Sinopse: Uma garota de 16 anos vivencia sua transição para a vida adulta e descobre o amor e o desejo em um internato em uma cidade nas colinas do Himalaia. Mas sua mãe, que nunca teve a oportunidade de aproveitar a própria juventude, frustra seus planos.
Embora conhecido mundialmente, o cinema Indiano nunca foi bem distribuído para o restante do mundo. Verdade seja dita, somente temos uma visão parcial através de coproduções como "Quem Quer Ser um Milionário?" (2008) e mais recentemente "Tigre Branco" (2021), mas tendo uma visão mais pé no chão com o ótimo e premiado "Tudo que Imaginamos como Luz" (2024), de Payal Kapadia. Já "Sempre Garotas" (2024) é uma curiosa análise sobre gerações distintas uma da outra, mas interligadas pelo sangue e desejos quase nunca alcançáveis.
Dirigido pela estreante Shuchi Talati, o filme conta a história de Mira (Preeti Panigrahi), uma adolescente de 16 anos em processo de descoberta do desejo e da sexualidade. Ganhando status na escola, ela começa ao mesmo tempo a se interessar por um rapaz recém-chegado e fazendo com que ela desperta diversos sentimentos. Porém, ela enfrenta a sua mãe, uma mulher conservadora e que diferente da filha não teve a chance de obter certa liberdade e prazeres do seu passado.
Aqui não há uma visão plástica sobre a Índia, ou da exploração exagerada da extrema pobreza quase sempre vista nas co produções estrangeiras, mas sim um retrato realista da vida comum de uma família de classe média baixa e ao mesmo tempo mostrando a transição da inocência para a fase adulta. Toda a trama é voltada de acordo pela perspectiva da protagonista com relação a realidade em sua volta, da qual procura abraçar com unhas e dentes as suas responsabilidades dentro da escola, mas ao mesmo tempo tendo que enfrentar o nascer do desejo que, por vezes, é bastante reprimido. Preeti Panigrahi dá um show de interpretação, ao saber nos transmitir diversos sentimentos em conflito dentro da sua personagem, mas dos quais temos uma vaga dimensão através do seu olhar que tem mais a dizer do que meras palavras ditas.
A sua relação com o rapaz Siri, interpretado pelo ator Kesav Binoy Kiron, se torna o catalisador para diversas situações em que ela anseia obter, desde em satisfazer os seus desejos, mas ao mesmo tempo tentando obter um certo equilíbrio com os estudos. Uma vez que a sua mãe Anila, interpretada pela atriz Kani Kusruti, começa a ter conhecimento da relação, é então que o filme entra em um novo cenário, onde ela procura colocar certo limite entre os dois, mas não escondendo uma certa curiosidade com relação ao próprio Siri. É interessante observar que a diretora Shuchi Talati jamais deixa de maneira explícita essa última questão, mas de uma maneira subliminar e fazendo com que aumente a nossa curiosidade deste ponto em diante.
Há, portanto, um conflito entre as duas gerações vistas na tela, sendo que a mãe representa uma Índia de tempos mais conservadores, enquanto a filha pertence a um país em que as velhas tradições vão dando espaço ao que antes ficava dentro do armário. Porém, o conservadorismo ainda existe, assim como também o machismo e o abuso contra as mulheres, sendo que qualquer passo em falso visto na tela feito pela protagonista dentro da escola ou fora dela pode gerar uma grande bola de neve. Portanto, o lado hipócrita desta situação transborda em um ato final digno de nota, o que faz com que até mesmo tememos pelo destino da jovem protagonista.
Como se isso não bastasse, a diretora Shuchi Talati nos surpreende ainda mais com ação e reação do trio central nos minutos finais da trama, mas ao mesmo tempo mantendo o lado subliminar que fez com que o longa se tornasse ainda mais rico em sua proposta. É uma trama envolvente que se passa em um microcosmo daquele país, mas cujo tema é universal e que facilmente todos iremos nos identificar. Já está mais do que na hora da Índia mostrar a sua verdadeira face para o mundo e não precisando necessariamente de outros país para ajudá-la nisso.
"Sempre Garotas" é sobre a transição da adolescência para uma fase mais adulta, mas através dos costumes indianos e o tornando ainda muito mais rico para dizer o mínimo.
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