Virou noticia recentemente, o descontentamento do cineasta
Fernando Meirelles com relação ao desempenho de sua produção Xingu,
principalmente no RS. Semana atrás, foi publicada uma matéria sobre o que ele
tem a dizer, confiram:
“ Além de algumas salas em São Paulo e no Rio,
Xingu está indo bem no Amazonas e no Pará, também vai bem no Espírito Santo,
sabe-se lá por que. No Rio Grande do Sul, porém, o filme fez uma carreira desastrosa
um pouco melhor no Iguatemi, mas mesmo assim muito fraco. RS foi o
estado que menos se interessou pela história dos Irmãos Villas Boas, seguido
por Santa Catarina e Minas Gerais. Isso na verdade não surpreende. Sabemos que
quem nasce no Rio Grande do Sul nunca diz que é brasileiro, diz antes que é
Gaúcho, vindo de um estado que faz divisa com o Brasil ao norte.Alguns
filmes que fazem sucesso por aí nem são percebidos no resto do país e o oposto
também é verdade. O fato de vocês serem bastante independentes do país em
termos culturais é algo positivo, mas nós, os produtores de cinema, deveríamos
ficar mais atentos a isso e, ao lançar nossos filmes, preparar sempre uma
campanha de lançamento para o Brasil e uma especial para o Rio Grande do Sul.
Sem piada. Tenho certeza que funcionaria melhor se fosse feito assim, diz
Fernando Meirelles.”
Bom, até eu posso entender a
decepção dele, pois afinal de contas, ele foi um produtor que investiu dinheiro
de seu bolso em uma superprodução, e que queria a cima de tudo, passar uma
mensagem sobre a preservação indígena. Mas eu sinceramente não gostei nenhum
pouco dessa declaração, sendo meio que preconceituosa, dizendo que nos não
aceitaríamos bem uma historia lá do outro lado do país? Isso não tem nada haver!
Se fosse esse o caso, todo o
filme, cuja historia se passa numa favela do Rio, ou do cotidiano da cidade de
São Paulo, seria um fracasso por aqui, o que não é o que acontece, pois esse
tipo de filme tem o seu publico, desde que os filmes estejam sendo distribuídos
nos lugares certos. Quando eu fui assistir Xingu, tive a leve sensação de estar
vendo um peixe fora d’água, pois eu assisti num cinema “Cinemack”, que é mais
voltado para o publico em geral, principalmente o publico jovem, interessado
mais no cinema de entretenimento. Se no principio, o filme tivesse sido exibido
em cinemas, onde é voltado mais para um publico que se interessa realmente em
assistir um filme, para se fazer uma reflexão, garanto que o desempenho da
produção seria bem diferente.
Neste ultimo mês, Xingu segue
sendo exibido na Casa de Cultura Mario Quintana, obtendo ótimos elogios e até
mesmo lotando algumas sessões, com direito as pessoas se levantarem e
aplaudirem. Ai que está os cinemas de Porto Alegre é bem diversificado, tendo
tanto salas para o publico em geral, que deseja ir ao cinema com intuito de
somente se divertir, como há cinemas para as pessoas que buscam reflexão e com
o desejo de sair do cinema com o filme ainda cabeça. Salas como, as duas da
Casa de Cultura, Cinebancários, P.F Gastal e Cine Santander, são salas que de uns
anos para cá, ganharam prestigio, por apresentar uma programação alternativa e
que atrai um publico que anda cansado do cinema convencional. Atualmente, Luz
das Trevas (continuação do clássico O Bandido da Luz Vermelha), faz grande
sucesso de publico em uma dessas salas, embora tenha tido pouca divulgação com
relação há esse filme.
E é ai que chegamos num ponto,
que merece ser discutido. O que também desfavoreceu o desempenho de Xingu nas
salas de cinema, foi à má divulgação da produção, pois até aonde eu me lembro,
eu só lia sobre o filme em sites, ou então nos jornais. Outros meio de
comunicação como radio ou TV, não vi nem sombra, o que isso representa um
verdadeiro mal que assola, quando o assunto é divulgação de filmes,
principalmente os brasileiros. O que eu acho que deveria ser feito, é ter mais
propaganda, ou até mesmo programas específicos para anunciarem os filmes, não
importa se eles forem bons ou ruins, ou se estão ou não bem na bilheteria.
