sexta-feira, 31 de maio de 2024

Cine Especial: Revisitando 'O Planeta dos Macacos'

O tempo destrói tudo, mas ao mesmo tempo revitaliza aquilo que foi criado a frente da sua época. Filmes, por exemplo, quando são bem-feitos e cuja proposta nos faz pensar como um todo, sobrevivem ao teste do tempo mesmo quando o longa já existe há uns cem anos. Quando uma obra dialoga com os dilemas perante as adversidades, pensamentos e acontecimentos do mundo real, a obra tende a não falar somente sobre o período em que foi criado, como também dialogar com o tempo em que vivemos. Em tempos atuais em que cada vez mais a discussão política está inflamada, gerando divisão entre classes e misturando a religião como um todo, se abre uma janela desoladora com relação ao nosso próprio futuro.

A ficção cientifica é um terreno que não fala sobre um possível futuro, mas sim fala sobre o nosso presente e sabendo se alinhar com que nos espera futuramente. Os erros do passado são colocados em pauta em nosso tempo e fazendo assim se abrir um leque de diversas possibilidades e das quais geram diversos debates. "O Planeta dos Macacos" (1968) é um desses casos em que os anos passam, mas se mantém mais atual do que nunca graças ao seu teor político, reflexivo e de como ainda não evoluímos para continuarmos existindo.

Baseado no romance de Pierre Boulle (autor da Ponte do Rio Kwai) que julgava a história infilmável para a época. Acabou se tornando um triunfo dos roteiristas Michael Wilson e Rod Serling (criador do seriado Além da Imaginação) e de Schaffner. Rendeu quatro continuações e duas series de TV, uma delas como desenho animado. Ganhou um Oscar especial de melhor maquiagem para John Chambers. Com personagens cativantes, o grande destaque fica para o casal de macacos Cornelius (Roddy McDowell) e Zira (Kim Hnter) que seriam peças importantes de toda a saga. O filme em si, era um retrato do medo daquela época perante as mudanças que poderiam surgir futuramente e ao mesmo tempo uma espécie de critica a hostilidade, crenças e a guerra uns contra os outros. Tudo moldado num único filme e que se encerra com chave de ouro devido à inesperada cena final que entrou para história do cinema.

Isso ainda é pouco perante o peso que o filme carrega, principalmente quando ele é revistado em cada revisão. Nota-se, por exemplo, o lado descrente de Taylor, interpretado pelo ator Charlton Heston, que embarcou em uma missão para descobrir vida fora da terra, pois nada nela o prendia devido ao caminho que a humanidade estava vivendo. Eram tempos em que o mundo ainda estava se cicatrizando devido as feridas da Segunda Guerra, os tempos de Guerra Fria já assombravam e a Guerra do Vietnã se tornaria um duro golpe do mundo real contra o os americanos. Revendo a obra atualmente nota-se que nada mudou, a humanidade não evoluiu, retrocedendo cada vez mais, discursos políticos inflamando ainda mais a situação ao invés de ajudar, guerras acontecendo a todo momento e nos colocando sempre à beira da extinção.

Claro que o estúdio Fox da época sempre tinha ambição de atrair um grande público devido a curiosidade em vermos macacos sendo os verdadeiros protagonistas da trama. Contudo, acho que nem eles esperavam tamanho teor político, religioso e o temor que muitos tinham naqueles tempos sendo levados as telas. Franklin J. Schaffner, por outro lado, fez o que pode em termos de ação para época, já que os estúdios sofriam certa crise naqueles tempos, mas isso não o impediu de criar momentos até mesmo frenéticos para os padrões da época. A cena de ação em que surgem os primeiros macacos montados em cavalos e caçando seres humanos com certeza pegou todos na época desprevenidos.

Esse momento, aliás, se torna ainda mais impactante graças a sua trilha sonora composta pelo maestro Jerry Goldsmith, que soube criar uma atmosfera mórbida principalmente quando surge os primeiros macacos. Quando a câmera foca pela primeira vez os rostos deles há um ensurdecedor som vindo de uma corneta e sintetizando o teor absurdo da cena. O peso dela se torna ainda maior graças a expressão de Taylor que não consegue acreditar no que está havendo em meio ao caos.

Não são meramente atores que vestem uma máscara, mas sim a mais pura maquiagem que levava horas para serem feitas nos seus rostos. Um ano antes, John Chambers havia criado uma cena teste com os atores para ver como ficaria e sendo o que foi visto era o mais próximo do clássico episódio The Eye of The Beholder da série "Além da Imaginação", mas cuja trama era algo completamente diferente. O simples teste serviu de exemplo de como a maquiagem poderia ainda evoluir e o resultado foi visto nas telas de cinema.

