Sinopse: Um grupo de super vilões e anti-heróis entram em missões para o governo. Baseado na série de quadrinhos de mesmo nome.
Eu sempre gosto de comparar o gênero de Super Heróis para o cinema com o gênero de faroeste, já que ambos foram levados para as telas ao máximo, mas chegando ao seu esgotamento. A Marvel, por exemplo, viu a sua fórmula de sucesso não atrair mais o grande público e testemunhar os seus últimos projetos desagradando aqueles que esperavam algo novo. "Thunderbolts" (2025) talvez seja uma prova que a Casa das Ideias tenha ouvido as críticas, já que o filme vai pôr um outro caminho até então inédito, identificável e mais humano.
Dirigido por Jake Schreier, o filme conta a história de Yelena Belova, Bucky Barnes, Guardião Vermelho, Fantasma, Treinadora e John Walker, figuras nada heróicas e que são somente recrutadas para missão obscuras comandadas da CIA Valentina Allegra de Fontaine. Porém, ela decide eliminá-los para apagar provas de sua corrupção dentro do governo dos EUA. O que ela não esperava é a união dessas figuras nada heróicas e fazendo com que ela ative o projeto Sentinela.
Desde "Vingadores - Ultimato" (2019) a Marvel não sabia ao certo para que caminho trilhar, pois o filme havia atingido o teto. O problema foi justamente investir ainda em fórmulas desgastadas, sendo que o mundo havia mudado durante a Pandemia e se o mundo real muda é questão de tempo para que os filmes caminhem com os ventos da mudança do mundo real. Dito isso, temos aqui personagens que precisam lidar não somente com um possível vilão, como também com relação a eles mesmos.
Yelena Belova, por exemplo, ainda sofre com a perda da irmã Viúva Negra, além de se sentir cada vez mais no piloto automático em missões sujas e que cada vez lhe deixam mais deprimida. Florence Pugh nos brinda com uma ótima interpretação, já que ela consegue passar para a sua personagem toda a dor que ela está passando e fazendo assim com que o público se identifique com ela, pois o que ela passa todos nós já passamos um dia e cabe ela enfrentar o seu próprio vazio interior. Falando em vazio, o filme vai ainda mais a fundo, não somente com os demais personagens em cena, como também através da figura de Bob, interpretado por Lewis Pullman e se tornando peça primordial da trama.
O charme do filme como um todo está entre a interação dos protagonistas, já que eles são distintos um do outro, mas possuindo dilemas similares com relação aos erros do passado. Embora a maioria já tenha aparecido nos outros filmes e séries do estúdio, é curioso observar como o roteiro foi bem escrito para compreendermos quem é quem e fazendo com que o marinheiro de primeira viagem não tenha a preocupação de assistir as demais produções do passado. O filme, portanto, se distância de um mero produto e tendo sido criado com uma preocupação maior de ser mais cinema, mesmo quando o próprio estúdio ainda hoje dá a sua palavra final.
Outro fator negativo visto nas produções anteriores foi o acúmulo de CGI em diversas cenas, sendo que elas pareciam terem sido criadas às pressas e fazendo que elas somente poluíssem as tramas. Aqui não é o caso, já que há muito mais efeitos práticos, cenas de ação mais verossímeis e fazendo com que a gente sinta o peso e o impacto delas. A cena da perseguição na estrada, por exemplo, é digna de nota, sendo que ela soa mais realística e menos plástica.
É claro que o estúdio ainda possui o seu vício pelas velhas fórmulas das quais não consegue se desvencilhar, como no caso do humor inserido em momentos até mesmo dramáticos e nos passando a sensação de que foi colocado em última hora para dizer o mínimo. Felizmente nesta questão tudo cai nas costas do personagem Guardião Vermelho, mas sendo um alívio cômico proposital, já que ele se torna uma espécie de âncora para que a sua filha Yelena e os demais integrantes não caíam perante o desânimo da missão, por vezes, quase impossível. David Harbour possui uma simpatia em abundância e fazendo com que isso torne o seu personagem ainda mais rico em cena.
Essa autoestima, por sua vez, será a arma principal para que os integrantes enfrentem justamente o vazio, não somente com relação aos seus medos interiores, como também da ameaça final que surge de uma maneira inesperada. Eles precisam sim enfrentar um super ser, mas ele é a representação da insegurança, medo e ansiedade que todos os personagens em cena enfrentam e cabe a união de todos para que consigam eliminá-lo. Se por um lado a solução final possa soar um tanto previsível, ao menos até lá os realizadores nos brindam com um verdadeiro show de efeitos práticos e alinhado com um ótimo desempenho do elenco.
Curiosamente, é interessante observar que a desavença dos personagens contra a famigerada Valentina é solucionada de uma forma tão simples, mas ao mesmo tempo nos proporcionando uma surpresa inesperada e muito bem-vinda. E como não poderia deixar de ser, há uma cena pós-crédito que nos passa uma ideia sobre o futuro do grupo, muito embora ela possa ser facilmente dispensada, já que o filme funciona muito bem sem ela. Já passou da hora da Marvel começar a se preocupar em fazer mais cinema e não somente um mero produto para que o público seja obrigado em obter outras peças desse grande tabuleiro que haviam criado. "Thunderbolts" dá um novo respiro ao gênero de super-heróis da Marvel para as telonas, pois fazia tempo que não nos identificamos com personagens tão humanos e que lidam com problemas similares aos nossos.
Faça parte:
Facebook: www.facebook.com/ccpa1948
Nenhum comentário:
Postar um comentário