Ficava pasmado, quando o Jornal Nacional, ficava anunciando a todo o momento o
desempenho de Tropa de Elite 2, mas só porque estava adquirindo um enorme
sucesso. Parecia até que era o único filme brasileiro naquele momento, o que em
parte, é injusto com relação a outros filmes.
Além da má divulgação dos filmes nacionais,
voltamos à má distribuição dos filmes nas salas, que se por um lado, o filme é
distribuído numa sala errada (para um publico errado), tem ainda que se
contentar com duas miseras duas salas na cidade. Nunca me esqueço da minha
decepção com relação ao filme Heleno, que foi exibido somente em duas salas da
capital e muito distante da onde eu estava. Infelizmente as distribuidoras têm
uma política um tanto que exagerada, em dar mais destaque ao filme do momento,
dando então um numero gigantesco de salas de cinema somente para aquele filme X,
como no caso recentemente de Vingadores, que praticamente abocanhou todas as
salas do país, enquanto outros filmes ficaram na geladeira na espera, ou até
mesmo, tendo fatídico destino de irem direto ao DVD.
SOMOS UMA BOA VIZINHA?
Neste intenso debate, levantou-se
a hipótese também, que somos bons vizinhos com a Argentina, por exemplo, em que
seus filmes fazem um bom sucesso por aqui, muito mais que uma produção nacional.
Exemplos como Os Segredos dos Seus Olhos e Um conto Chinês, foram os mais
citados, por terem se tornado filmes de grande sucesso de bilheteria e por
terem ficado inúmeras semanas em nossas salas da capital. Mas não é pelo fato
de produções de nossos Hermanos fazerem
sucesso por aqui, que somos então uma boa vizinhança, não é bem assim. Se um
filme fica várias semanas em cartaz, é porque realmente tem qualidade ali no
meio, não importando a sua nacionalidade. O caso que vivemos em um período, em
que o cinema Argentino, está vivendo uma ótima fase, em que muitos consideram
como a “nova onda” do cinema Argentino. E quando essas produções chegam para
cá, os gaúchos então percebem rapidamente a qualidade da produção, que logo vai
recebendo um numero cada vez maior de cinéfilos nas salas, e com isso, tão cedo
o filme não sai de cartaz, fazendo mais sucesso aqui, do que em outros estados
em que o filme é exibido. Será que nos temos um olho mais apurado? Deixemos
esse ponto para outra ocasião!
Mas o cinema argentino não vive
somente com esse prestigio por aqui, sendo
que outros títulos de outros países, acabam sendo adotados pelos
cinéfilos a tal ponto, que chegam a quase ficar um ano em cartaz, como foi no
caso do filme francês Copia Fiel, que na minha opinião, foi para mim um dos
melhores filmes do ano passado e ficou durante vários meses em cartaz, em uma
das salas da Casa de Cultura.
Mas se é assim, faltam bons
títulos brasileiros para serem exibidos por aqui e ficarem por muito tempo em
cartaz? Sinceramente, o cinema brasileiro não anda tendo uma grande fatia de
bons títulos para realmente valerem à pena serem vistos na tela grande. O
grande problema, quando se pensa em cinema brasileiro atualmente, é que eles
estão sendo voltados muito mais em comedias, ou até mesmo super produções como
2 Coelhos, mas então para por ai. O cinema em si possui inúmeros gêneros a
serem explorados, e esta mais do que na hora, do Globo Filmes e outros estúdios
do nosso país, acordar para o fato, que o Brasil não pode ficar preso a tão
poucos gêneros. Recentemente assisti alguns filmes de terror brasileiros no
Fantaspoa, daí eu me fico me perguntando, porque não vemos mais gêneros como esse feitos aqui, ou até mesmo ficção
cientifica, não custa arriscar.
Mas enfim, é um assunto que leva
a inúmeros pontos e que com certeza continuará gerando bastantes debates,
principalmente no próximo curso do CENA UM, que será focado sobre o cinema
brasileiro, de ontem e hoje. Portanto aguardem, pois no próximo mês, o meu blog
de cinema será muito mais verde e amarelo.
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