sexta-feira, 28 de junho de 2024

Cine Especial: Clube de Cinema - ‘A Vida dos Outros’

 Nota: Filme exibido para associados no último dia (22/06/24). 

Sinopse: Nos anos 80, o Ministro da Cultura da Alemanha Oriental se interessa por Christa, uma atriz que namora um famoso dramaturgo. Suspeitos de infidelidade ao comunismo, são vigiados por um capitão do serviço secreto, que fica fascinado pelas suas vidas.  


Ao longo do tempo a literatura nos apresentou tramas que exploravam temas sobre governos ditatoriais e dois quais sintetizavam sobre certos países do mundo real. Se por um lado tivemos George Orwell com o seu "1984", do outro, tivemos Ray Bradbury com o seu "Fahrenheit 451". O filme "A Vida dos Outros" (2006) transita entre a ficção e fatos verídicos e que, curiosamente, me fez relembrar desses grandes clássicos da literatura como um todo.  

Dirigido por Florian Henckel von Donnersmarck, o filme conta a história de Georg Dreyman (Sebastian Koch) um dramaturgo da Alemanha Oriental, sendo por muitos considerado o modelo perfeito de cidadão para o país, já que o mesmo não se opõe ao governo nem seu regime político. Porém, o ministro Bruno Hempf (Thomas Thieme) acha que é preciso acompanha-lo de perto e passando a tarefa para Anton Grubitz (Ulrich Tukur), perito em escutas e que descobre quem são os inimigos do Estado. Durante o trabalho, porém, ele escuta a relação do dramaturgo com a sua namorada e atriz Christa-Maria Sieland (Martina Gedeck) e desse trabalho nasce algo incomum para si.  

Florian Henckel von Donnersmarck criou esse filme com uma linguagem cinematográfica semelhante ao que Pedro Almodóvar faz, principalmente quando esse último explorou o lado mais doce e singelo do homem através de "Fale com Ela" (2002). É através dessa exploração dos dois lados da mesma moeda que encontramos dois homens que não se conhecem, mas que compartilham diversos dilemas em meio a uma realidade em que pensar diferente pode trazer duras consequências. Ulrich Tukur se sobressai em um papel complexo, onde no princípio o seu personagem demonstra total fidelidade ao seu país, mas que logo vai revelando certa metamorfose na medida em que o seu trabalho se torna cada vez mais íntimo e obsessivo.    

Curiosamente, o protagonista me fez lembrar de Gury Montag, bombeiro que queima livros no clássico literário "Fahrenheit 451", mas que aos poucos abre a sua mente com relação a realidade em que vive quando começa a lê-los escondido. Através da arte que a humanidade diz o que quer, se liberta e é por isso mesmo que é a primeira ao ser atingida em governos totalitários e dos quais são censurados. O filme também possui uma overdose de "1984", já que tanto o protagonista como os seus demais colegas estão a todo momento vigiando e ouvindo os seus principais alvos, como se não houvesse nenhum momento de paz para ambas as partes, sejam aqueles que estão sendo observados, como também os próprios observadores que são obrigados a pôr em prática isso.   

Florian Henckel von Donnersmarck capricha até mesmo nos momentos de suspense, tendo até mesmo uma pincelada bem ao estilo Alfred Hitchcock, principalmente quando o Estado começa a procurar pistas na casa do dramaturgo que o incrimine. O resultado são desdobramentos trágicos, que revelam as ações e consequências, tanto de personagens que temem as ações do Governo, como também aqueles que se opõem a ele mesmo nas beiradas conflito. Ao final, ambos os lados saem perdendo, como também saem ganhando quando o muro de Berlim, enfim, acaba ruindo.   

Ao final, trata-se de um filme que levanta a questão de que as nossas ações é o que nos define como pessoa. Ou você age contra o totalitarismo da sua maneira, ou convive com ele sem olhar para cima e jamais olhar a sua bandeira, porém, também ignorando o que está sendo silenciado ou até mesmo executado a sua volta. Os que agem de forma indiferente, portanto, não se diferem daqueles que assombraram no poder através do tempo.