Mas, acima de tudo, o filme sempre será lembrado ao possuir um dos finais mais impactantes da história do cinema. Quando a Dra. Zira pergunta ao Dr. Zaius o que Taylor acharia além da zona proibida imediatamente ele responderia "o seu destino". Destino esse não somente do protagonista, como também da própria humanidade e sendo representada pela famosa cena em que o protagonista encara a terrível verdade ao ver a Estátua da Liberdade encravada na praia. O grito de revolta de Taylor não somente horrorizou as plateias dos anos sessenta, como ele ainda hoje ecoa nos dias de hoje ao nos darmos conta que não melhoramos em nada e o temor pela extinção se torna ainda forte a cada dia.

"O Planeta dos Macacos" é uma obra prima atemporal e que se fortalece ainda mais a cada revisão.           


"Cuidado com a besta homem, pois ele é o peão do diabo. Sozinho entre os primatas de Deus, ele mata por esporte, prazer ou cobiça. Ele matará o seu irmão para ficar com a sua terra. Não o deixe procriar em grandes números pois ele transformará em deserto a sua terra. Enxote-o, faça-o voltar ao seu lugar na selva... pois ele é o mensageiro da morte."  


29ª escritura, 6º verso da Lei do Planeta dos Macacos  

(Planeta dos Macacos: O Homem que veio do futuro - 1968) 


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quinta-feira, 30 de maio de 2024

Cine Dica: Streaming - 'Bob Marley: One Love'

Sinopse: O jamaicano Bob Marley supera as adversidades para se tornar um dos o músicos mais famosos do mundo.

As cinebiografias de artistas do universo da música obtiveram grande sucesso através do público, mesmo quando as mesmas possuam alguns defeitos. Por melhor que seja, por exemplo, "Bohemian Rhapsody" (2018), o filme omitiu muitas passagens e distorceu alguns pontos especificos sobre a vida e a obra de Freddie Mercury. Já "Bob Marley: One Love" (2024), segue para um caminho parecido, mesmo possuindo a ideia primordial que o artista sempre passava em vida.

Dirigido por  Reinaldo Marcus Green, o filme conta a história de Bob Marley  (Kingsley Ben-Adir), ícone que revolucionou reggae. O longa reconta os importantes feitos do cantor para seu país a Jamaica, assim como as adversidades que o mesmo, a sua família, amigos e colegas passaram. Marley ficou conhecido por sua pregação pela paz e a fé rastafari. Porém, após sofrer um atentado, ele e sua esposa (Lashana Lynch) partem do país para fazer uma turnê, mas é através dela que novos dilemas irão surgir.

Por melhores que sejam as boas intenções em adaptar sobre a vida de Bob Marley, o filme possui alguns vícios constantes do cinemão norte americano, principalmente quando é retratar um país estrangeiro. Por melhor que seja o retrato da Jamaica, por exemplo, é irritante perceber que os realizadores teimam em usar uma fotografia alaranjada, como se todo o país fora dos EUA fosse quente o suficiente para parecer tudo desta forma. O filme é produzido por Brad Pitt, mas ao meu ver ele precisa viajar um pouco mais para conhecer melhor o mundo real.

Além disso, o filme tem a participação da família na produção, o que faz com que o filme se torne mais conservador do que deveria e que com certeza omitiu passagens mais polêmicas do artista. Porém, ao menos o ator Kingsley Ben-Adir soube captar o que foi Bob Marley em vida, sendo alguém que evitou usar a arma de fogo, mas sim usando a música para tocar nas pessoas e fazer das mesmas se tornarem melhores ao invés de só guerrearem. Além disso, a proposta de saber perdoar ao invés de se vingar é valida, mesmo para tempos como hoje em que as pessoas não sabem mais ao certo o que é praticar o bem para o seu próximo.

Para os fãs o filme é um verdadeiro prato cheio, principalmente pelo fato de boa parte dos seus grandes sucessos embalarem a trilha sonora no decorrer do longa. O album "Exodus", um dos maiores sucessos de sua carreira, é o grande destaque da trama, principalmente na cena em que um determinado personagem questiona simplicidade da capa, quando na verdade o que contava era o seu próprio conteúdo em si. Marley não buscava por um retorno financeiro, mas sim deixar a sua mensagem viva para aqueles que buscavam uma paz de espírito.

