sexta-feira, 29 de março de 2024

Cine Especial: Próxima Sessão do Clube de Cinema - 'Dias Perfeitos'


Segue a programação do Clube de Cinema no próximo final de semana. Teremos sessão no sábado, 30 de março, às 10:15 da manhã na Cinemateca Paulo Amorim. Mais abaixo, confira a minha crítica.   


SESSÃO DE SÁBADO CLUBE DE CINEMA

Local: Sala Eduardo Hirtz, Cinemateca Paulo Amorim, Casa de Cultura Mario Quintana

Data: 30/03/2024, sábado, às 10:15 da manhã


"Dias Perfeitos" (Perfect Days)

Japão / Alemanha, 2023, 125 min, 14 anos

Direção: Wim Wenders

Elenco: Koji Yakusho, Min Tanaka, Arisa Nakano, Tokio Emoto

Sinopse: Hirayama vive em Tóquio e é responsável pela limpeza de vários banheiros públicos. Além do trabalho modesto, ele preenche seus dias com a paixão pela música, pelos livros e pela fotografia de árvores. Hirayama parece perfeitamente feliz com sua rotina metódica, mas alguns encontros inesperados trazem revelações surpreendentes sobre o passado do protagonista. O filme estreou no Festival de Cannes, onde recebeu os prêmios do júri ecumênico e melhor ator para Koji Yakusho, e foi um dos cinco indicados ao Oscar de filme internacional.


Sobre o Filme: Wim Wenders possui uma sensibilidade na construção sobre a jornada dos seus personagens, sendo que eles sempre estão em uma busca constante por algum objetivo e obtendo na reta final o que estavam, enfim, procurando. Se em "Paris Texas" (1984) vemos o protagonista buscar uma reconciliação com a sua esposa, do outro, em "Asas do Desejo" (1987) um anjo não descansa até descobrir os significados do que é ser um ser humano. "Dias Perfeitos" (2023) vemos um protagonista não em busca de algo, mas sim buscando seguir em frente em meio ao ritmo constante de uma grande metrópole.

Na trama, acompanhamos a história de Hirayama (Koji Yakusho), homem que vive sua vida de forma modesta como zelador e limpando banheiros em Tóquio. Porém, o filme revela uma outra faceta de sua pessoa, desde ao fato dele ser um apreciador por músicas, livros e fotos que ele tira de arvores ao longo do tempo. Porém, no decorrer da trama, determinados personagens fazem com que a sua rotina mude um pouco, mas jamais impedindo de ser ele mesmo.

Feito em apenas 17 dias de filmagem, Wim Wenders surpreende ao nos transmitir para nós uma produção modesta, da qual a ficção transita por momentos quase documentais, pois está diante de nós a Toquio, a grande metrópole que nunca dorme e que sempre se encontra em movimento constante. Hirayama, por sua vez, procura sempre manter a sua rotina de trabalho como limpador de banheiros, mas fazendo da tarefa algo que o faça aproveitar dos vários detalhes do que nos faz humanos. Pelo seu olhar, por exemplo, notamos que ele tem uma predileção em observar ação e reação das pessoas, como elas se diferem de sua vida.

Através do protagonista, Wim Wenders faz uma curiosa análise sobre a sociedade atual, da qual todos nós vivemos na mesma terra, mas nos passando a sensação que cada um convive com a sua própria realidade particular e não se importando com que o próximo pensa. Se o protagonista leva o seu trabalho a sério, do outro, testemunhamos o seu jovem colega consumido pela tecnologia do celular, pela obsessão em busca do dinheiro fácil e para assim obter uma noite de prazer com uma jovem garota que ele acabou conhecendo. Enquanto o protagonista sempre tem o prazer de apreciar e registrar o céu, por outro lado, vemos essa nova geração cada vez mais alienada e sem nenhum rumo concreto na vida.

Não faltam momentos ricos da trama onde vemos Hirayama não se envergonhando ao não ter nenhum conhecimento sobre as novas tecnologias, mas sendo alguém acima dessa geração que nem ao menos sabe o que é uma fita cassete hoje em dia. Neste último caso, por exemplo, isso é sintetizado quando surge em cena a sua sobrinha, sendo duas pessoas ligadas pelo sangue, mas desconhecendo as realidades de cada um. É através desse atrito de gerações que só então conhecemos um pouco sobre o passado do protagonista, mas cuja informações ficam somente na superfície e fazendo com que cada um tire as suas próprias conclusões.

É bem na verdade que Wim Wenders criou um protagonista universal, do qual a gente se identifica pela sua rotina, mas que sabe saborear a vida e desfrutar de cada minuto dela. É claro que a solidão bate as vezes a nossa porta, mas basta a gente parar para sentir e ouvir o seu próximo para que então possamos obter ainda um maior significado para continuarmos existindo e aproveitando esse mundo. Portanto, a cena final é emblemática, pois vemos o protagonista se entregar aos seus sentimentos contidos, para só assim então ele se sentir mais leve e tomar o seu rumo inconclusivo.

"Dias Perfeitos" é um dos mais belos filmes do ano, ao nos dizer que o mundo em nossa frente espera pela nossa atenção e, portanto, está mais do que na hora de voltarmos a olhar para o céu. 

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