"A Vida dos Outros" é uma carta de amor para aqueles que prezam a arte perante tempos autoritários, mas que irão sucumbir perante os seus próprios erros através do tempo. 



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quinta-feira, 27 de junho de 2024

Cine Dicas: Estreias do Final de Semana (27/06/24)

 Um Lugar Silencioso: Dia um

Sinopse: SHHHHH! O nosso mundo entrou em silêncio. Descubra agora o porquê.


A Grande Fuga

Sinopse: A trama se passa durante o verão de 2014 e acompanha a história real de Bernard Jordan (Caine), um veterano da Segunda Guerra Mundial que decide escapar da casa de repouso em que vive e viajar até a França - tudo isso para participar da celebração do 70º aniversário do Dia D nas terras da Normandia.

Tô de Graça

Sinopse: Depois de ganhar uma indenização inesperada, Graça (Rodrigo Sant'Anna) decide torrar o dinheiro levando metade dos seus 14 filhos e filhas para um feriadão num resort luxuoso. A ideia é fazer uma grande surpresa para a filha mais velha que está namorando o playboy dono do estabelecimento. 

13 SENTIMENTOS



Sinopse: Como o final feliz de um filme perfeito. É assim que João descreve o fim de seu relacionamento de 10 anos com Hugo. Apesar da separação, eles permanecem amigos bem próximos.

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quarta-feira, 26 de junho de 2024

Cine Especial: Próxima Sessão do Clube de Cinema - 'Assassino por Acaso'

Neste sábado, o Clube de Cinema de Porto Alegre te convida para mais uma sessão no Espaço de Cinema. Vamos assistir ao novo lançamento do Richard Linklater, aquele mesmo que nos fez chorar com "Boyhood" e suspirar com a trilogia "Before". Só que descobrimos que o mesmo gênio por trás desses dramas profundos também é responsável pelo hilário "Escola do Rock"! Então, preparem-se para a sessão de sábado com "Assassino por Acaso"! Será que Linklater vai nos surpreender mais uma vez? 


Confira as informações abaixo! 


SESSÃO CLUBE DE CINEMA 

Local: Espaço de Cinema, Sala 3, Bourbon Shopping Country (Av. Túlio de Rose, 80) 

Data: 29/06/2024, sábado, às 10:15 da manhã 

"Assassino por Acaso" (Hit Man)  

EUA, 2023, 115 min, 14 anos 

Direção: Richard Linklater 

Elenco: Adria Arjona, Glen Powell, Austin Amelio 


Sinopse: Em "Assassino por Acaso", Gary Johnson (Glen Powell) trabalha para a polícia e finge ser um assassino de aluguel para prender aqueles que o contratam, até que ele quebra o protocolo para tentar salvar uma mulher desesperada. 

Sobre o Filme:

Nestes últimos tempos tem havido debates entre os cinéfilos se o gênero “comédia romântica” ainda existe ou está dando os seus últimos suspiros após um grande desgaste sentido nestes últimos dez anos. Na minha opinião, basta a criatividade para revitaliza-la, desde que se alinhe com as fórmulas de sucesso que a sustentaram ao longo desse mais de um século de cinema. "Assassino Por Acaso" (2023) dá um novo tempero a esse tipo de filme, ao introduzir um humor peculiar, mas que nos envolve de tal maneira que gostamos das mais diversas reviravoltas dentro da trama.   

Dirigido pelo veterano Richard Linklater, o filme conta a história de Gary Johnson (Glen Powell), conhecido como matador profissional, mas que na realidade ele não passa de um simples professor de universidade e que nas horas vagas trabalha para a polícia para incriminar os mandantes dos crimes que ele supostamente iria cometer. Em certa ocasião ele finge ser um matador para Madison (Adria Arjona), uma mulher que deseja que o marido seja morto por ele, mas ao invés de fazer com que ela se incrimine ele acaba se envolvendo com ela. Não demora muito para Gary perceber que o seu momento pouco profissional irá desencadear situações irreversíveis.   