Infelizmente o filme nos passa aquela sensação de que poderia ter sido melhor, que poderia ter explorado ainda mais a faceta desse grande artista e não se intimidar com as consequências. Bob Marley era um desses gênios cujo corpo humano não era forte o suficiente para mante-lo neste mundo, mas deixando para nós a sua obra como um todo. Ou seja, é um filme que somente nos dá a superfície, mas faltando algo a mais para a gente compreender melhor a sua real essência.

"Bob Marley: One Love" é uma cinebiografia que ficou aquém do esperado perante do que foi Bob Marley, mas ao menos a sua mensagem que sempre pregou em vida está lá para a gente se lembrar sempre quando der.   

Onde Assistir: Apple TV.

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quarta-feira, 29 de maio de 2024

Cine Dica: Cine Dica: Streaming - 'Rebel Moon - Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes'

Sinopse: Os rebeldes se preparam para lutar contra as forças implacáveis do Mundo-Mãe, forjando laços entre si enquanto heróis emergem e lendas nascem. 

Quando Zack Snyder lançou a primeira parte de "Rebel Moon" (2023) eu até que defendi a obra pelo fato dela ser totalmente desprendida das demais franquias intermináveis que tomam por assalto os cinemas hoje em dia. Porém, não é exatamente um filme com uma trama original, já que inicialmente era um projeto do próprio diretor com a intenção de fazer um futuro filme do universo expandido de Star Wars, mas que havia sido recusado e fazendo com que o realizador remodelasse a sua trama como um todo e obtendo carta branca para realizar pela Netflix. É então que chega "Rebel Moon - Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes" (2024) filme que chega a ser tão bom em termos de ação se comparado ao anterior, mas que fará muitos detratores odiarem ainda mais esse universo criado pelo diretor.

A trama começa exatamente onde o filme anterior havia terminado, mais precisamente na colônia pacífica situada nos confins do universo. Contudo, o tirano Regente Balisarius (Fra Fee) ainda está vivo e fará de tudo para obter a cabeça da jovem guerreira Kora (Sofia Boutella). Em contrapartida, a protagonista ainda tem os seus aliados e com ajuda dos habitantes da colônia iniciam uma autodefesa contra o inimigo.

É notório que os dois filmes foram rodados ao mesmo tempo, mas o próprio Zack Snyder já havia dito que pretende lançar versões estendidas dos dois capítulos em breve. A meu ver isso serve mais para expandir aquele universo do que qualquer outra coisa, já que a trama em si nós a compreendemos, pois a mesma fórmula de sucesso dos filmes de ação e aventura que já assistimos no passado, mas todo modelado pela visão do cineasta. Pode-se dizer que é uma espécie de "Sete Homens e Um Destino" espacial, mas alinhado com elementos que já estamos acostumados a ver em outras franquias como Star Wars, ou até mesmo no mais absurdo vídeo game interminável.

Portanto, esperem por muita câmera lenta de luta, explosão, perseguição e tudo que alguns fãs do cineasta gostam e que a maioria odeia para dizer o mínimo. Os heróis, por sua vez, cada um ali tem um motivo específico do porquê embarcar nesta guerra suicida, seja de uma forma mais explicativa, ou resumida. Quando todos se encontram na mesa para revelarem as suas motivações talvez seja o único momento mais humano do filme como um todo, pois de resto é ação até o último minuto.

Infelizmente o vilão Atticus Noble perde do seu peso dentro da história, mesmo ainda sendo bem interpretado pelo ator Ed Skrein. A meu ver a sua ressurreição dentro da trama é meio que forçada e nos dando a entender que facilmente ele poderia ter sido substituído por outro personagem ao longo da trama. Isso vale também para os demais guerreiros, sendo que alguns tiveram maior destaque e outros ficaram apenas como mero figurantes.

Inicialmente pensado para dois capítulos, eis que Zack Snyder ainda inventa em última hora uma possível terceira parte, já que o final deixa um enorme gancho para isso. Resta saber se o realizador terá fãs o suficiente para que esse filme ocorra, pois a meu ver já deu sinais de enfraquecimento, seja pela sua fórmula diversas vezes usada, ou pelo fato que falta originalidade maior deste universo que ele acabou criando por teimosia. "Rebel Moon - Parte 2: A Marcadora de Cicatrizes" não muda em nada para aqueles que odiaram o primeiro filme e fazendo com que essa franquia de Zack Snyder tenha um futuro ainda mais duvidoso.

Onde Assistir: Netflix.     

