Nos dias 26 e 27 de Maio, participarei
do curso Como Se Ver Um Filme 2 – Gêneros, criado pelo CENA
UM e ministrado pela critica de cinema Ana Maria Bahiana.
E enquanto os dois dias não vêm, por aqui falarei sobre qual é o melhor (em
minha opinião) filme de cada gênero.
MELHOR FICÇÃO
CIENTIFICA:
BLADE RUNNER
Sinopse: Em um futuro
em que a humanidade inicia a colonização espacial, para o que cria seres
geneticamente alterados - replicastes - utilizados em tarefas pesadas,
perigosas ou degradantes nas novas colônias. Fabricados pela Tyrell Corporation
como sendo "mais humanos que os humanos", os modelos Nexus-6 são
fisicamente idênticos aos humanos, mas são mais fortes e ágeis. Devido a
problemas de instabilidade emocional e reduzida empatia, os replicantes são
sujeitos a um desenvolvimento agressivo, pelo que o seu período de vida é
limitado a quatro anos.
Após um motim, a
presença dos replicantes na Terra é proibida, sendo criada uma força policial
especial - blade runners — para os caçar e "aposentar" (matar).
O filme relata como
um ex-blade runner - Deckard - é levado a voltar à ativa para caçar um grupo de
replicantes que se rebelou e veio para a Terra à procura do seu criador, para
tentar aumentar o seu período de vida e escapar da morte que se aproxima.
As palavras finais do
personagem Roy Betty, interpretado espetacularmente por Rutger Hauer no clímax
dessa grande obra prima, ecoam na mente do espectador, que até hoje jamais se
esquece, uma vez que vê essa grande obra prima idealizada em 1982. Mas para
alcançar os estatus de Cult e até mesmo de obra prima, Blade Runner enfrentou um trajeto
árduo e difícil para chegar aonde chegou. Sendo inicialmente mal recebido nas salas de
cinema, logo não tardou e se tornou claro, que a partir do filme, é possível
obter múltiplas leituras filosóficas ou religiosas sobre temas recorrentes: Quem
somos? De onde viemos? Para onde vamos? O que nos torna humanos? Esta atração,
bem como o impacto visual de uma atmosfera cyberpunk, tipo filme noir,
associada à música de Vangelis, fizeram de Blade Runner um filme cult, tendo
sido um dos primeiros a serem editados em DVD.
Em julho de 2000,
Ridley Scott declarou em entrevista à televisão britânica, que o personagem
Deckard também era um replicante. O filme teve problemas com os produtores, que
teriam alterado a edição final e obrigado Harrison Ford a fazer uma narração
off de última hora para melhor explicar o enredo, considerado muito complicado
para o público geral. Anos depois, o diretor Scott relançaria o filme com a sua
versão, a chamada "versão do diretor". E isso é só uma parte da
lenda e da grande trajetória que o filme percorreu. Na verdade, Blade Runner
foi um dos filmes da historia do cinema que mais foi mal compreendido na sua
estréia, mas existem muitos motivos para ter acontecido isso.
Para começo de
historia, o filme estava muito a frente do seu tempo. Naquela época (1982), as
pessoas estavam mais interessadas em ir ao cinema para ver filmes alegres e que
dessem esperança. Após a década decadente dos anos 70, as pessoas buscaram sua
utopia, indo de encontro com um mundo melhor no qual os filmes apresentavam e
Blade Runner ia de encontro a isso pelo lado inverso. Para complicar, Blade Runner estreou justamente em um ano que
as pessoas estavam em volta apenas com um personagem, ET, o filme que se tornou
“o filme” de 1982 e um dos melhores filmes daquele ano, fez com as pessoas se
esquecem de outros filmes que estrearam e Blade Runner foi um das vitimas.
Mas eis que outros
meios de entretenimento fizeram que o filme fosse redescoberto pelo publico. As
Cinematecas e o vídeo cassete, que naquela época estava começando a engatinhar.
Blade Runner se tornou um dos primeiros e mais bem vendidos e locados filmes
neste formato. Só para se ter uma idéia, as pessoas viam e reviam, usavam o
controle remoto para ver e rever diversas cenas da película, congelava a cena,
tentando imitar a famosa cena de Deckard, analisando a foto no computador. Com
a entrada da TV a cabo nos lares e o vídeo cassete se tornando mais e mais
popular, Blade Runner ganhou o publico que havia perdido na época da estréia e
ganhou o status de CULT, se tornando o melhor representante desse gênero, mas a
historia não acabou por ai.