Richard Linklater é conhecido pela sua trilogia romântica, porém criativa, iniciada em "Antes do Amanhecer" (1995) e no decorrer dos anos transitou por esse gênero e ao mesmo tempo optando por projetos mais experimentais como "Waking Life" (2001) e o maravilhoso "Boyhood" (2014). Em um primeiro momento, "Assassino Por Acaso" parece ser o seu projeto mais convencional, mas que possui elementos que remetem a outras de suas obras como no caso de "O Homem Duplo' (2006), porém, não coloca a nossa mente do avesso. O filme se envereda mais para uma curiosa comédia romântica que se alinha com um humor de teor mais sombrio, sarcástico e sendo algo que chegou até mesmo ser comum durante os anos noventa com títulos como no caso de "Matador em Conflito" (1998).  

Mas o que faz de o filme ser uma comédia romântica é que todos os ingredientes de sucesso estão lá, desde o protagonista conhecer a sua amada, se apaixonarem, brigarem, para que no fim sejam felizes para sempre. Até lá, o filme é recheado de momentos de um verdadeiro jogo de gato e rato e tudo moldurado pela criatividade do cineasta e cuja edição de cenas tornam o filme ainda mais dinâmico diante dos nossos olhos. Porém, diferente de outros títulos do gênero, a gente acredita que nada dará certo para o casal central, principalmente quando a situação foge do controle quando ambos guardam os seus respectivos segredos um contra o outro e fazendo sair tudo do controle na medida em que a trama vai avançando.   

Mas verdade seja dita, o filme não funcionaria sem a dupla central da trama. Tanto Glen Powell como Adria Arjona possuem uma química perfeita em cena, sendo que os momentos calientes entre os dois se tornam bastante verossímeis e ao mesmo tempo revelando uma veia cômica entre ambas as partes. Um fica jogando contra o outro até que tudo transborda e revelando, enfim, uma nova faceta e da qual nem mesmo eles imaginavam que chegariam a tal ponto. Embora o final tenha uma solução que facilite a vida dos dois isso não diminuiu o resultado da obra como um todo, pois já neste ponto estamos mais do que satisfeitos.   

"Assassino Por Acaso" é uma agradável surpresa em tempos atuais em que a comédia romântica procura se inovar, mesmo quando se envereda para um teor fora do seu padrão convencional e que estávamos acostumados em assistir.   

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Cine Dica: CINEMATECA CAPITÓLIO PROGRAMAÇÃO 27 de junho a 3 de julho

FICÇÕES-CIENTÍFICAS DO RS EM SESSÕES DUPLAS

Rei Lear

De 27 de junho a 2 de julho, a Cinemateca Capitólio apresenta dois curtas de ficção-científica produzidos no Rio Grande do Sul, em sessões duplas com longas internacionais. Princesa Morta do Jacuí, de Marcela Bordin, será exibido com Enigma do Poder, de Abel Ferrara. Magnética, de Marco Arruda, será exibido com Rei Lear, de Jean-Luc Godard. O valor do ingresso é R$ 10,00. A renda das sessões será destinada ao projeto Futuro Audiovisual RS.


Mais informações: https://www.capitolio.org.br/eventos/7349/magnetica-rei-lear/

https://www.capitolio.org.br/eventos/7347/princesa-morta-do-jacui-enigma-do-poder/


SESSÃO ESPECIAL DE MARCO DO CINEMA GAÚCHO

No domingo, 30 de junho, às 18h, a Cinemateca Capitólio apresenta uma sessão especial de Um Homem Tem de ser Morto, de David Quintans, para celebrar o aniversário de 50 anos da primeira exibição do filme na competição do Festival de Gramado de 1974. O diretor participa de um debate após a sessão. Entrada franca.