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Cine Dica: Próxima Sessão do Clube de Cinema - 'As Vezes Quero Sumir'

É com grande prazer que o Clube de Cinema de Porto Alegre anuncia a retomada de suas atividades no próximo sábado, 1º de junho. Esperamos por você no Espaço de Cinema do Bourbon Shopping Country a partir das 09h30 para uma recepção especial com cafézinho. :)


SESSÃO CLUBE DE CINEMA DE PORTO ALEGRE

Local: Espaço de Cinema, Sala 3, Bourbon Shopping Country (Av. Túlio de Rose, 80 - Passo d'Areia)

Data: 01/06/2024, sábado

Recepção: 09h30

Início da sessão: 10h15

"Às Vezes Quero Sumir" (Sometimes I Think About Dying)

EUA, 2023, 94 min, 12 anos

Direção: Rachel Lambert

Elenco: Daisy Ridley, Dave Merheje, Parvesh Cheena

Sinopse: Sucesso no Festival de Sundance, o filme conta a história da tímida Fran (Daisy Ridley), que vê sua vida transformada com a chegada de um novo colega de trabalho. Uma conexão inesperada surge entre eles, e Fran precisará se reinventar para finalmente embarcar na aventura de viver.

Contamos com sua presença, até lá!

Atenciosamente,

Equipe diretiva do Clube de Cinema de Porto Alegre

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terça-feira, 28 de maio de 2024

Cine Dica: Em Streaming - 'O Homem dos Sonhos'

 Sinopse: Um infeliz pai de família vê sua vida virada de cabeça para baixo quando milhões de estranhos de repente começam a vê-lo em seus sonhos.  

Nicolas Cage é um sobrevivente em uma Hollywood atual obcecada por franquias e fazendo com que grandes talentos como ele sejam relegados aos filmes de baixo orçamento e obtendo só a chance de pagar as suas contas na medida do possível. De inúmeros filmes que foram direto para locadoras, ou streaming ao longo dos anos, ao menos ele sempre surge com um ou outro título que prove que o seu talento ainda continua intacto. É no caso desse "O Homem dos Sonhos" (2023), onde o intérprete atua em uma trama que fala sobre celebridades instantâneas, redes sociais, cancelamentos e sobre o próprio futuro nebuloso do ser humano.

Dirigido por Kristoffer Borgli, o filme conta sobre a vida de Paul Matthews, pai de família comum que vive uma vida rotineira ao lado da esposa (Julianne Nicholson) e de suas duas filhas. Porém, certo dia diversas pessoas começam a sonhar com ele e fazendo dele uma celebridade improvável. Contudo, os sonhos começam a se tornar cada vez mais frequentes e fazendo da figura de Paul até mesmo perigosa e colocando a sua vida de cabeça para baixo de forma rápida.

O filme em si seria um prato cheio para o psicólogo Leonardo Della Pasca, que foi ministrante sobre "Cinema e Sonhos" tempos atrás pelo Cine Um em Porto Alegre e do qual participei ao menos umas duas vezes. Porém, o filme não se limita somente com relação ao simbolismo das cenas em que os personagens estão sonhando com o protagonista, mas sim vai muito além dessa principal proposta. Ao ser visto nos sonhos por diversas pessoas, Paul começa a ser mundialmente conhecido, ao ponto de as pessoas fazerem de tudo para conhecê-lo e até mesmo ganharem algum dinheiro com isso. Portanto, o filme é uma crítica acida de pessoas que se tornam famosas da noite para o dia, mas sendo facilmente engolidas pelas grandes empresas da mídia e das redes sociais.

É claro que num primeiro momento Paul começa a se interessar em ser agora conhecido, principalmente pela chance de realizar alguns dos seus sonhos como lançar um livro. Porém, na medida em que cada vez mais adentra ao sistema cheio de regras, logo ele percebe que não é exatamente isso como ele queria. Ao mesmo tempo, essa situação o revela sendo alguém com defeitos, mas extremamente humano e não sabendo lidar com tudo isso.

É notório que o filme fale muito do próprio Nicolas Cage, que de grande astro do cinema dos anos noventa, passou a ser alguém decadente e atuando em cada vez mais em filmes dispensáveis. Porém, é alguém que nunca parou de trabalhar, tendo que lidar com todos os tipos de altos e baixos do estrelismo e tendo que conviver até mesmo com os cancelamentos virtuais. Portanto, o intérprete está mais do que a vontade atuando basicamente como ele mesmo, ao colocar para fora as suas dores emocionais que acumulou ao longo dos anos e construindo para si um personagem que enfrenta diversos dilemas deste nosso novo mundo.