Em 1991, Ridley Scott,
nunca conformado com a primeira versão exibida no cinema, decidiu relançar o
filme novamente, com algumas cenas a mais. A narração off do protagonista é
eliminada e um final diferente do que é mostrado em 1982. Nesta nova versão, o
filme termina com Deckard encontrando o origami de Gaff no chão, fazendo
ligação com uma nova cena do filme de Deckard sonhando (ou imaginando) um
unicórnio. O filme termina com os protagonistas no elevador, em vez de terminar
com eles fugindo dentro do carro para o horizonte fazendo que a trama
terminasse em aberto e deixando inúmeras perguntas no ar: Seria Deckard um
replicante também?
Essa pergunta acabou
se tornando um dos maiores enigmas que o cinema criou nos últimos anos. Talvez
desde que Orson Wells lançou da sua boca a palavra ROSEBUD no seu clássico
Cidadão Kane. Talvez essa era a intenção de Ridley Scott desde o principio, em
fazer as pessoas saírem com essa pergunta, que não quer calar nas suas cabeças,
sendo essa intenção que foi negada na época da estréia, já que os produtores
ficavam preocupados com a resposta do publico e queria que a trama fosse toda
mastigada para o melhor entendimento.
A meu ver, um filme
não precisa ser explicando e sim sentido. Talvez, as vezes os filmes nem precisam
fazer sentido pois a própria vida não faz, portanto para mim, Blade Runner
ganha em muito com relação aos outros filmes, pois deixa essas perguntas no ar,
e por causa disso o filme é discutido e debatido até hoje e isso já é um grande
feito.
E talvez, Blade
Runner seja um dos filmes que mais soube sintetizar o que iria acontecer com
nós e o mundo nos anos que vieram e que estamos vivendo. Tudo que foi mostrado
no filme, muitas coisas estão acontecendo agora, como cidades com um auto
numero de pessoas, poluição, chuva acida, clonagem, a frieza do homem perante a
vida, isso tudo já está acontecendo. Inúmeras pessoas que eu conheço e que
passeiam nas grandes cidades com um numero cada vez maior de pessoas amontoadas
nas ruas, mal conseguindo andar, imediatamente elas dizem: Isso é Blade Runner!
Ou seja, mesmo que o
filme retrate 2019, talvez já estejamos vivendo nele e que estejamos em uma situação bem pior. Blade
Runner serviu de alerta para dizer, “cuidado”, pois veja aonde agente pode
chegar, se agente não se cuidar. Infelizmente não correspondemos bem o recado.
Alguns anos atrás, Ridley
Scott relançou novamente Blade Runner em Veneza, intitulado “versão definitiva”,
com nova imagem mais definida, minutos a mais e fortalecendo mais ainda a
pergunta: Seria Dechard um replicante? Talvez essa pergunta jamais sejas
respondida, o que conta realmente é a pergunta, não a resposta. Se houvesse
ela, talvez a pergunta finalmente perderia o significado.
Após o relançamento
nos cinemas, o filme foi lançado em DVD, se tornando um dos melhores
lançamentos dos últimos anos. Caixa continha nada menos que três discos. O
primeiro contendo a nova versão definitiva remasterizada, no segundo discos
todas as versões anteriores, a de 82, versão internacional (mais violenta), e a
versão do diretor de 1991. Mas é no terceiro disco a maior festa. Com mais de
três horas de duração, um documentário com todos os envolvidos, contando desde
a pre-produção, até o status que o filme adquiriu, participações para lá de
especiais de diretores de sucesso atualmente, como Guilherme Del toro, fazendo
o DVD um dos melhores lançamentos dos últimos anos.
Dechard era um
replicante?
Espero que essa
pergunta soe e soe por muitos anos, seja na roda de amigos, seja em fóruns da
internet, para fazer com que o filme sempre esteja entre os 100 melhores filmes
de todos os tempos.
Muito bom teu texto. Uma excelente oportunidade para aprender. Um abraço...
ResponderExcluirÓtimo texto, Marcelo. BLADE RUNNER realmente é um grande filme. O curioso é que o elenco é muito ruim (e estão todos bem neste filme).
ResponderExcluirO Falcão Maltês
HAHAHAHAHHA, que ironia né Antonio.
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