Mais informações: https://www.capitolio.org.br/eventos/7351/um-homem-tem-de-ser-morto-debate/


GRADE DE HORÁRIOS

27 de junho a 3 de julho


27 de junho (quinta-feira)

15h – A Hora da Estrela

17h – Princesa Morta do Jacuí + Enigma do Poder

19h – Pele de Asno


28 de junho (sexta-feira)

15h – A Hora da Estrela

16h45 – Duas Garotas Românticas

19h – Magnética + Rei Lear


29 de junho (sábado)

15h – A Hora da Estrela

17h – Os Guarda-Chuvas do Amor

19h – Princesa Morta do Jacuí + Enigma do Poder


30 de junho (domingo)

15h – A Hora da Estrela

16h45 – Os Anos do Super-8

18h – Um Homem tem de ser Morto + debate


2 de julho (terça-feira)

15h – Princesa Morta do Jacuí + Enigma do Poder

17h – Magnética + Rei Lear

19h – A Hora da Estrela


3 de julho (quarta-feira)

15h – Magnética + Rei Lear

17h – A Hora da Estrela

19h – Duas Garotas Românticas

terça-feira, 25 de junho de 2024

Cine Dica: Em Cartaz 'Divertida Mente 2'

Sinopse: Riley se encontra mais velha, passando pela tão temida adolescência. Junto com o amadurecimento, a sala de controle também está passando por uma adaptação para dar lugar a algo totalmente inesperado: novas emoções. 

"Divertida Mente" (2015) se tornou o filme Pixar mais querido através do grande público e ingredientes para isso é o que não faltam. Ao criar personagens fofinhos e carismáticos, dos quais representam o sentimento da menina Riley, o longa acabou servindo até mesmo de estudo e nos alertando que é essencial até mesmo sentirmos a tristeza, pois sem ela não poderíamos liberar as nossas dores internas que nós sentimentos no dia a dia. Eis que então chega "Divertidamente Mente 2" (2024), que é difícil eu dizer se é melhor ou não se comparado ao filme anterior, pois os realizadores novamente acertaram ao explorar novos sentimentos de uma jovem que ainda está se descobrindo ao longo do tempo.

Nesta nova aventura vemos Riley agora um pouco mais velha, com 13 anos de idade, passando pela pré-adolescência. Junto com essas mudanças, a sala de controle mental da jovem também está passando por uma demolição para dar lugar a algo totalmente inesperado. As já conhecidas, Alegria (Amy Poehler), Tristeza (Phyllis Smith), Raiva (Lewis Black), Medo (Tony Hale) e Nojinho (Liza Lapira) agora recebem as emoções Ansiedade (Maya Hawke). Inveja (Ayo Edebiri), Tédio (Adèle Exarchopoulos) e Vergonha (Paul Walter Hauser).

Retornar a esse universo dentro da mente Riley e revermos esses carismáticos personagens é de uma grande satisfação, pois eles já tinham obtido a nossa simpatia. É como revermos velhos amigos depois de vários anos e fazendo despertar em nós uma grande nostalgia. Falando nisso, aguarde pela aparição desse sentimento e fazendo disso uma das grandes piadas do longa como um todo.

Porém, é notório que esse segundo filme seja uma espécie de releitura do primeiro, já que Alegria acaba tendo um embate com Ansiedade e fazendo com que ela, Tristeza, Raiva, Medo e Nojinho saiam da sala de controle. A partir daí se tem uma jornada do grupo em tentar retornar ao local e ao mesmo tempo repor a convicção de Riley no seu devido lugar. Ou seja, um "Déjà vu", porém, com desdobramentos diferentes, mas que não foge dessa sensação.