Curiosamente, o filme ganha até mesmo ares de "Black Mirror", principalmente em seu ato final onde revela que sempre haverá alguém em querer se beneficiar com uma nova ideia de acordo com a situação e fazendo das pessoas unicamente peças controladas por algo extremamente maior. Em tempos em que todos desejam ser conhecidos por tudo e todos, o filme, por mais incrível que pareça, não foge muito da realidade. O que era ficção, portanto, se torna perigosamente cada vez mais real para dizer o mínimo.

"O Homem dos Sonhos" é um filme de humor sombrio, perturbador e que fala sobre as nossas obsessões cada vez mais loucas em sermos conhecidos nesta rede de informação interminável. 

Onde Assistir: Amazon Prime Vídeo e Apple TV.

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segunda-feira, 27 de maio de 2024

Cine Dica: Em Cartaz - 'Planeta dos Macacos: O Reinado'

Sinopse: Muitas sociedades de macacos cresceram desde quando César levou seu povo a um oásis, enquanto os humanos foram reduzidos a sobreviver e se esconder nas sombras.  

Desde que o clássico "O Planeta dos Macacos" (1968) estreou nos cinemas a sua história se expandiu por continuações, séries, desenhos e até HQ. A última trilogia comandada magistralmente por Matt Reeves se encerrou de forma digna, ao ponto que a ideia de continuar com novas histórias após o encerramento daquela história significaria um alto risco. Mas foi então que eles se arriscaram e assim veio "Planeta dos Macacos: O Reinado" (2024), filme que não possui exatamente um equilíbrio perfeito dos filmes anteriores, mas respeita o que já foi construindo e expandindo a ideia para novos rumos.

Dirigido dessa vez por Wes Ball, de "Maze Runner - Correr ou Morre" (2014), o filme se passa 300 anos após os eventos em que César levou o seu povo para uma terra tranquila, mas pagando com a sua própria vida. Nesta nova realidade, a sociedade dos macacos está dividida, sendo que o clã dos pássaros desconhece a história do grande líder que foi César. Porém, um outro grupo de macacos usa a história dele para se tornarem mais poderosos e fazendo com que a sociedade dos macacos se vê completamente dividida.

Embora possua um laço forte com relação a trilogia original, esse novo filme convida até mesmo aquele marinheiro de primeira viagem que nunca tinha visto nenhum capítulo da franquia. Os primeiros minutos, por exemplo, são eficazes para nos localizarmos na história e fazendo com que a gente foque as ações e consequências do protagonista Noa, vivido pelo ator Owen Teague. Noa é o típico personagem que participa da já conhecida "Jornada do herói", e do qual ele busca saber qual o seu verdadeiro papel dentro do seu clã.

Uma vez que acontece o embate entre os clãs é então que o filme ganha ares de um verdadeiro faroeste, aonde o protagonista vai em busca de seus amigos e famílias raptados e que fará de tudo para reavê-los. Curiosamente, é neste ponto que a obra me lembrou muito também “Apocalypto" (2006), épico de Mel Gibson e cuja jornada de ambos os protagonistas possuem certa similaridade e cuja razão e crença fazem parte dos ingredientes principais da história. É notório, por exemplo, que o nome César acabou sendo usado de forma errônea por outros clãs e se criando assim uma certa familiaridade com relação ao que as diversas religiões do mundo real fizeram ao promover as suas ideias retóricas com o nome de Cristo.

Curiosamente, o filme não é somente uma mera continuação da trilogia anterior, como também possui elementos familiares vistos no primeiro grande clássico lançado em 1968. Logicamente que há uma intenção desses novos filmes se conectarem cada vez mais ao filme original, mas desde que consigam obter uma identidade própria e se sustente individualmente. Embora esse capítulo consiga isso, por outro lado, se percebe uma preocupação por essa conexão, o que pode gerar um certo esgotamento de ideias, mesmo quando esse nível não chega ameaçar a obra como um todo.

O debate sobre o papel do ser humano e do macaco estão ainda muito presentes, ao ponto de que esse embate possa voltar a crescer novamente em uma eventual continuação. Essa observação é ainda mais fortificada principalmente com a presença da personagem Nova, vivida pela atriz Freya Allan e que consegue construir para a sua personagem uma carga de ambiguidade tão forte que nunca sabemos ao certo se devemos ou não confiar na sua real pessoa. Mas se por um lado ela carrega essa dúvida, do outro, o vilão proximus caesar, vivido por Kevin Durand, descarrega todo o seu lado megalomaníaco em querer obter a tecnologia dos humanos e fazendo dele sim um vilão escancarado ao longo da trama.

