Sobre o Filme:
Alguns acreditam que séries e filmes em animes começaram a fazer sucesso no Brasil a partir do clássico "Os Cavaleiros do Zodíaco" que havia sido lançado por aqui pela primeira vez em primeiro de setembro de 1994. Porém, eu conheço outra linha desta história, sendo que essas produções japonesas já tinham vindo por aqui já um bom tempo, mas não tendo a mesma grande popularidade que a obra de Masami Kurumada havia obtido. Quando eu era criança, por exemplo, eu já tinha testemunhado nos anos oitenta clássicos como a "Princesa e o Cavaleiro", "Favos de Mel", "Zillion", "Pinóquio", "O Pequeno Príncipe" e "Rei Arthur".
Esses últimos três citados, por exemplo, foi um tempo que os estúdios de animes decidiram adaptar contos literários clássicos e obtendo assim grande sucesso. Curiosamente, foram adaptações com um teor mais adulto, dramático e por vezes até mesmo assustador. Cresci morrendo de medo da Bruxa Morgana vista em "Rei Arthur" e me emocionando com os momentos dramáticos vistos em "Pinóquio".
Com conteúdo até mesmo violentos muitos se perguntam porque os animes aparentam ser até mesmo adultos e cujo conteúdo não parece destinado somente para crianças. É preciso salientar que esses animes são muitos deles adaptações dos mangas, que são HQ japonesas e cuja as histórias possuem tanto o gênero fantástico como também histórias do nosso dia a dia. O resultado é um verdadeiro contraste com os desenhos norte americanos que crescemos assistindo, mas há uma explicação mais profunda sobre isso.
Enquanto a sociedade norte americana sempre conviveu com a propaganda de um país livre, democrático e quase sempre politicamente correto, por outro lado, o povo do Japão teve que encarar logo cedo que a realidade é mais nua e crua do que se imagina e principalmente quando o conto de fadas se estilhaça ao longo da história. No período da Segunda Guerra Mundial o Rei do Japão sempre vendida a ideia de que era um Deus e que o país jamais seria abatido pelas forças de fora. Porém, o bombardeio que as aeronaves norte americanas provocaram, cujo ápice foi bombardeamentos atômicos de Hiroshima e Nagasaki, foi o suficiente para os japoneses entenderem que contos de fadas podem até existirem, mas sempre há por trás da cortina o horror que os governantes sempre queriam ocultar.
Portanto, seja baseado em fantasia ou em fatos verídicos, tantos os mangas como animes sempre irão carregar um grau de conteúdo mais adulto, pois a geração posterior da Segunda Guerra Mundial já cresceu ouvindo os horrores daqueles tempos. É então que chego finalmente ao "Tumulo dos Vagalumes" (1988), talvez o longa metragem mais adulto do estúdio Studio Ghibli e realizado pelo cineasta Isao Takahata e que posteriormente seria indicado ao Oscar pelo longa "O Conto da Princesa Kaguya" (2013). O filme é baseado na manga de Akiyuki Nosaka, sendo que o autor criou o conto baseado nos horrores que ele havia testemunhado durante a Grande Guerra.
Com animação digna de nota, os realizadores não nos pouparam de cenas realistas, desde o bombardeamento que as cidades sofrem, como também o sofrimento e as mortes que surgem na tela ao longo do tempo. Deste cenário de horror os irmãos Setsuko e Seita se se tornam um só na esperança de tudo amenizar e logo se reencontrarem com o seu pai que se encontra na Marinha. Porém, eles enfrentam a perda da mãe, fome e o descaso das demais pessoas que se preocupam somente com elas mesmas.
É curioso observar que o Japão é um país que se levanta ao ter sido criado desde cedo com disciplina, união e fazendo com que se levantassem mesmo após os horrores que vivenciaram. Porém, é notório dentro da trama que o egoísmo e a ganancia ainda se encontravam naquele cenário, talvez devido ao sistema que obriga o cidadão comum ter que conviver com regras das quais se exige dotes mesmo que de menor grau. Portanto, os irmãos dentro da trama se viram com que tem e é então que a história se torna implacável perante nós.
É claro que o prólogo já nos dá uma noção do que acontecerá no decorrer da trama, mas ao mesmo tempo Isao Takahata nos dá também algo mais reconfortante, onde a fantasia se entrelaça com a realidade crua nos primeiros minutos de projeção e fazendo a gente embarcar na trama independente do que aconteça. Não me surpreenderia, por exemplo, se o anime tivesse servido de inspiração para a própria Disney criar o curta "A Pequena Vendedora de Fósforos" (2006), do qual eu havia assistido anos atrás em uma edição especial em DVD de "A Pequena Sereia" (1989). Em ambos os casos o efeito é o mesmo, onde a crença nos dá algo que nos reconforte e fazendo com que a morte se torne menos sombria.
Com traços suaves, porém, cheio de detalhes, o filme é até mesmo a frente do seu tempo em termos produção e se igualando com obra prima "Akira" (1988) que havia sido lançado no mesmo ano. Curiosamente, "O Tumulo dos Vagalumes" havia sido lançado simultaneamente com "Meu Amigo Totoro" (1988), de Hayao Miyazaki. Na sequência os dois filmes foram lançados e exibidos juntos, como um programa duplo. Muitas pessoas, no entanto, não assistiam a "O Túmulo dos Vaga-Lumes" por não desejarem sair do cinema tristes depois da alegria proporcionada pelo filme de Miyazaki, que costumava ser projetado primeiro.
O conto, por sua vez, havia sido adaptado novamente em 2005, exclusiva para a televisão, em comemoração ao 60º aniversário do fim da Segunda Guerra e uma em 2008. Porém, nenhuma delas superou, seja em partes técnicas ou emocionais, a produção de 1988 e sendo reconhecida hoje, não somente como um dos melhores longas animes do Japão, como entrando facilmente na lista dos melhores filmes de todos os tempos. No meu caso, fui conhece-lo no livro "1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer" e fazendo com que eu fosse conhecer posteriormente outra obra impactante que foi "Gen Pés Descalços" (1983) e que se passa também durante a Segunda Guerra Mundial.
"O Tumulo dos Vagalumes" é aquele filme que sempre quando você for revisita-lo irá lhe atingir em cheio com a sua história humana e de grande impacto emocional.
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Bom dia. Não participo de muitos grupos pelo zap, mas participo de bastante pelo facebook. Cinéfilos Malditos, por exemplo, é um grupo que participo com frequência por lá.
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