Mas, se por um lado não há exatamente a originalidade refrescante sentida do primeiro filme, ao menos essa segunda parte acerta novamente em nos dizer que é essencial termos esses sentimentos, até mesmo a própria ansiedade. Porém, uma vez que a personagem Ansiedade tenta a todo custo fazer com que Riley se dê bem no jogo de Hockey, isso acaba desencadeando um descontrole emocional dentro da menina e fazendo com que os seus desejos entrem em conflito e fazendo com que se afaste até mesmo de suas amigas. Todos os sentimentos são essenciais, mas nenhum pode controlar a pessoa de forma plena e tendo que deixar um espaço para os demais para que a pessoa viva em sua total plenitude.

Por conta dessa análise isso se torna um prato cheio para os psicanalistas que já defendiam o filme anterior e fazendo deste novo algo a ser analisado mais a fundo. Em tempos em que as pessoas vivem com grande ansiedade devido as mais diversas adversidades, até mesmo no mais convencional dos dias, é necessário a pessoa pare por um momento, respirar fundo e deixar fluir o melhor de si e para que assim as coisas sejam resolvidas no seu devido tempo. Por conta disso, o ato final acaba se tornando tão emocionante quanto o filme original, pois todos nos identificamos com a Riley naquele momento e fazendo a gente se dar conta que os dilemas da vida não são exclusivamente meus ou seus, mas sim estão em todos nós e devemos enfrenta-los juntos.

Mas o filme não se sustenta somente por esse peso emocional, como também por momentos divertidos e que fará muitos rirem quando acontecerem. É incrível, por exemplo, quando os sentimentos entram no "Cofre", local onde Riley guarda os seus segredos mais secretos e é aí que a Pixar nos brinda com personagens que são moldados com desenhos feitos a mão e se cruzando com total naturalidade com o desenho CGI. Logicamente, isso é efeito pós "Homem-Aranha no Aranhaverso" (2018), muito embora precisamos puxar pela memória e nos lembrarmos que a própria Pixar já havia explorado essas duas formas de se criar um enredo através do curta "Dia e Noite" (2010).

Por conta disso, o filme chega em um momento em que os estúdios cada vez mais estão explorando tecnologias novas para animação, mas ao mesmo tempo olhando para traz e usando velhos recursos para se criar uma boa história. É bom sempre inovar, mas jamais esquecer das velhas e melhores formas de se contar um conto, sendo que o melhor é feito de coração e sendo ainda o ingrediente principal para obter a nossa total aprovação. Neste último caso, felizmente, a Pixar ainda não falhou.

"Divertida Mente 2" é um filme essencial para jovens e adultos assistirem juntos na sala de cinema, onde a gente se identifica, se emociona e fazendo a gente aplaudir de pé ao final da história. 


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segunda-feira, 24 de junho de 2024

Cine Especial: Próximo Cine Debate - 'Humano'


Em um determinado momento do documentário "Humano" (2015), de Yann Arthus-Bertrand, há um depoimento de um Haitiano e logo em seguida é cortado por um depoimento de uma mulher Russa. O primeiro fala sobre as dificuldades de ser pobre enquanto a mulher fala de como é bom ser rica para comprar o que quiser na vida. O contraste é gritante, sendo que são duas pessoas que vivem no mesmo planeta, mas que se encontram separados através de uma grande muralha invisível construído pelo sistema capitalista.

O fotografo e diretor Yann Arthus-Bertrand buscou os mais diversos tipos de depoimentos ao redor do globo, onde as pessoas paravam em frente a sua câmera e começavam a colocar para fora as suas vidas e sobre os altos e baixos que obtiveram ao longo dessa jornada. Há um interesse fortíssimo do realizador em focar ao máximo as expressões dessas pessoas, onde podemos ver cada marca e das quais representam uma história a ser contada. Curiosamente, há um interesse do realizador em começar um depoimento de um em off enquanto surge na tela outro do outro lado deste planeta.