Embora o final feche de forma mais do que satisfatória, ao mesmo tempo, ela nos dá certos ganchos para uma eventual continuação. A meu ver, o estúdio terá que fazer trabalho redobrado para que essa nova trilogia nos convença, mesmo com os pontos positivos dessa nova história. Até aqui, a história não se repete, embora corra o risco de começar a adentrar no território de Déjà vu.

"Planeta dos Macacos: O Reinado" é um ótimo filme que respeita a trilogia anterior, mas ficando no ar a dúvida se irá ter força em continuar a franquia nas telas do cinema.  

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Cine Dica: CINEMATECA CAPITÓLIO RETOMA A PROGRAMAÇÃO

Toy Story

A Cinemateca Capitólio retoma a programação da sala de cinema nesta quinta-feira, 30 de maio, com a mostra Ao Sentido Comunitário. Com filmes produzidos entre os anos 1930 e 2020, a programação apresenta narrativas da vida partilhada em comunidades formadas em diferentes contextos. De Morro do Céu a Paris, do Kentucky a Havana, dos campos da Ucrânia ao interior do Irã, da periferia de Tóquio ao Vale do Taquari no Rio Grande do Sul; entre metrópoles, vilarejos, ilhas, aldeias, povoados, nas fazendas cooperativas e no corpo social das vizinhanças: o cinema encontra novos sentidos a partir das histórias que retratam a experiência comunitária.

Uma edição especial da Sessão Vagalume, projeto do Programa de Alfabetização Audiovisual que exibe filmes para crianças de todas as idades na Cinemateca Capitólio, exibe Toy Story, marco da animação dirigido por John Lasseter, nos dias 01 e 02 de junho.


PROGRAMAÇÃO COMPLETA:

https://www.capitolio.org.br/novidades/7311/ao-sentido-comunitario/


A renda da mostra será destinada ao projeto Futuro Audiovisual RS.


Sobre a iniciativa “Futuro Audiovisual RS”

https://www.futuroaudiovisualrs.com/

O ecossistema do audiovisual gaúcho, composto por instituições, produtoras, empresas da cadeia produtiva, fornecedores, profissionais e prestadores de serviço do audiovisual precisa agora, mais do que nunca, de um futuro para vislumbrar. Considerando este contexto, surge o movimento “Futuro Audiovisual RS”, uma iniciativa que reúne os principais agentes do audiovisual do estado em um movimento histórico de ajuda a centenas de profissionais do audiovisual que foram impactados pelas inundações de maio de 2024 no estado do Rio Grande do Sul.


DISTOPIA ITALIANA NO PROJETO RAROS

Nesta sexta-feira, 31/05, às 19h30, o Projeto Raros da Cinemateca Capitólio apresenta Os Exterminadores do Ano 3000 (1983, 90'), de Giuliano Carnimeo, exemplar icônico da onda italiana de filmes inspirados em Mad Max. Entrada franca. A sessão será apresentada pelo crítico e pesquisador Cristian Verardi. Entrada franca.


Mais informações: https://www.capitolio.org.br/eventos/7277/projeto-raros-os-exterminadores-do-ano-3000/


GRADE DE HORÁRIOS

30 de maio a 05 de junho de 2024


30 de maio (quinta-feira)

15h – O Pão Nosso

17h – O Sol Brilha na Imensidão

19h – Francisco, Arauto de Deus


31 de junho (sexta-feira)

15h – Terra

17h – Batismo Fatal

19h30 – Projeto Raros: Os Exterminadores do Ano 3000


01 de junho (sábado)

15h – Sessão Vagalume: Toy Story

17h – Onde Fica a Casa do Meu Amigo?

19h – Morro do Céu


02 de junho (domingo)

15h – Sessão Vagalume: Toy Story

17h – Terra

18h30 – PomPoko: A Grande Batalha dos Guaxinins


04 de junho (terça-feira)

15h – O Sol Brilha na Imensidão

17h – Morro do Céu

19h – O Pão Nosso


05 de junho (quarta-feira)

15h – Onde Fica a Casa do Meu Amigo?

17h – Francisco, Arauto de Deus

19h – O Crime de Monsieur Lange

sexta-feira, 24 de maio de 2024

Cine Especial: Revisitando 'A Queda da Casa de Usher'

Quando se pensa em Roger Corman logo vem em nossa mente o nome Edgar Allan Poe. Corman era fascinado pelos contos que o escritor havia escrito em sua curta vida, mas que foram os suficientes para entrar na história. Coube então ao realizador tomar um passo importante de sua carreira e que daria um papel relevante no cinema de horror norte americano.

