quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Cine Dica: Em Cartaz - 'Hellboy e o Homem Torto'

Sinopse: Hellboy se une à Bobbie Jo Song, uma novata agente, para uma nova investigação nas Montanhas Apalaches.  

Hellboy, criação máxima do quadrinista e roteirista Mike Mignola, sempre teve a sua ida para o cinema de uma forma que não alcançasse um grande sucesso, mesmo obtendo elogios da crítica e dos fãs de HQ. Os dois primeiros filmes rodados por Guilherme Del Toro, nos anos 2004 e 2008, possuía todos os ingredientes do universo fantástico e sobrenatural visto nas páginas e, ao mesmo tempo, tendo todas as características que moldaram a carreira do diretor. Vários anos depois o estúdio decidiu mudar tudo, escalando novo diretor e ator, o que resultou em um filme de 2019 que foi tão massacrado pela crítica que nem me deu coragem de assistir.

Talvez um dos pontos negativos quando se leva esses personagens para as telas é fazer dos filmes uma super produção de grande orçamento e tentar fazer do personagem algo típico do que já é visto em outras adaptações de HQ. Na realidade a figura em si do personagem, assim como o seu universo, está mais voltado para um estilo de filmes de horror como eram vistos antigamente, ou mais precisamente algo que transite com relação aos estilos do que era feito nos anos setenta, ou até mesmo um estilo peculiar do que era realizado nas mãos de Mario Bava na Itália. Só assim para explicar a existência de "Hellboy e o Homem Torto" (2024), filme de baixo orçamento, mas com estilo positivo mesmo com todas as suas limitações.

Dirigido por Brian Taylor, do filme "Adrenalina" (2006), o filme se passa durante a década de cinquenta, onde vemos Hellboy (Jack Kesy) se unir a Bobbie Jo Song (Adeline Rudolph), uma novata agente da B.P.D.P. para uma nova investigação nas Montanhas Apalaches. Lá, descobrem uma remota e assombrada comunidade dominada por bruxas, liderada pelo sinistro demônio local, conhecido como O Homem Torto, que foi enviado de volta à Terra para coletar almas para o diabo. Ao mesmo tempo, Helliboy acaba tendo que enfrentar o seu próprio passado sombrio.

Com um orçamento de apenas R$ 20 milhões de dólares, se percebe já no início do filme que estamos diante de algo quase experimental, como se os realizadores estivessem fazendo uma produção com poucos recursos a mão. Isso se percebe, por exemplo, na cena em que os protagonistas enfrentam uma aranha gigante, mas descaradamente digital, além de um acidente de trem bastante artificial. A partir daí vemos os personagens adentrando a floresta e dando de cara com um cenário que mais parece que foi extraído da trilogia "Uma Noite Alucinante" de Sam Raimi.

Com uma fotografia propositalmente escura para ocultar alguns defeitos visuais, desde maquiagem, como também algum CGI visto ali e aqui, Brian Taylor procura nos passar a ideia de estar rodando um filme de sua autoria quase o tempo todo. Isso é notado principalmente no primeiro ato onde ele insiste em filmar os personagens de baixo para cima, mas cujo o artifício me incomodou um pouco e não acrescentando em nada para a trama. Porém, o filme cresce conforme o longa avança, principalmente quando se explora com mais carinho aquele universo sinistro e do qual se encontra a misteriosa figura do Homem Torto.

Curiosamente, é um personagem fantasmagórico que já tinha sido visto no segundo filme da franquia "Invocação do Mal" (2016) e se esperava que algum dia adquirisse o seu longa derivado. Não acontecendo isso, os realizadores então o usaram ele aqui como o grande vilão da trama e, sinceramente, o personagem funciona através da proposta principal da obra e até mesmo nos assusta em alguns momentos em que os personagens precisam até mesmo enfrentar os seus passados sombrios. No caso de Hellboy isso é feito de um modo bastante criativo, sem enrolar muito, e fazendo a gente compreender a sua verdadeira origem sem muita pirotecnia, mas sim com bastante genialidade na medida certa.

Jack Kesy se sai muito bem como Hellboy, sendo que a pouca maquiagem usada no ator colaborou no seu desempenho e nos passando a impressão que ele ficou bem à vontade na atuação. o mesmo vale para Adeline Rudolph ao interpretar a personagem parceira, da qual cresce na medida em que a trama avança e principalmente em seu terceiro ato. Com relação aos demais personagens secundários, Jefferson White interpreta uma espécie de caipira feiticeiro bem curioso e o veterano Joseph Marcell interpreta um enigmático padre cego, mas que possui um poder que deixaria até mesmo o Homem Torto assustado.

No saldo geral, o filme diverte, nos assusta em algumas ocasiões e não tendo maiores pretensões. Se tivesse sido lançado anos antes dessa forma eu acho que o longa chamaria ainda mais atenção. Em tempos atuais em que superproduções se encontram cada vez mais previsíveis, além de efeitos elaborados por CGI cada vez mais sem graça, é bom vermos um longa que usa os velhos recursos de como se fazia cinema de verdade e provar que não é preciso fazer uma produção de orçamento explosivo para se contar uma boa história.

"Hellboy e o Homem Torto" é um filme de baixo orçamento, porém criativo, assustador e muito mais próximo da ideia primordial do criador Mike Mignola do se imagina. 

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