Ao meu ver, isso sintetiza a maneira como agirmos perante as palavras das quais nós ouvimos, mesmo quando não fica claro se o rosto que surge em cena está ouvindo a voz do outro, mas dando um exemplo da forma como reagimos quando ouvimos a história de alguém que viveu em seu micro cosmo, mas que não é muito distante do nosso. Yann Arthus-Bertrand procura também nos lembrar de como somos pequenos neste grande formigueiro que chamamos de Terra, sendo que a sua câmera sobrevoa diversos cantos do mundo, desde os países mais ricos, como também aqueles em que muitos estão se tornando locais para refugiados e sobrevivendo ao pedaço de terra onde decidiram plantar para sobreviver. Em um determinado momento, por exemplo, vemos uma jovem atravessando uma grande multidão com uma cesta de comida, para logo em seguida focar a câmera que a está filmando e revelando um olhar que tem muito mais a que dizer do que meras palavras soltadas ao vento.

Acima de tudo, é um documentário que fala sobre o ser humano de como se relaciona, como comete erros e acertos, como dá a volta por cima e tendo que começar tudo do zero. Não importa se você seja pobre ou rico, pois ninguém é intocável nesta vida e somos residentes em uma única casa que chamamos terra e da qual, infelizmente, não estamos cuidando muito bem dela. Na pior das hipóteses, nas próximas décadas talvez tenhamos depoimentos de pessoas arrependidas de não terem feito algo melhor para o nosso planeta ao invés de se preocupar com coisas e que nos deixavam mais alienados no dia a dia.

"Humano" reúne declarações de diversas pessoas do globo e que revela o que nos faz realmente sermos humanos. 

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domingo, 23 de junho de 2024

Cine Dica: "Priscilla: A Rainha do Deserto", na próxima sessão do Cineclube Torres


O filme encerra com humor e muita música o ciclo de junho LGBTQIAPN+ do Cineclube Torres, na Sala Gilda e Leonardo. "Priscilla: A Rainha do Deserto" é um filme de 1994,  uma comédia musical, escrita e dirigida pelo australiano Stephan Elliott. Bernadette (Terence Stamp), uma mulher trans de meia-idade que vive o luto da recente morte de seu companheiro, embarca em uma turnê de performances com suas amigas drag queens, Mitzi (Hugo Weaving) e Felicia (Guy Pearce). Pelas estradas do deserto australiano, elas viajam a bordo de um ônibus chamado Priscilla ao encontro de improváveis platéias.

Mesmo que hoje se possa criticar a produção pela falta de representatividade trans e drag, por ter escolhido atores heteronormativos para os papéis principais, o filme foi pioneiro na divulgação de temas LGBT a um público mais amplo. Foi exibido na seção Un Certain Regard do Festival de Cannes de 1994 e ganhou um Oscar de Melhor Figurino no 67º Oscar no ano seguinte, se tornando ao longo dos anos um verdadeiro clássico cult.

O filme serviu posteriormente de base para um musical homônimo, que estreou em 2006 em Sydney antes de viajar pelo mundo inclusive na Broadway. "A excelente trilha sonora, os figurinos exuberantes, a valorização do deslumbrante contrapondo a chatice da “normalidade” instituída e, principalmente, a sensibilidade com a qual passa por temas potencialmente dolorosos faz de Priscilla: A Rainha do Deserto uma bela ode à liberdade." (Marcelo Müller, Papo de Cinema).

A sessão, com entrada franca, integra o ciclo queer "O amor tem todas as cores" na programação continuada de segundas feiras na Sala Audiovisual Gilda e Leonardo, realizada pelo Cineclube Torres, associação sem fins lucrativos em atividade desde 2011, Ponto de Cultura certificado pela Lei Cultura Viva federal e estadual, Ponto de Memória pelo IBRAM, contando para isso com a parceria e o patrocínio da Up Idiomas Torres.

Serviço:

O que:

Exibição do filme “Priscilla, a Rainha do Deserto”, integrado no ciclo  LGBTQIAPN+

Onde:

Sala Audiovisual Gilda e Leonardo, na escola Up Idiomas, Rua Cincinato Borges 420, Torres

Quando:

Segunda-feira, dia 24/06, às 20h.