No final dos anos cinquenta o estúdio inglês Hammer começou a se destacar ao levar para o cinema produções baseadas em contos clássicos de horror, começando por "A Maldição de Frankenstein" (1957) e "O Vampiro da Noite" (1958) e o resto é história. O estúdio deu novo fôlego ao gênero de horror, ao inserir cores, sangue e um grau de violência até então inédito para aquela época. Não demorou muito para que algum estúdio entrasse nesta briga para obter uma fatia desse sucesso e neste caso foi o estúdio norte americano "American International Pictures".

Conhecida por produções em preto e branco e de baixo orçamento, o estúdio obteve revitalização quando Roger Corman se tornou um dos seus produtores, mas a intenção do realizador era também roteirizar e ao mesmo tempo dirigir algumas produções. Tendo uma predileção pelos livros de Edgar Allan Poe, o realizador e o estúdio decidiram investir todas as suas fichas em "A Queda da Casa de Usher" (1960), talvez a primeira e grande produção do estúdio, contendo todo um cuidado perfeccionista e que somente Corman poderia idealizá-lo. Sucesso de público e crítica, o filme foi o primeiro de muitas produções que Corman levou ao cinema baseado nas obras de Edgar Allan Poe.

A trama é sobre um jovem chamado Philip Winthrop (Mark Damon), que viaja até a Casa dos Usher, uma mansão sinistra e isolada em um grande pântano. Lá, ele pretende encontrar a sua noiva Madeline Usher (Myrna Fahey), para levá-la de volta a Boston e se casarem. Porém, o irmão de Madeline chamado Roderick (Vincent Price), insiste para que ela se mantenha na mansão, já que ela se encontra doente, mas há um segredo que envolve a sua família além da mansão e resultando em situações sinistras.

Rodado em apenas 15 dias, Roger Corman demonstra total paixão pela obra de Poe em cada cena em que ele dirige, cujo perfeccionismo é sentido, mesmo tendo sido tudo rodado em pouquíssimo tempo. Com cores dos tempos de technicolor, o filme ganha um patamar maior visualmente, como se o vermelho, por exemplo, visto nas roupas exalasse sangue e fazendo a gente se preparar psicologicamente. Falando nisso, por mais que visualmente o filme seja algo já visto naquela época, a produção se diferenciava dos demais, ao nos entregar uma trama em que o principal monstro poderia ser a própria mente doentia de alguns dos protagonistas.

Era o início dos anos sessenta, onde o suspense e o horror estavam mudando e revelando uma nova faceta do gênero. Era o início de tempos questionadores, onde o monstro talvez não viesse da Transilvânia, mas sim das próprias ações do ser humano. Alfred Hitchcock, por exemplo, construiu uma carreira de suspense em que o sobrenatural não tinha o seu espaço e "Psicose" (1960) foi o início dessa tendência para época e o resto é história. Pode-se dizer que "A Queda da Casa de Usher" transite para os dois lados, sendo que por um momento parece que há algo de sobrenatural naquela casa, mas o lado psicológico se sobressai logo em seguida.

O fator primordial para isso é a presença de Vincent Price, ao construir para o seu Roderick um personagem enigmático, cuja suas ações nós questionamos já de início, pois não sabemos ao certo se há alguma lógica no que ele diz referente a Mansão e a sua irmã, ou se tudo não passa de algo vindo de uma mente fragmentada. Price já era conhecido na época por estrelar filmes de horror como "Museu de Cera"(1953), mas foi a partir dessa produção de Roger Corman que ele se tornaria conhecido como astro dos filmes de horror por um longo tempo. A partir desse filme Price atuaria em quase todas as produções baseadas na obra de Edigar Allan Poe, como no caso de "O Corvo" (1963) e A Mansão do Terror (1961).

Na medida em que a trama avança tudo começa a ficar cada vez mais complexo, onde não sabemos ao certo se tudo é uma grande armação de Roderick, ou se há algo de peculiar, seja na mansão, ou com relação a sua família. O ato final se encaminha para momentos até mesmo pesados para época, onde a loucura, violência e o sobrenatural(?) se fundem como um todo e fazendo do cenário principal algo insuportável. Embora os minutos finais possam soar convencionais isso não tira o brilho do resultado da produção, mesmo quando nos passa a sensação de que ela poderia ir mais longe do que se imagina.

