de dúvida Stallone coloca pra fora esses temores da velhice, da solidão e impotência e faz do seu Rocky uma imagem pálida do que já foi um dia, mas que merece ser seguida e respeitada.
Assim como em Rocky V, vemos o velho lutador como professor, ensinando tudo o que aprendeu para o seu novo pupilo, como se tivesse passando o seu bastão antes que seja tarde demais. No decorrer desses treinamentos, ambos se criam um elo de amor e amizade, fazendo nascer então um clima paternal, do qual ambos necessitam, pois eles se encontram sozinhos no mundo. Embora se enverede para um lado mais dramático, a trama jamais exagera para que o cinéfilo encha os seus olhos de lágrimas, mas sim que ele se emocione de uma forma verdadeira.
O ato final é aquele do qual todos nós conhecemos, o que seria algo até então desastroso, já que o resultado é basicamente o mesmo, até mesmo se comparado ao primeiro filme da franquia. Porém isso é o de menos, já que o maior mérito do roteiro é de criar um elo dessas duas gerações, da qual uma se apoia na outra e fazer com que a raiva ou peso da culpa que existe em seus corações durante anos logo desapareça. Sendo assim, até mesmo perdoamos quando soa uma repetitiva velha trilha sonora em nossos ouvidos novamente, pois até aquele momento já estamos mais do que conquistados pelos personagens.
Com um final do qual vemos a velha escadaria do museu da Filadélfia novamente, do qual Rocky subia e vibrava em seus tempos de glória. Creed - Nascido para Lutar, não é meramente um recomeço de uma franquia, como também um filme sobre a relação entre pais e filhos e feito com muito carinho para ser visto pelas novas e velhas gerações. 





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