Ingressos:

Entrada Franca, até lotação do local (aprox. 22 pessoas).


Cineclube Torres

Associação sem fins lucrativos

Ponto de Cultura – Lei Federal e Estadual Cultura Viva

Ponto de Memória – Instituto Brasileiro de Museus

CNPJ 15.324.175/0001-21

Registro ANCINE n. 33764

Produtor Cultural Estadual n. 4917

sexta-feira, 21 de junho de 2024

Cine Especial: Revisitando '9 1/2 Semanas de Amor'

Cada filme que eu assisto pela primeira vez tem a sua curiosa história para ser contada. "9 1/2 Semanas de Amor" (1986) eu conheci da forma mais interessante possível, em tempos em que os meus hormônios estavam em ebulição e buscavam algo picante para assistir na tv. Eram tempos que eu ainda nem pisava em uma locadora, mas para isso serviu a sessão “Sexta Sexy” da Band.

Era uma sessão de filmes eróticos que passavam sempre as sextas e que, curiosamente, passava as 22h, sendo que para muitos de hoje em dia esse horário é bem cedo. Nestas primeiras sessões é que surgiu o filme dirigido por Adrian Lyne e baseado na obra de Ingeborg Day, que escreveu a trama de acordo com as suas memorias de um amor ardente que ela teve no passado. Estrelado por Kim Basinger e Mickey Rourke, o filme foi um fracasso quando estreou nos EUA, mas se tornando um grande sucesso no mundo a fora e faturando mais de R$ 100 milhões ao redor do mundo.

Só para se ter uma ideia o longa ficou cinco anos em cartaz em uma sala de Paris, ficando por dois anos na sala Cine Belas Artes de São Paulo e fazendo com que o filme crescesse cada vez mais entre os cinéfilos. É um daqueles casos que a obra cresce através do tempo e fazendo os críticos reconhecerem que erraram em uma primeira análise quando o filme havia estreado. Hoje o filme é apontado como um verdadeiro cult e elementos para isso é o que não faltam.

Para começar, Adrian Lyne criou um filme que exala o que foi os anos oitenta, onde havia uma sociedade cada vez mais desajustada e cansada de seguir as normas de um sistema cheio de regras e se entregando aos seus desejos até então reprimidos. Eram tempos em que ser sombrio era moda, onde vemos uma Nova York acinzentada, chuvosa e que remete até mesmo os tempos do subgênero noir e que revisto hoje se percebe que não é somente um filme pertencente ao seu tempo, como também podendo ser muito bem visto aos olhos do nosso tempo. Não me surpreenderia, por exemplo, se o longa serviu de inspiração para a E. L. James criar o seu "Cinquenta Tons de Cinza", muito embora aquilo não passe de um conto de fadas masoquista perto desse.

A relação dos personagens de Kim Basinger e Mickey Rourke é instantânea, fazendo com que as cenas se tornem intensas na medida em que a trama avança. Curiosamente, o primeiro beijo entre os dois somente acontece após quarenta e cinco minutos de filme, sendo que antes disso há somente joguinhos de sedução, desde gelo sendo passado no corpo, como também cenas em que a personagem Elizabeth vai comendo diversos alimentos enquanto John vai escolhendo qual será o próximo.

O filme é basicamente isso, sendo que pouco sabemos sobre o passado de John, muito embora nos dê a entender que ele tinha tudo, mas não o suficiente para despertar nele um amor verdadeiro, até conhecer Elizabeth. Pode-se dizer que o filme é até mesmo a frente do seu tempo na questão de relacionamentos que começam com grande fogo, mas que começam a terminar no momento em que se encontram desgastados e não sabendo ao certo como apimenta-lo. Neste último caso, as atitudes de John seriam vistas hoje como politicamente incorretas, muito embora no livro se torne ainda mais violenta e intensa, ao ponto de Elizabeth ser internada.