"A Queda da Casa de Usher" é a união inventiva e cinematográfica de Roger Corman com o lado mais sombrio e enigmático de Edgar Alan Poe e cuja união mudaria uma parte da história do cinema de horror norte americano. 

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quinta-feira, 23 de maio de 2024

Cine Dica: Em Cartaz - 'La chimera'

Sinopse: Apaixonado por arqueologia, o inglês Arthur radicou-se na Toscana. Neste território repleto de tumbas etruscas, ele acaba fazendo seu ganha-pão do saque de antiguidades que encontra nelas. 

O tempo destrói tudo e cabe mantermos os fragmentos para que a história seja contada. Porém, é interessante observar que a própria história pode servir de lucros para alguns, pois estes não conseguem manter a sua própria história que se vai aos poucos ao vento. "La Chimera" (2023) fala sobre o indivíduo comum se aventurando por relíquias antigas, mas tendo que encarar de frente as suas consequências.

Dirigido pela cineasta italiana Alice Rohrwacher, a trama se passa na zona rural da Toscana da década de 1980, O protagonista Arthur (Josh O’Connor) é um jovem arqueólogo que uni forças com um grupo de ladrões para escavar e obter relíquias antigas para obterem algum lucro. Mas é através dessa atividade que Arthur busca pela sua amada desaparecida, nem que para isso tenha que atravessar até mesmo crenças da mitologia grega.

Alice Rohrwacher parece buscar inspiração na realização do seu filme, já que a obra se inicia com o rosto da amada do protagonista olhando para a câmera, como se quase quebrasse a quarta parede, para logo em seguida entendermos que o protagonista está sonhando com ela. Essa passagem me lembrou alguns dos melhores momentos do clássico francês "O Demônio das Onze Horas" (1965), do mestre Jean-Luc Godard e cujo mesmo fazia uma trama que nos conduzisse a um cenário, por vezes, surreal para dizer o mínimo. É o mesmo que acontece com Arthur, principalmente na abertura do filme, onde ele acorda dentro do trem e nos dando a impressão de que ele não está realmente acordado no mundo real.

O mundo real, por sua vez, é um tanto sujo e retorcido do qual ele convive, principalmente na pequena casa que ele ergueu e para assim colecionar as antiguidades que ele vai encontrando no meio do percurso. Arthur se vê totalmente deslocado naquele ambiente, mesmo quando existe pessoas que buscam alinhá-lo ao mundo em que vive. Se por um lado há os antigos colegas que buscam um meio de levá-lo novamente a escavar tumbas, do outro, a jovem Itália se torna uma espécie de razão indireta para que Arthur busque um caminho mais coerente para trilhar e quem sabe encontrar o amor que tanto procura.

Alice Rohrwacher busca retratar uma Itália rica, festiva e colorida dos anos oitenta, mesmo quando as adversidades se encontram latentes em cena. Arthur por sua vez age como observador dessa realidade, como se ela não fosse exatamente coerente e somente buscando algum sentido no momento que busca algo precioso. Em meio a esse percurso é curioso quando ele e seus demais colegas encontram uma estátua valiosa, mas revelando o lado ambicioso daqueles que veem nisso somente algo para gerar lucro. Em contrapartida há uma sensação mórbida, de que há algo que jamais poderia ser violado e fazendo com que Arthur perca ainda mais o seu rumo.

Josh O'Connor constroi para o seu personagem alguém que nos transmite uma certa inocência perante o mundo em que vive, mas não escondendo certa ambição pelo desejo em alcançar o que realmente quer. Já a nossa Carol Duarte se sai bem como uma espécie de equilíbrio emocional para Arthur e não somente um possível novo relacionamento, já que ele se encontra em uma cruzada que pode-lo levá-lo até mesmo em um cenário desconhecido. Esse por si só já nos deixa com mais perguntas do que respostas.

O ato final é cheio de simbolismo, desde para aqueles que nutrem de certas crenças, como também para aqueles que apreciam diversas teorias cinematográficas. A meu ver, Alice Rohrwacher busca uma forma de nós mesmos tirarmos as nossas próprias conclusões, muito embora haverá pessoas que não estejam muito dispostas para isso, mas sim que a conclusão fosse mais bem explicada. Ao menos o filme nos guia para esse desafio e para alguns cinéfilos como eu aceitam de bom grado.

"La chimera' nos conduz a uma odisseia improvável de um protagonista que busca por algo precioso, mas não sendo exatamente o que nós imaginamos.    



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