sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Cine Especial: Revisitando 'Gladiador'


Quando eu era criança assistia muitos filmes clássicos do gênero épico capa e espada, onde na maioria delas eram tramas que se passavam na Roma Antiga. Na maioria das vezes eram sessões ao sábado, seja no SBT ou na Globo e sendo que uma das exibições que mais me lembro na época foi do clássico "Quo Vadis?" (1951). Vários anos depois eu retornei a rever essas super produções graças a escola, pois a minha professora de História insistia para ver mais filmes e tive o privilégio de então rever "Cleópatra" (1963) e "A Queda do Império Romano" (1964).

Esse, por sua vez, foi o responsável pelo fim da era de ouro desse gênero em Hollywood, pois a produção de Anthony Mann custou caríssima para época e sendo um fracasso de público mesmo com todas as suas qualidades. Com o decorrer do tempo o filme foi sendo revisitado, assim como os demais títulos como a obra prima "Ben Hur" (1959) e do qual possui uma das melhores cenas de ação de todos os tempos. Durante mais de três décadas Hollywood não se arriscou mais na realização de épicos devido aos seus orçamentos astronômicos, mas tudo mudou quando entrou em cena Ridley Scott.

Não acho ele exatamente um diretor autoral, do qual assistimos determinada cena e podemos dizer que é dele, sendo que ao longo da carreira o realizador nunca ficou preso a um gênero e sempre experimentando novos desafios. Porém, é mais do que notório que um realizador perfeccionista, fazendo com que diversas cenas de seus clássicos possuam tantos detalhes que sempre quando a gente revisita sempre há algo novo a ser descoberto. Essa sensação eu sempre senti quando revejo "Blade Runner" (1982) e o mesmo se pode dizer de seu "Gladiador" (2000), filme que trouxe de volta os épicos romanos ao cinema e cuja sua grandeza é ainda bastante sentida.

A trama é basicamente uma reinterpretação do que foi visto no clássico "A Queda do Império Romano". Marcus Aurelius (Richard Harris) está em seus dias finais como Imperador, mas a sua decisão desperta a ira de seu filho Commodus (Joaquin Phoenix) ao tornar pública o seu desejo em deixar o trono para Maximus (Russell Crowe), o comandante do exército romano. Desejando o poder, Commodus mata seu pai, assume a coroa e ordena a morte de Maximus, além da execução de sua mulher e filho. Porém, ele consegue fugir antes de ser morto e passa a se esconder sob a identidade de um escravo e gladiador do Império Romano.

O filme estreou em maio no Brasil no ano 2000, sendo que foi uma época que, por alguma razão, tinha poucas informações sobre as produções em andamento em Hollywood, mesmo tendo revistas como a SET. Ao saber sobre o filme eu fiquei espantado, pois a sensação que me dava que eu voltei ao passado, quando o cinema norte americano prezava por um filme como esse e, portanto, foi questão de tempo ao testemunhá-lo no cinema. Nunca me esquecerei da sessão no Cine Vitória de Porto Alegre, onde as pessoas saíram caladas e sintetizando a forma como o filme havia tocado elas.

Ridley Scott não poupou esforços em criar um filme grandioso, ao ponto de fazer uma grande batalha campal no início da trama e revelando a sua magnitude através de diversos figurantes em cena. Com uma montagem de cortes bruscos, alinhado com uma bela fotografia e edição de arte, os dez minutos iniciais já nos brindam com um verdadeiro espetáculo e cuja cereja do bolo é a trilha sonora composta pelo mestre Hans Zimmer. Porém, o trunfo já se revela no minuto inicial da trama, sendo ele Maximus e interpretado por Russell Crowe.

Conhecido na época por atuações como "Los Angeles - Cidade Proibida" (1997) e "Informante"(1999), Crowe quase não aceitou o papel por achar nada desafiador e somente aceitando devido à insistência do cineasta. O ator, por sua vez, optou em criar momentos significativos para o personagem e torná-lo mais interessante, como no caso nas ocasiões em que o mesmo pega a terra para passar em suas mãos antes do combate. Hoje é difícil imaginar outro ator para o personagem e tendo ganhado merecidamente o seu primeiro e único Oscar da carreira.

O filme também marcaria a consagração do até então jovem ator Joaquin Phoenix, que na época era mais conhecido por ser o irmão do falecido ator River Phoenix do que em suas atuações em filmes como "Um Sonho Sem Limites" (1995) e "8 Milímetros" (1999). Porém, isso foi mais do que o suficiente para Scott procurá-lo, dando a chance para que o jovem intérprete conseguisse construir um personagem que nos passasse pena, raiva e ao mesmo tempo roubando a cena toda vez que aparecia. Uma das maiores revelações do ano 2000 e fazendo com que a sua carreira tivesse novas conquistas e que futuramente nos brindaria com uma atuação assombrosa em "Coringa" (2019).

Revisto hoje, é interessante como o filme envelheceu bem nas questões de jogos políticos, sendo algo corriqueiro no nosso mundo real e cuja dança das cadeiras já ocorria nos tempos do Império Romano. Commodus é a representação do extremismo, mas que alimenta o povo através dos jogos entre a vida e morte dos gladiadores na arena e fazendo disso tudo uma verdadeira cortina de fumaça para entreter a massa. Uma forma para esconder a sua fraqueza e o seu desprezo perante uma República estabelecida sonhada pelo seu falecido pai.

Tecnicamente o filme pertence a uma época que o CGI ainda era usado para colaborar para o desenvolvimento da trama ao invés de polui-la. A reconstituição do Coliseu ainda hoje impressiona, sendo que a entrada dos gladiadores na arena, com giro da câmera em 360º, me encheu os olhos na época. Não é a toa que o filme viria ganhar um Oscar na categoria de Efeitos Visuais, além do cobiçado prêmio de Melhor Filme.

Após "Gladiador" teríamos o privilégio de outros épicos como a trilogia de "O Senhor dos Anéis (2001 - 2003), sendo que o próprio Ridley Scott se arriscaria novamente em outros grandes projetos como "Cruzada" (2005), mas não obtendo o mesmo grande feito. Embora historiadores contestam o lado mais fictício da trama, Scott nos mostrava como era necessário dosar um alto grau de verossimilhança em uma produção como essa para que nos convencesse que estávamos diante de tempos em que guerreiros lutavam pela sua honra, lealdade e cujo seus feitos eram ecoados pela eternidade.

Com minutos finais emocionantes, cuja trilha era embalada pela voz da cantora Lisa Gerrard, "Gladiador" é um daqueles casos em que os Deuses do cinema sorriam para um determinado projeto e culminando em um verdadeiro espetáculo diante dos nossos olhos. 

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