Tanto Kim Basinger como Mickey Rourke estão ótimos em cena, sendo que a química entre ambos se sente a cada olhar e gestos que os seus personagens fazem um para o outro. Rodado em dez semanas, o diretor decidiu que as filmagens fossem feitas em ordem cronológica para que a relação entre os dois interpretes se tornasse cada vez mais verossímil e intensa na medida do possível. Na realidade, essa intensidade foi mais além do que se imagina.

No momento de filmar a última cena, que posteriormente acabou sendo removida, Basinger deveria estar partida ao meio emocionalmente e fisicamente. Porém, a interprete compareceu nas filmagens com boa aparência e não se parecia em nada como o realizador queria. A cena em questão seria John forçar Elizabeth a tomar diversos medicamentos para dormir para ver até onde o amor dela iria por ele.

“A cena não estava funcionando. Kim tinha uma aparência fresca como uma rosa, adorável demais", contou Lyne, “então tivemos que quebrá-la". Depois de receber as anotações do diretor, Rourke agarrou o braço de Basinger com força fazendo atriz gritar, chorar e bater nele. Rourke soltou o braço de Basinger, mas em seguida lhe deu uma bofetada. Ela sofreu um ataque de pânico. O diretor exclamou: "Vamos filmar a cena agora".

Segundo as próprias palavras da atriz não foi uma das experiências mais agradáveis, sendo que ela não queria ver mais ninguém da produção após a sua conclusão. Porém, ela reconhece que isso tudo havia lhe deixado mais forte e ao mesmo tempo tendo um cuidado maior na escolha dos seus papeis. Claro que muita coisa foi cortada na edição final, desde a cena dos medicamentos para dormir, como também outras cenas de sexo demasiadamente fortes demais.

Vale destacar que o filme também possui uma bela trilha sonora, sendo que as letras são facilmente reconhecidas pelos que apreciam uma boa música. Uma das minhas favoritas é "Slave to Love", de Bryan Ferry, e que sinceramente até havia me esquecido que pertencia a esse filme, até revê-lo recentemente. O longa voltou a ser exibido nos cinemas em comemoração aos setenta anos da Kim Basinger e fazendo que muitos consigam assistir por uma nova perspectiva nos dias de hoje.

"9 1/2 Semanas de Amor" é um filme que não se sustenta somente pela sua relação amorosa complexa e ardente entre os dois protagonistas, como também é um dos filmes que melhor sintetizou a metamorfose que a sociedade passava durante os anos oitenta.


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quinta-feira, 20 de junho de 2024

Cine Dica: Sessão Clube de Cinema 22/06: "A Vida dos Outros" no Goethe

Temos o prazer de anunciar a mais nova parceria do Clube de Cinema de Porto Alegre com o Goethe-Institut Porto Alegre!

Para celebrar essa colaboração, no próximo sábado (22/06), estrearemos no novo espaço com a exibição do aclamado filme alemão "A Vida dos Outros", escrito e dirigido por Florian Henckel von Donnersmarck, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2006.


SESSÃO CLUBE DE CINEMA DE PORTO ALEGRE

EM COLABORAÇÃO COM O GOETHE-INSTITUT PORTO ALEGRE

Local: Goethe-Institut Porto Alegre (R. 24 de Outubro, 112 - Moinhos de Vento)

Data: 22/06/2024, sábado, às 10:15 da manhã


"A Vida dos Outros"

Alemanha, 2006, 137 min, 12 anos

Direção: Florian Henckel von Donnersmarck

Elenco: Ulrich Mühe, Martina Gedeck, Sebastian Koch

Sinopse: Nos anos 80, o Ministro da Cultura da Alemanha Oriental se interessa por Christa, uma atriz que namora um famoso dramaturgo. Suspeitos de infidelidade ao comunismo, são vigiados por um capitão do serviço secreto, que fica fascinado pelas suas vidas.

Contamos com a sua presença para a estreia na nossa mais nova parceria!

O evento é aberto para associados e não associados.

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