segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Cine Dica: Em Cartaz - 'Ainda Somos os Mesmos'

Sinopse: Retrato sobre os sobreviventes que procuraram refúgio na embaixada da Argentina no início do golpe de estado no Chile.  

A música "Nossos Pais", criada por Belchior e eternizada pela voz de Elis Regina, se tornaria um símbolo de resistência perante os tempos em que o Brasil vivia da sombra criada pela Ditadura Militar iniciada em 1964. Porém, essa sombra se estendia por toda America latina, tanto é que o Chile foi um dos países que mais massacrou inocente em tempos de chumbo. "Ainda Somos os Mesmos" (2024) é um pequeno retrato de uma das várias histórias de horror contadas pelos sobreviventes em meio ao horror desumano orquestrado por aqueles que diziam defender a pátria de seu país.

Dirigido por Paulo Nascimento, realizador de "A Oeste do Fim do Mundo" (2012), o filme é baseado em fatos reais no período em que o General Augusto Pinochet assume o comando do país em 1973 e instaura o regime militar enquanto políticos e imigrantes são presos e torturados no Estádio Nacional de Santiago. Em meio a isso o empresário Fernando (Edson Celulari) se encontra desesperado para resgatar o seu filho Gabriel (Lucas Zaffari), que, ao lado de demais pessoas que buscam sobreviver, se refugia na embaixada da Argentina. O tempo passa e risco de todos serem mortos se encontra mais próximo.

Mesmo com certas limitações de produção, Paulo Nascimento consegue obter certo êxito em sua realização, principalmente ao construir um clima claustrofóbico dentro da embaixada. A fotografia, por exemplo, remete tempos mais dourados, mas que se tornam meras ilusões quando boa parte dos personagens se vê diante da possibilidade da morte e cuja a liberdade se torna uma mera palavra ao vento. Infelizmente o filme perde um pouco do seu fôlego ao construir determinados personagens de forma estereotipada, principalmente ao retratar os dois lados do conflito bem ao estilo no preto e no branco, mas tornando tudo um pouco inverossímil em alguns momentos.

Porém, o filme ganha contornos dramáticos através de boas interpretações de alguns, como no caso da atriz Carol Castro, ao dar vida a uma sobrevivente em meio ao conflito, mas se entregando aos poucos para uma loucura nascida em meio aquele inferno. Portanto, a sua personagem se torna uma figura trágica, da qual sintetiza a força de vontade perante os tempos de chumbo, mas cujos os mesmos podem nos levar para um caminho sem rumo. A obra em si fala sobre sacríficos, dos quais recaem para aqueles que se entregam pela vida do próximo, mesmo quando tudo parece perdido.

O filme chega em um momento em que o Brasil e o mundo convivem com a incerteza, onde países Democráticos podem cair a qualquer momento e sendo dominados por um fascismo que nunca morreu mesmo quando foi decretada em tempos longínquos. Ao menos, o passado serve como um ensinamento para que os golpes de ontem não se repitam e que precisamos enfrenta-los a qualquer custo. Durante os créditos de encerramento, o filme nos alerta que a qualquer momento o jogo pode virar e não podemos baixar a guarda haja o que houver.

Com a já citada música "Nossos Pais" sendo tocada ao final do longa, "Ainda Somos os Mesmos" é um pequeno retrato sobre pessoas que buscaram lutar pelas suas vidas e cujo exemplo é preciso ser visto por essas gerações desinformadas.    

Nota: O filme estreia no próximo dia 26 de setembro.  

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